Desafio Universitário

Momentos de crise ensinam. Ou, pelo menos, forçam a busca por alternativas e obrigam a repensar estratégias. É assim que as instituições do ensino superior privado brasileiro estão passando pela recessão econômica e pela míngua do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). Gestores das faculdades de todo o Brasil estão refazendo os cálculos e precisam sentar novamente nos bancos dessa escola chamada instabilidade para (re) aprender a lição do crescimento sustentável. O segmento que representa 1% de tudo que é produzido no Brasil (Produto Interno Bruto – PIB) e emprega mais de 400 mil pessoas no país hoje tem enfrentado quedas nas matrículas que chegam a 10% (2017) e expectativas de nova redução de 5% neste ano, segundo o Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp). Para a maioria das instituições, porém, o cenário é antes de tudo um desafio, uma oportunidade. E quem busca a formação superior tem novas possibilidades no horizonte.

A nova matemática do ensino superior privado

 

Uma em cada duas vagas nas universidades e faculdades brasileiras está vazia neste momento ou sequer foi ocupada. Esse quadro também é observado em Pernambuco, sétimo lugar no ranking 2018 de ociosidade no Brasil, segundo dados da plataforma Quero Bolsa, que oferta desconto para os estudantes e ajuda as faculdades a preencherem essas vagas.

O cenário começou a ser desenhado com a redução do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que caiu de 731 mil créditos, em 2014, para 315 mil, já em 2015, e vem sendo reduzido ano a ano. O Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) corrobora o fato com dados de 2010 a 2016, que mostram uma variação de vagas ociosas no ensino superior entre 35% e 49% durante o recorte. Esse índice só chegou a 26%, recorde mínimo, em 2014, mesmo ano em que o Fies teve seu ápice de financiamentos.

Além disso, as instituições de ensino superior privadas enfrentam também os reflexos da crise econômica que atinge o país há cerca de três anos. Fatores que têm obrigado os gestores a estudar os caminhos para retomar o crescimento. Até agora, as soluções passam por financiamentos próprios, ensino à distância, aulas práticas, fusões e o ajuste das demandas com o mercado de trabalho.

Especialistas apontam ainda a formação de redes entre instituições e o crescimento das universidades corporativas como alternativas para o desaquecimento do segmento. O que é claro, porém, é a necessidade de trabalhar para reverter a falta de aproveitamento das vagas disponibilizadas nas instituições de ensino superior privadas do Brasil. De forma mais emergencial, o setor tem que lidar com uma queda de 10% nas matrículas, em 2017, expectativa de queda de 5% neste ano e perspectivas incertas para 2019.

“O principal desafio dessas instituições é conquistar os jovens brasileiros, um público-alvo de quase três milhões de consumidores, mantendo a qualidade do ensino”, avalia Rodrigo Capelato, economista e diretor do Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp). “Apenas 18% dos jovens de 18 anos a 24 anos estão no ensino superior no Brasil. No Plano Nacional da Educação (PNE), produzido pelo Ministério da Educação (MEC), o objetivo é colocar 33% dos jovens brasileiros em uma graduação. Então, existe um público consumidor potencial de dois a três milhões de jovens no Brasil que está fora das faculdades”, afirma.

Nesse ponto, Capelato acredita que o setor precisa se perguntar o motivo que justifica o não ingresso de estudantes no sistema. “Porque 80% desse público não têm oportunidade ou porque recebe menos de três salários mínimos e, agora, está fora até do Fies. Tem também muitos jovens que vêm de um ensino básico sem qualidade.”

Pedro Balerine, diretor de inteligência de mercado da Plataforma Quero Bolsa, que busca vagas ociosas e propõe descontos para atrair alunos e preencher o vazio, acrescenta que algumas faculdades tinham 70% dos alunos vinculados ao Fies, como o grupo educacional Kroton, e, com a queda no número de financiamentos, sentiram os reflexos no quantitativo de alunos. Resultado: optaram por enxugar o quadro de funcionários para reduzir o peso dos custos, mas essa solução não foi suficiente. “Muitos demitiram, mas não há possibilidade de reduzir a capacidade instalada. E agora? Não há uma solução única. O caminho vai ser diferente para cada instituição e vai englobar mais de uma opção como financiamentos próprios, bolsas e educação a distância”, opina.

Os financiamentos próprios, porém, não são a solução na opinião de Capelato. “Não resolve de forma sustentável a questão”, argumenta. Já Saumíneo da Silva Nascimento, superintendente-geral do Grupo Tiradentes (Universidade Tiradentes, Facipe, Faculdade São Luís de França e Faculdade de Medicina de Pernambuco), acredita que a mobilização pelo financiamento à educação é uma oportunidade real para transformar o ensino superior no Brasil. “Muitos necessitam estudar, porém as condições de renda desses inviabilizam o acesso à educação privada que complementa com o setor público a oferta de cursos para as demandas da sociedade. Vejo esse momento como a chance dos bancos serem protagonistas e apresentarem um modelo que atenda a esse grande público e ocupe o espaço deixado pelo Fies.”

Dados das graduações particulares no Brasil

Ano Vagas abertas Vagas ociosas Percentual
2010 3.120 1.530 49%
2011 4.453 2.107 47%
2012 4.653 1.906 40%
2013 5.068 2.326 45%
2014 6.345 1.702 26%
2015 6.142 2.362 38%
2016 7.873 2.769 35%

Fonte: INEP

Ranking de ociosidade/2018

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Ociosidade em Pernambuco

Cerca de 53,8%

 

Média nacional

52,9%

 

Vagas Ociosas/Processo seletivo – Presencial – Brasil

2013 48,7%
2014 42,2%
2015 53,8%
2016 59%

Vagas Ociosas/Processo Seletivo – EAD – Brasil

2013 72,2%
2014 76,3%
2015 73,9%
2016 80,5%

Fonte: Semesp

Quadro de soluções

A Educação a Distância (EAD), por sua vez, já está sendo adotada pela maioria das instituições, mas não como a solução para atrair os mais jovens. Rodrigo Capelato, diretor do Semesp, revela que os cursos EAD atraem, na verdade, pessoas acima dos 24 anos.


Capelato, do Semesp,
aponta caminhos

“Um dos cursos mais procurados é pedagogia, por exemplo, que é escolhido por pessoas que já têm uma licenciatura e querem melhorar sua qualificação”, comenta. O modelo mais atrativo aos jovens e já uma tendência atual, segundo Capelato, é misturar o presencial e o EAD, com uma carga horária com ambos.

Na questão das fusões, processo que teve um crescimento expressivo nos últimos anos, o gestor do Semesp acredita que é um caminho interessante, uma vez que gera um padrão mínimo de qualidade nas menores, mas indica que uma outra opção que deve ser considerada pelas marcas locais: a formação de cooperativas. “Isso também já é uma tendência, as pequenas trabalharem em rede, compartilhando informações, capacitações e metodologias. Já existem 13 consórcios desse tipo no Brasil, incluindo instituições do Nordeste, e isso deve crescer nos próximos anos”, afirma.

Um caminho importante para despertar o interesse dos estudantes e, consequentemente, colaborar para a recuperação e diminuição da ociosidade no setor, na avaliação de Capelato, é a adoção de aulas práticas com mais regularidade no currículo. “O aluno quer se ver no campo prático o quanto antes. Então, além de atrair estudantes, as aulas práticas diminuem o abandono. Um modelo mais recente é o de faculdades fazendo parcerias com empresas para receber esses alunos ou capacitar funcionários. Isso é o presente e o futuro do setor.”

 

MEC responde

Questionado sobre as atuais taxas de ociosidade, o Ministério da Educação respondeu por nota afirmando que cabe a ele verificar as condições objetivas da instituição para o atendimento com qualidade dos quantitativos oferecidos. “Para isso, existem os processos de avaliação periódicos. (…) o ônus da manutenção de uma estrutura de instituição superior com vagas ociosas é das próprias instituições, mas, a recente edição do decreto 9235/2017 está contribuindo para aprimorar a adequação das instituições às realidades atuais das demandas por vagas em cursos superiores, uma vez que tornou menos burocrático o procedimento para que as próprias faculdades ajustem suas informações sobre eventuais decisões de redução de vagas originalmente autorizadas em seus cursos.” O texto também esclarece que toda a regulamentação do MEC considera a infraestrutura, os projetos pedagógicos, a composição do corpo docente e a responsabilidade social da instituição, entre outros.

Pernambuco é o sétimo estado no ranking de ociosidade brasileiro. Ou seja, de cada 10 vagas nas universidades públicas e privadas brasileiras, cinco não estão ocupadas.

 

Cinco cursos com maior número de alunos matriculados: Direito, administração, pedagogia, engenharia civil e ciências contábeis.

36,72%

dos universitários brasileiros os estudantes desses cinco cursos representam

 

No Recife, o valor médio cobrado em cada um dos cursos no 1o semestre de 2018 é de:

R$ 1.027

DIREITO

R$ 994

ENGENHARIA CIVIL

R$ 930

ADMINISTRAÇÃO

R$ 704

CIÊNCIAS CONTÁBEIS

R$ 426

PEDAGOGIA

Fonte: Quero Bolsa

 

FIES

2010 a 2014:

O fundo cresceu quase 1.000% – passou de 76 mil a 732 mil vagas

De 2015 a 2017:

Queda drástica, chegando a apenas 100 mil vagas

De 2010 até 2017:

o orçamento do fundo foi de R$ 82,59 bilhões, com um total de 2,56 milhões de contratos

Número de vagas disponibilizadas pelo Fies nos últimos anos:

2010 – 76,2 mil
2011 – 154,3 mil
2012 – 377,8 mil
2013 – 560 mil
2014 – 731,3 mil
2015 – 315 mil
2016 – 220 mil
2017 – 225 mil
2018 – 300 mil (previsão)

Fonte: FNDE

Exemplos aprovados

Dentro das possibilidades de financiamento próprio oferecidas pelas universidades, há exemplos que têm se destacado. O Financiamento Estudantil Facilitado (Fief), crédito próprio da Facipe, criado em 2017, é um caso. Segundo Saumíneo da Silva Nascimento, superintendente-geral do Grupo Tiradentes, apenas no primeiro semestre de 2018, o crescimento de efetivação de contratos do Fief foi de 41%. O aumento da busca por crédito também tem sido surpreendente para Marcelo Lima, diretor de relações institucionais da plataforma de crédito Quero Bolsa. De acordo com o gestor, a efetivação de contratos, desde 2014, cresce 100% ao ano. “Desde 2014, a gente dobra de tamanho a cada ano e isso é reflexo direto da queda do Fies”, avalia.

O Quero Bolsa foi criado em 2012 e é uma plataforma que busca faculdades, avalia as vagas ociosas e propõe descontos para atrair alunos e preencher o vazio nas salas. Os descontos acordados são oferecidos no site e preenchidos por oportunidade, ou seja, quem primeiro preencher os requisitos é contemplado. A plataforma recebe, então, a primeira mensalidade de todos os contratos. Neste semestre, apenas em Pernambuco, estão sendo oferecidas mais de 30 mil bolsas em 33 faculdades privadas. Válido até o final do curso, o benefício pode chegar a 80% de desconto para graduação e pós-graduação, presencial e a distância (EAD).

Entenda as mudanças do Fies

 

FIES 1 (sucede o modelo até então vigente)

destinado para estudantes com renda familiar de até três salários mínimos per capita, tem taxa de juros igual a zero, carência com prazo de até 18 meses após a conclusão do curso

 

FIES 2 (uma das novas modalidades)

destinado a estudantes com renda familiar de até cinco salários mínimos per capita, irá utilizar as taxas de juros dos empréstimos dos fundos regionais (taxas abaixo das que são praticadas no mercado – em função da origem dos recursos)

 

FIES 3 (também novo)

destinado para estudantes com renda familiar de até cinco salários mínimos per capita, tendo como fonte os recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que serão repassados para todos os bancos que operacionalizam com o BNDES. Taxas mais próximas às do mercado

Possibilidades de financiamento e/ou descontos em Pernambuco

Quero Bolsa

Descontos de até 80% na mensalidade com validade até o final do curso

www.querobolsa.com.br

Educred

Carência: O aluno começa a pagar o crédito após a conclusão do curso ou após o trancamento ou cancelamento do mesmo
Taxas: Correção anual através do IPCA

Financiamento Estudantil Facilitado (FIEF)

Carência: Seis meses para o início do pagamento de 50% da mensalidade
Taxas: Correção anual pelo IPCA

PraValer

Carência: O pagamento é iniciado após a contratação e um semestre pode ser pago em no mínimo 12 parcelas. A contratação é feita semestralmente.

www.portalpravaler.com.br

Parcelamento Estácio (PAR)

Carência: Em um curso de quatro anos, por exemplo, o estudante terá mais quatro anos para pagar o restante dos valores. Durante esse período, vai incidir a correção monetária pelo IPCA. O estudante deve começar a pagar 30 dias após a conclusão do curso, mas existe uma carência de 18 meses
Taxas: Variam de acordo com o contrato, mas a cada trimestre será cobrado o valor de R$ 150 referentes a juros

FinanciaFácil

Carência: A partir de 30 dias da conclusão do curso
Taxas: O pagamento será no valor da mensalidade vigente na data de pagamento e, por isso, as taxas irão variar conforme o tempo de conclusão de curso

Bradesco

Carência: O próximo semestre só começa a ser pago no banco quando o aluno termina de pagar o semestre anterior. Assim, um curso de quatro anos será pago em oito anos. Vencimento da 1o parcela em 30 dias após a contratação
Taxas: A taxa de juros poderá ser de zero até 2,56% ao mês, dependendo do acordo de negociação entre banco e Instituição de Ensino

Fundacred (Antigo Aplub)

Carência: Após doze meses da conclusão do curso, o estudante beneficiado inicia o reembolso dos valores emprestados
Taxas: O valor da dívida será atualizado até o mês de reembolso de cada parcela, tomando como base de cálculo o valor da anuidade ou semestralidade vigente (a dívida é paga sobre a mensalidade atual). Sobre o valor de cada parcela de reembolso, é acrescido o percentual de 0,35% ao mês, calculado entre a data do contrato e a data do efetivo pagamento da parcela, destinada ao fundo de administração

Educação a distância no quadro de estratégias

O Brasil mostrou nos últimos anos que um problema conjuntural pode revelar necessidades. Na educação tem sido assim. Com a redução do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) e a crise no orçamento familiar, os cursos superiores das instituições privadas por meio da modalidade a distância ficaram mais atrativos por, historicamente, possuir um tíquete médio mais vantajoso ao aluno. A questão avançou quando o estudante mostrou que as tecnologias precisam ser mais que “acessórios” da educação superior. Tanto que as universidades que ainda não implantaram uma estrutura de Educação a Distância (EAD) têm a modalidade no seu horizonte. Pernambuco, inclusive, além de três faculdades que possuem o modelo com conteúdo próprio, vem recebendo polos e terceirizando a oferta de cursos por aqui. A EAD, portanto, deixa de ser uma solução de custo para se tornar uma escolha do aluno, que não aceita mais “aquelas 20 páginas de livros na copiadora”. Para as faculdades, a EAD não se torna um tratamento para a crise, mas uma estratégia de ensino e negócio.

O movimento em torno desse modelo de ensino vem aparecendo. Números do Ministério da Educação (MEC) mostram que a EAD elevou em 290% o número de matrículas na última década, encerrada em 2016 (último censo), e projeta para daqui a cinco anos a grande virada, quando o Brasil terá mais alunos matriculados na modalidade a distância no comparativo ao modelo de cursos presenciais.

De acordo com o professor George Bento, coordenador da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e que responde pelos cursos a distância da Faculdade de Olinda (Focca) e Faculdade São Miguel (FSM), a velocidade da introdução de tecnologias na educação é mais lenta. “De todas as revoluções tecnológicas, a educação é uma das últimas beneficiadas. Hoje, não se manda mais carta, não se lê só o jornal impresso, não se entende um banco sem o internet banking. Mas se eu te disser: vamos fazer um curso universitário pelo celular, vai impactar, mesmo sendo possível. É possível, sim, inclusive a parte prática, dependendo do curso”, adianta.

Segundo ele, o que se debate hoje é que o foco do ensino sai do professor à frente de um tradicional quadro para um modelo no qual o estudante é o elemento central da aprendizagem, dentro de um processo de metodologias ativas. “A responsabilidade de aprender é do aluno. O professor media, ajuda, mas a responsabilidade é do aluno. Essas metodologias são discutidas e adotadas em muitas instituições. Essa geração não aceita ter que ler 20 páginas de um livro na copiadora e só. As informações estão em todos os lugares, no celular, numa reportagem, num post de rede social. É a reinvenção do papel do professor, que já tem experiência, mas precisa de multimeios didáticos ou então vai ter dificuldade com esses estudantes”, explica.

É nesse contexto que surge a educação a distância. “Nome, inclusive, que não nos favorece”, observa o professor. “Traz preconceito por ser ter a base nos cursos por correspondência, mas o online de hoje não tem nada de distante. Eu estou o tempo todo acessível, interação completa nos fóruns, nos e-mail e plataformas de comunicação do ambiente virtual. Como posso estar distante?”, questiona.

Tanto é que a média de idade das pessoas que aderem ao modelo de EAD para fazer graduação é de 31 anos a 40 anos, maior que a do presencial, geralmente realizado por recém-formados no ensino médio.

Mercado amplia oferta

 

A oferta de cursos na modalidade a distância tem entendido esse sinal, mas quer se tornar atrativa a diversos perfis, porque a demanda vai pedir. Na Universidade Salgado de Oliveira (Universo), no Recife, por exemplo, a EAD iniciou como uma forma de atender aqueles que não conseguiam aderir e concluir um curso presencial. Agora, a coordenação do setor se volta para uma estratégia que mostre a modalidade como a ideal para o mercado. Além disso, o polo pernambucano se posiciona como o centro na oferta de cursos para todo o Nordeste, exceto à Bahia. Outros grupos também têm apostado no modelo como inserção em regiões onde as faculdades físicas não chegam.

Segundo a professora Maria José Arruda, subgerente do departamento de Ensino a Distância campus Recife da Universo, é fato que o preço atrai e é um dos instrumentos na captação dos alunos, mas o processo de evolução na metodologia tem colocado a EAD como um forte produto na oferta de cursos universitários, sendo a escolha de quem precisa ou quer especificamente esse formato.

“A gente percebeu a migração de alunos para a educação a distância por motivos financeiros, seja por restrição de orçamento ou declínio do Fies. A diferença na mensalidade chega a ser muito grande em alguns cursos. Então a gente percebe que a escolha foi via preço. Para se ter ideia, o curso de administração presencial tem mensalidade de R$ 1,4 mil. No modelo EAD, é R$ 275 por mês”, explica. “O que a gente percebe, porém, é que mudou aquela ideia de que EAD é mais fácil por ser mais barato. A gente oferece cursos que têm a mesma carga horária, o mesmo período de tempo e com as mesmas disciplinas e obrigações dos cursos presenciais. Tanto que, no começo, lá em 2006, a gente tinha 16 alunos em quatro cursos e metade desistiu porque não se adaptou. A verdade é que não é mais fácil. Exige mais disciplina e responsabilidade porque é você quem precisa decidir”, pontua.

Hoje a Universo é o polo regional da educação a distância do grupo. Ela oferece 15 cursos, com conteúdos produzidos na unidade central de Niterói, no Rio de Janeiro, e liberados no ambiente virtual de alunos matriculados em todos os estados do Nordeste, exceto na Bahia, onde também há um polo.

“Para isso, a gente utilizou parte da estrutura da Universo presencial. Laboratórios foram montados exclusivamente para eles, caso não tenham as condições em casa ou no trabalho para realizar o curso, inclusive com tutores para esclarecimentos de dúvidas técnicas”, detalhou.

O grupo Kroton também abriu os olhos para a EAD e escolheu Pernambuco para instalar polos da Faculdade Pitágoras em Jaboatão dos Guararapes e Belo Jardim. O grupo não divulga investimentos, mas revelou que a modalidade se mostrou forte no enfrentamento à crise recente, além de um plano de entrar forte na captação de alunos. Para se ter ideia, só em cursos superiores, o grupo Kroton possui mais de 580 mil alunos nos mais de 1,2 mil polos de EAD. Somente para Jaboatão, a expectativa é ter 19 mil matrículas.

Joel Oliveira Gomes, diretor de operações de expansão da Kroton, acrescenta que hoje essa é considerada a modalidade que mais cresce no Brasil, por alcançar regiões que até então não contavam com instituições de ensino superior, estimulando empregabilidade e desenvolvimento em locais mais distantes dos grandes centros do país.

“Jaboatão dos Guararapes foi escolhida para receber a Faculdade Pitágoras nesse contexto, principalmente por ser uma cidade que faz parte de uma região com grande potencial para o oferecimento de uma educação reconhecida e de qualidade”, explica.

Dados da Educação a Distância

 

De acordo com o MEC, a média de idade de alunos de educação a distância é de

31 anos a 40 anos

De 2006 a 2016 (último censo), as matrículas em cursos universitários na modalidade a distância cresceram 297,3%, atingindo

818 mil alunos

No presencial, são

1,6 milhão de matrículas

De 2015 para 2016, a EAD aumentou

72% em matrículas

No mesmo período, as matrículas no ensino presencial apresentaram

1,2% de queda

Estudo da Abmes prevê que, em 2023, serão mais de 2 milhões de matrículas em EAD, o que vai representar

51% dos alunos

da educação Superior no Brasil

Não há número oficial do tíquete médio, mas a Abed estima que a mensalidade de curso a distância é cerca de

20% mais barata

 

Cursos:

Pernambuco possui apenas três faculdades que oferecem cursos a distância com conteúdo próprio: Uninassau, Faculdade São Miguel e Focca

As demais são um polo de universidades de fora do estado, que utilizam conteúdo produzido pelas sedes

 

Acesso:

3%

das vídeo-aulas dos cursos são assistidas na televisão de casa

56%

são vistas no smartphone

 

Ranking dos cursos em EAD:

1 – administração
2 – pedagogia
3 – gestão em recursos humanos

 

Curiosidade:

duas personalidades famosas mundialmente fizeram cursos a distância:

1 – Mahatma Gandhi
2 – Nelson Mandela

Ambos cursaram o curso de direito. Mandela não concluiu porque estava preso na época das provas finais

Fonte: MEC/Abed/Abmes

 

Alunos têm motivos diferentes para aderir

Maria Elizabete de Vasconcelos Para Maria Elizabete, graduação na modalidade a distância exige aluno ativo

Enfrentar um curso universitário é uma missão, a priori, individual. Condições favoráveis e adversas aparecem para cada estudante também de forma particular, ou seja, cada um sabe a melhor forma de cumprir obrigações de forma que sejam atendidos todos os anseios de aprendizagem. Escolher por um curso a distância segue o mesmo rito. Quem escolhe EAD pode querer praticidade, flexibilidade e melhores formas de abordagem a conteúdos, como também necessidade e preço. Assim como as vantagens, outros precisam, ainda, enfrentar um ultrapassado preconceito em relação ao modelo de ensino no mercado de trabalho.

Sarah Jordanna Siebra, de 32 anos, está na média de idade dos alunos de EAD. Ela cursa administração de empresas, depois de não ter gostado de estudar pedagogia no modelo presencial.

“Eu escolhi a distância pela comodidade e, principalmente, pela organização. Eu estou fazendo um trabalho de estatística agora e posso parar para fazer o jantar e voltar em seguida. Essa flexibilidade, para mim, é um ganho importante para conseguir estudar”, pontuou. Segundo ela, a dinâmica do curso a distância favorece. “Eu me adapto melhor ao formato de ter que dar conta de uma disciplina por mês, em vez de me dividir entre seis matérias por semestre. Porque eu consigo focar em uma matéria e me aprofundar. Outro ganho para mim”, pontua.

“Além disso, que faculdade eu conseguiria assistir às aulas às 23h ou a meia-noite? Porque tem dia que eu só consigo parar a essa hora, quando os meus dois filhos já dormiram (de 4 anos e 12 anos). Outra coisa: celular. Assisto muitas aulas e interajo no ambiente virtual pelo smartphone. Uma viagem de ônibus de 45 minutos para ir ao trabalho eu torno superprodutiva em 100%. Quando chego em casa ou no intervalo do trabalho, é que eu uso o notebook”, complementa.

Tempo é sempre um fator forte para a escolha do EAD. Foi assim com Sarah e também com Maria Elizabete de Vasconcelos, de 46 anos e empresária do setor de comércio. O sonho era concluir o curso de pedagogia, sem as travas de ter horário a cumprir em sala de aula, mas que não fosse aquém de qualquer modelo presencial.

“Desejos atendidos. O curso realmente dá todo o suporte para que a aprendizagem não tenha quebras. Eu não faço uma pergunta hoje e recebo em 15 dias a resposta. É sempre muito rápido. Não é tão rápido como uma sala de aula, na hora, mas é rápido o suficiente para que eu consiga aprender. Então, me atende”, pontua. “Não sofro por falta de atenção”, brinca.

A orientação dela é entender que o curso de EAD também exige um investimento de tempo, atenção e dedicação. “É um modelo em que todo o caminho é dado, mas o fator ativo é seu. É você quem clica nas aulas, nos vídeos, entra nos fóruns e debate o conteúdo. Todo o material didático de livro é colocado lá para que você acesse. É preciso ter disciplina para estudar, porque você não vai à faculdade, mas tem em casa ou no trabalho muitos fatores que podem atrapalhar o processo. Então é enfrentar tudo isso e avançar”, destaca.

 

Barreira do preconceito precisa ser superada

Sobre empregabilidade, há um pensamento dividido sobre a qualidade do profissional formado por meio de curso superior de metodologia a distância. Sarah as divide entre mente aberta e fechada. “Fui a uma entrevista recente de estágio e o sócio da empresa, que me entrevistou, destacou toda a importância de uma graduação em EAD. Tem regras, exige disciplina, organização para controlar o acesso ao conteúdo e cumprir as atividades, entre outros pontos. As empresas entendem como um perfil de planejamento quem consegue levar bem um curso desse tipo. É uma condição extra ao profissional, já observada pelas empresas mais evoluídas”, detalha.

“Mas boa parte das empresas ainda considera o presencial mais preparador. Como se o curso presencial tivesse mais qualidade que qualquer outro modelo. Eu faço EAD e só entro no ambiente do aluno quando quero, quando estou a fim. Diferentemente de muito aluno do modelo presencial. Isso já é um condicionante de aprendizagem melhor. A graduação tem a mesma carga horária, mesmo tempo de curso, tudo igual. Ainda entro no trabalho com maior flexibilidade de mudança de horário, por exemplo. Eu estudo a hora que eu quiser. Mas ainda não se dá o devido valor”, pondera.

Aulas práticas: negócio em teste

Conseguir participar de atividades práticas dentro da própria universidade parece um sonho de calouro, né? Mas o que acontece é que a chamada prática profissional se tornou realidade na maioria das universidades. A ação tem sido, inclusive, um atrativo a mais para os estudantes na escolha da universidade. Muitos já buscam os serviços na hora do vestibular, vislumbrando a associação da teoria com a prática. Outros se encantam ao saber quais os serviços e laboratórios oferecidos ao iniciarem as aulas. Independentemente do momento, os serviços se tornaram fortes aliados das universidades, que encontraram nos laboratórios um chamariz de alunos e ainda uma forma de atender à população.

“O principal objetivo desses laboratórios é justamente aliar a teoria à prática, como parte integrante da formação dos estudantes. Além disso, também devemos promover a integração com a sociedade e fornecer aos nossos alunos uma formação humanística. A prática profissional poder ser trabalhada em todos os cursos”, afirma a coordenadora-geral acadêmica da UniFBV-Wyden, Marília Mesquita.

Na Faculdades Integradas Barros Melo – Aeso, o objetivo principal do desenvolvimento dessas atividades é inserir o estudante em um campo multidisciplinar e conectado com o mercado de trabalho. “A agência experimental de publicidade e propaganda Inata e o núcleo de prática jurídica, por exemplo, prestam serviços gratuitos à comunidade e a organizações não-governamentais. Além disso, implementamos para todos os cursos convênios com empresas e órgãos públicos por meio da central de estágio, de modo a possibilitar um fluxo de realimentação entre a formação acadêmica e a profissional. Atualmente, são mais de 700 empresas conveniadas”, detalha a diretora da instituição, Ivânia de Barros Melo.

A diretora-geral da Facipe, Vanessa Piasson, diz que além de formação, essas práticas possibilitam o fortalecimento da responsabilidade social, com inclusão de acesso a serviços, que vão desde assistência jurídica até clínicas de estética e atendimentos em odontologia e biomedicina. A instituição também deve inaugurar em breve um centro de reabilitação em fisioterapia e, num futuro próximo, atendimentos em psicologia e nutrição.

“Não existe um número preciso. Mas o fato é que os cursos com maior número de alunos da Facipe – odontologia, enfermagem, biomedicina e direito – são os que têm seus núcleos de prática funcionando há mais tempo e já consolidados e muito bem estruturados. Essa prática é, sem dúvida, um dos pontos positivos que contribuem para a avaliação dos cursos, inclusive pelo MEC, e despertam o interesse dos estudantes”, enfatiza Vanessa Piasson.

Apesar da certeza de que as práticas são ótimos atrativos para o desenvolvimento dos cursos, sobre a redução da vacância nos cursos que oferecem os laboratórios, as opiniões ainda são divergentes. De acordo com o vice-reitor da Uninassau, Antônio Neto, não existem dados concretos que mostrem a diferença da vacância entre os cursos que têm a prática profissional e os que não possuem, mas esse é um diferencial para qualquer curso.

“Mesmo os que não podem captar fundos para criar uma clínica-escola tendem a realizar outras atividades que complementem a formação do aluno. Existem vários casos de alunos que trocaram de instituição por conta dos nossos serviços oferecidos. Também há casos de discentes que saíram da instituição e depois voltaram porque não encontraram o suporte que possuem aqui. O fato é que a prática profissional é bastante relevante para a formação dos estudantes e esse é um diferencial”, ressalta.

Já para a reitora da UniFG, Sandra Amaral, a prática profissional não pode ser considerada uma solução para reduzir a vacância nos cursos e, sim, como uma metodologia adotada pela instituição como associação da teoria com a prática para garantir a qualidade acadêmica e o aprendizado com base na realidade da profissão. “É importante entender que prática profissional não é somente numa clínica-escola ou núcleo jurídico, mas ela sempre ocorre quando o aluno pratica de alguma forma, como analisando um estudo de caso, por exemplo, o fazer de sua profissão”, enfatiza a reitora da UniFG, Sandra Amaral.

Dentro dos serviços de prática profissional, a UniFG oferece a chamada FG Comunidade, que é um centro de prestação de serviços à população. É lá que funciona a clínica escola da instituição, na qual estudantes da área de saúde, como fisioterapia, educação física, enfermagem, estética, cosmética, psicologia e nutrição, têm prática profissional sob a orientação de professores. O local também abriga o Núcleo de Prática Jurídica, onde os alunos prestam assistência para pessoas físicas e empresas de pequeno porte.

Crescimento pessoal e profissional

Thaís diz que núcleo prático a ajudou inclusive a perder a timidez

Muito mais do que a prática profissional, o estágio no Núcleo de Práticas Jurídicas da Facipe trouxe para Thaís Ferreira o crescimento pessoal. “Desde o primeiro período, eu fiz a seleção para entrar no núcleo e fui selecionada. Além da prática profissional, meu maior ganho foi o pessoal. Perdi muito da minha timidez, que era algo que me atrapalhava pessoal e profissionalmente. Antes, eu mal atendia um telefone”, relata a estudante, que agora está no sétimo período do curso de direito.

Essa é a segunda universidade que Thaís ingressa. “Na primeira, eu não me adaptei ao curso. Nessa segunda tentativa, talvez esse contato com os professores e orientadores do estágio tenha me ajudado”, diz.

Para a estudante, a realização de práticas profissionais durante as graduações se tornaram algo essencial. “Se torna um critério. É essencial. Em sala, temos muita teoria e na hora de praticar, de, por exemplo, ouvir uma pessoa na Defensoria Pública e redigir uma petição, não sabe como fazer. É esse o diferencial. Muitas vezes, os estágios de fora aparecem em um segundo momento. As práticas abrem portas. Faz com que tenham coisas novas para questionar e aprender. Uma forma até de incentivar os alunos a terem certeza da profissão que estão escolhendo seguir”, diz.

Quando decidiu prestar vestibular para publicidade, Leonardo Costa nem pensou no estágio, mas buscou uma universidade que tivesse laboratórios. “Eu sabia que as práticas agregavam muito ao curso porque na sala você vê a teoria, mas tem que ter o raciocínio”, diz. Por isso, ao ser aprovado no vestibular da Aeso-Barros Melo, ele foi logo buscando informações de como melhor utilizar os recursos que a faculdade disponibilizava. “Os professores falaram sobre os estágios nos núcleos práticos. No meu caso, na agência de publicidade da faculdade e aí eu me interessei. No quarto período, eu passei na seleção para área de planejamento e, no semestre seguinte, consegui ser aprovado para a área de atendimento. É uma visibilidade que você ganha. Agrega muito ao curso. Muitos dos que passaram pela Inata e se formaram estão no mercado de trabalho. Abre muitas portas”, enfatiza.

Antes de escolher ingressar na área publicitária, o estudante optou por entrar em um curso técnico de edificações. “Além de não me identificar com a área, sentia falta dos laboratórios práticos”, conta. Hoje, Leonardo diz que, se fosse para escolher outro curso, observaria se a universidade possui prática profissional. “São muitos os benefícios. Além da prática profissional, existe a orientação direta com o professor, estreitando o relacionamento. Além disso, tem a questão da humanização. A Inata, por exemplo, trabalha para o terceiro setor. Então gera um lado mais humano em nós, que somos futuros profissionais e, em breve, iremos trabalhar com grandes clientes”, ressalta.

 

Onde encontrar?

Uninassau

Fisioterapia – 8h às 12h / 13h30 às 18h30 (atendimento varia de R$ 10 a R$ 15)
Psicologia – 8h às 21h (atendimento varia de R$ 10 a R$ 15)
Odontologia – 8h às 18h (atendimento gratuito, exceto em caso de prótese)

UniFG

FG Comunidade – Clínica-escola da instituição que oferece serviços nas áreas de: fisioterapia, educação física, enfermagem, estética, cosmética, psicologia e nutrição (todos os atendimentos são gratuitos)
Núcleo de Prática Jurídica – Alunos prestam assistência para pessoas físicas e empresas de pequeno porte (todos os atendimentos são gratuitos)

UniFBV – Wyden

Núcleo de Prática Jurídica – 8h às 12h / 14h às 17h (Horário para agendamento e havendo disponibilidade de horário haverá atendimento imediato. O atendimento é gratuito)
Núcleo Integrado de Saúde – Avaliação nutricional e prescrição dietética, atendimento psicológico, avaliação física e programa de saúde e análise clínica – Atendimento: 8h às 12h / 14h às 17h (Horário para agendamento e havendo disponibilidade de horário haverá atendimento imediato. O atendimento é gratuito)

Barros Melo – AESO

Agência Experimental de Publicidade e Propaganda (Inata) – Presta serviços gratuitos à comunidade e Organizações Não-Governamentais (ONGs)
Núcleo de Prática Jurídica – Composto pela Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem (CCMA) e pelo Laboratório Jurídico (atendimento é gratuito e acontece de segunda a sexta).

Universo

Núcleo de saúde – fisioterapia e ambulatório de nutrição
Núcleo de prática jurídica – Convênio com o Tribunal de Justiça, no qual foi criada a Central de Conciliação, Mediação e Arbitragem de 1º Grau do Recife

Facipe

Clínicas, laboratórios de análises e centro de estética (atendimento gratuito para a comunidade)
Núcleo de Práticas Jurídicas (mediação, agência do Procon e assessoria jurídica)

Unicap (Católica)

Laboratórios de psicologia, fonoaudiologia e fisioterapia.
Conta também com uma agência júnior de comunicação e um núcleo de práticas jurídicas.

 

O cálculo bilionário das marcas

O fortalecimento e a reinvenção das instituições educacionais brasileiras, especialmente as do ensino superior, estão atreladas a um movimento de mercado que começou a ganhar corpo há cerca de uma década. Trata-se dos processos de fusões e aquisições, que movimentam bilhões em negócios e têm impacto direto na qualidade do serviço prestado a alunos de todo o país. Especialistas afirmam que a tendência é irreversível, mas fazem ressalvas sobre os reflexos trazidos pelas negociações.

Para se ter uma ideia, somente no ano passado foram registradas 30 operações de fusões e aquisições no setor de educação. O dado faz parte de um relatório da consultoria KPMG, que analisou 41 setores econômicos brasileiros. O estudo leva em consideração não apenas as instituições privadas de ensino superior, mas também as que atuam nos ensinos fundamental e básico.

Conforme lembra Marcos Boscolo, sócio da KPMG, esse comportamento se fortaleceu a partir da abertura de capital dos grandes grupos educacionais, que aconteceu em meados de 2007. “Grupos como a Kroton, Anhanguera e a Estácio começaram a fazer um processo grande de aquisições, porque era a maneira mais fácil que observavam para um crescimento”. Ele destaca que 72% das faculdades privadas no país são consideradas de pequeno e médio porte, com até dois mil alunos.

Marcos Boscolo, sócio da KPMG: fusão facilita crescimento das faculdades

Nesse cenário, as empresas com capital 100% nacional tomaram a dianteira. As transações que envolvem exclusivamente grupos brasileiros são maioria, conforme o levantamento da KPMG (veja arte). “Percebemos que poucos grupos estrangeiros têm entrado no Brasil. A atuação ainda é bastante tímida, geralmente com a aquisição de escolas de nicho localizadas num determinado bairro de uma grande cidade”, diz.

A falta de viabilidade econômica das instituições de ensino também facilita o processo de venda para grandes grupos, segundo análise do coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da Faculdade Getulio Vargas, Antônio André. “Para uma instituição ser viável, é preciso um número mínimo de estudantes. Temos faculdades de pequeno porte com até 150 alunos. Essas são as chamadas escolas boutique, que se sustentam apenas se houver algum tipo de subsídio”.

Outro problema que enfraquece as faculdades de pequeno e médio portes, favorecendo a aquisição ou fusão, é a subutilização das instalações físicas. “Existem instituições que têm cursos de graduação em um período ou dois do dia, com vacância no horário, e manter a infraestrutura física é caro”. Segundo Antônio André, os grupos de grande porte alugam os prédios e compram, na verdade, a carteira de alunos dessas instituições. “O fato de elas já terem uma metodologia própria ajuda. Independentemente do curso oferecido, já está tudo (academicamente) pronto. São contratados professores para aplicar o conteúdo que a faculdade já tem. E com a combinação de aulas presenciais e semipresenciais, se faz um aproveitamento máximo dos recursos”. É um jogo onde todos saem ganhando. “O dono da faculdade menor, que investiu uma fortuna para construí-la, recebe pela venda de sua carteira de clientes e aluguel do prédio”.

O coordenador do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Curcio, segue na mesma linha e afirma que as instituições menores acabaram sentindo com maior força os impactos da crise. Por isso, elas cederam às pressões dos grandes grupos. “Economicamente, não há nada de errado, mas é preciso ter em mente que estamos lidando com um produto que se chama ensino e educação, que forma cidadãos e profissionais que vão atender à demanda do mercado”, pondera.

EXTENSÃO – Outro ponto questionado por Curcio diz respeito ao cumprimento da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que é a legislação responsável por regulamentar o ensino público e privado no país. “Ela estabelece que a universidade tem três pilares como base: o ensino, a pesquisa e a extensão”. Essa última, explica ele, está ligada à participação das instituições junto à comunidade. “O que acontece nas grandes redes é o seguinte: o aluno se matricula, assiste às aulas e depois vai embora. Onde está a extensão universitária?”, questiona, ressaltando que não se pode ter uma postura de “faz de conta” com a lei.

EDUCAÇÃO BÁSICA – Os números do relatório da KPMG mostram que houve um aumento de quase 60% nos processos de fusões e aquisições em 2017. A alta veio logo após uma queda de quase 30% no comparativo entre 2015 e 2016. Esse crescimento, segundo Marcos Boscolo, mostra uma tendência de mudança no perfil de aquisição dos grandes grupos. “Até 2016, as empresas faziam as aquisições de instituições de ensino superior, mas, a partir do ano passado, com a restrição de acesso dos alunos via Fies e o fato de já se ter feito muitas aquisições de faculdades, os empresários passaram a investir no ensino básico”.

Um termômetro dessa tendência foi um evento realizado pela KPMG, no fim de maio, em São Paulo, voltado para o setor de educação. Os cerca de 100 executivos presentes foram questionados se tinham interesse em comprar alguma instituição e se o ensino básico era atrativo. De acordo com Boscolo, 35% respondeu que sim, enquanto 32% afirmou que pretendia crescer de maneira orgânica (por meio da atração de alunos).

O impacto das negociações

Muito além de movimentar o mercado e fortalecer empresas, os processos de compra e venda chegam também às salas de aula, afetando a vida de milhares de alunos em todo o país. O principal reflexo está na qualidade de ensino, de acordo com os especialistas: há quem não veja com bons olhos a padronização dos processos acadêmicos e metodológicos. Por outro lado, o barateamento das mensalidades e o acesso a uma infraestrutura de ponta são alguns dos pontos positivos elencados.

“Acaba-se constituindo cursos engessados, com características que lembram a uma robotização do aluno”, critica Ítalo Curcio, coordenador do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo ele, isso acontece porque as grandes redes não investem em linhas metodológicas que focam em qualidade e inovação. O especialista também alerta para o risco de monopolização. “A partir do momento em que deixamos de ter instituições com 20 ou 30 mil alunos e passamos a ter uma com um milhão de estudantes, o mercado perde 50 instituições que poderiam estar concorrendo entre si e oferecendo o melhor custo-benefício para o aluno”, diz.

Curcio também faz críticas às estratégias de comunicação das grandes redes para atrair os alunos. Ele dá o exemplo de uma faculdade que forma 300 bacharéis em direito ao ano, dos quais 80% (240 estudantes) passam no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e compara a uma grande instituição que forma 30 mil bacharéis no mesmo período. “A empresa anuncia que aprova 3 mil (10%) na OAB. O número chama a atenção dos potenciais estudantes, mas não significa efetividade, porque se você comparar com o total, ela aprova menos do que a faculdade pequena. Trata-se de uma propaganda muito subliminar e, às vezes, enganosa”.

Gerente sênior da Mazars, grupo global de consultoria empresarial, Elen Freitas concorda. “O mais negativo é a qualidade da educação, porque nem sempre os investidores pensam nesse ponto. Quando observamos as notas de avaliação do MEC, algumas faculdades privadas têm pontuação geral muito baixa”. No entanto, ela ressalta que o problema não é de responsabilidade exclusiva das instituições. “É uma questão mais geral, da estrutura educacional como um todo”. Isso, segundo ela, traz consequências diretas para a empregabilidade dos alunos. “Vemos o reflexo da baixa qualidade da educação brasileira nos processos de trainee, por exemplo. Tem gente que saiu da faculdade com um grande despreparo”.

Por outro lado, há benefícios para o aluno, segundo a especialista. O principal ponto citado por ela diz respeito ao preço das mensalidades, que fica mais acessível. “Há uma boa gama de faculdades com valores mais em conta. Se você pensar, há dez anos atrás era difícil para uma família que tem renda de até dois salários mínimos ter um filho na faculdade”, diz, referindo-se também aos programas de financiamento estudantil, que facilitam o processo.

Sócio da KPMG, Márcio Boscolo discorda da tese de que a padronização dos sistemas de ensino prejudique os alunos. “Os grandes grupos tentam trazer uma massa crítica e novas metodologias de ensino. Os programas padronizados de aprendizagem fazem com que alunos de diversas regiões tenham o mesmo material de ensino, nivelando a questão pedagógica”. O fato de as grandes redes terem estrutura para ofertar cursos a distância também é um fator positivo, segundo o especialista. “É a chance das pessoas que moram em um município menor, onde não há uma universidade, de ter acesso a mesma metodologia e ensino que um aluno morador dos grandes centros urbanos”.

A estudante Adrielle Queiroz vê lados positivo e negativo

Estudante do curso de estética e cosmética da UniFG, Adrielle Queiroz diz que o grande benefício de estudar numa instituição integrante de uma rede internacional diz respeito ao reconhecimento do diploma em outros países, que, na avaliação dela, torna-se mais fácil. “Além disso, há uma grande quantidade de cursos, diferente de outras faculdades da região”.

Por outro lado, há problemas. O principal deles, segundo ela, diz respeito à autonomia da faculdade. “O meu curso é muito mais prático do que teórico e precisamos de materiais para as aulas. Mas faltam muitos produtos. Quando questionamos, a resposta que temos é de que os pedidos já foram enviados e a instituição está aguardando a liberação de verba para a compra. Mas, às vezes, demora muito. E aí o semestre letivo acaba sem que possamos usar os produtos”.

Em nota, a instituição disse que as coordenações dos cursos fazem um planejamento antecipado para atender à demanda de insumos para as aulas práticas. “Até o presente momento, não recebemos nenhum chamado de falta de materiais. Diante do questionamento específico da aluna, vamos apurar internamente para entendimento da situação”.

Evolução

foi o total de transações realizadas no Brasil em 2017, sendo:

22

domésticas (envolvem apenas empresas brasileiras)

05

nas quais empresas de capital majoritário estrangeiro adquiriram, de estrangeiros, capital de empresa estabelecida no Brasil

02

nas quais empresas de capital majoritário brasileiro adquiriram, de estrangeiros, capital de empresa estabelecida no exterior

01

empresa de capital majoritário estrangeiro que adquiriu, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no Brasil

 

Histórico de fusões e aquisições no Brasil

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

257

foi o total de transações registradas de 1998 a 2017

 

Alguns casos

2007

Laureate adquire a Faculdade dos Guararapes
Valor da operação: não informado

2012

DeVry compra a Faculdade Boa Viagem, no Recife, e a Faculdade Vale do Ipojuca, em Caruaru. Valor da operação: não informado

2013

Fusão entre Kroton e Anhaguera
Valor da operação: aproximadamente R$ 5 bilhões

Laureate adquire o Cedepe Business School
Valor da operação: não informado

Laureate compra a Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Valor da operação: R$ 1 bilhão

Fonte: KPMG

Pernambuco segue a tendência nacional

Com um total de 74 instituições de ensino superior privadas atuando no estado, conforme dados do Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp), o mercado pernambucano também tem atraído a atenção de empresas de grande porte, sejam nacionais ou internacionais. As instituições destacam, sobretudo, a ampliação da quantidade de cursos oferecidos após a aquisição das empresas do estado, impactando diretamente numa atração maior de alunos. As melhorias passam ainda pela infraestrutura física, com reflexos diretos no fortalecimento das marcas e consequentemente no faturamento, muito embora nenhuma empresa tenha revelado números.

Em 2007, o grupo norte-americano Laureate chegou ao estado e adquiriu a Faculdade dos Guararapes (hoje UniFG). Seis anos mais tarde, o grupo comprou a escola de negócios Cedepe Business School. Com mais de 12,9 mil alunos, a UniFG ampliou a oferta de cursos. Também mudou o status, sendo considerada pelo MEC centro universitário. “Tivemos grandes aperfeiçoamentos estruturais. Apenas neste ano, fizemos a inauguração de um laboratório de alta complexidade e do centro de simulação de saúde”, explica Clay Mattozo, presidente da instituição. Houve também uma reforma na sala e bar do curso de gastronomia, na agência experimental de publicidade e propaganda, no escritório modelo utilizado pelos alunos do curso de arquitetura e novos laboratórios das engenharias. Outra mudança destacada por Matozzo foi a reforma da FG Comunidade, que presta serviço nas áreas de saúde e direito para moradores da região.

Com 47 cursos de graduação, 46 de pós-graduação lato-sensu, além do mestrado e cursos técnicos, a UniFG possui uma boa taxa de ocupação, segundo Matozzo. No entanto, ele não revelou números. “Como centro universitário, temos autonomia para criar vagas (exceto nos cursos que têm regulação própria do MEC), razão pela qual não fazemos esse tipo de cálculo (ociosidade)”.

No caso do Cedepe Business School, o número de alunos dobrou desde que a instituição foi adquirida pela Laureate. “Também ampliamos o nosso portfólio, abrindo seis novos cursos e, ainda, iniciamos a oferta de cursos sob medida para empresas, com currículos personalizados”, explica João Paulo Gomes, diretor da instituição. Com isso, segundo ele, a escola de negócios conseguiu ampliar a influência no meio corporativo da região Nordeste. Pelo fato dos cursos serem personalizados, João Paulo diz que a taxa de ocupação é de 100%. “Entendemos as necessidades do mercado e abrimos as turmas de acordo com a demanda específica de cada segmento”.

Outra empresa que atua no estado é o Grupo Tiradentes, de Sergipe. Em 2012, a empresa adquiriu a Faculdade Integrada de Pernambuco (Facipe). Quando a instituição foi adquirida, eram ofertados sete cursos. “Desde então, a Facipe quase triplicou a oferta e hoje conta com 26 cursos”, explica Vanessa Piasson, diretora-geral do Grupo Tiradentes no estado. De acordo com ela, a aquisição da Facipe fez parte da estratégia de expansão do grupo, que tem mais de 50 anos de atuação pelo Nordeste. “O estado de Pernambuco é visto como uma das prioridades por sua representatividade no mercado, além da tradição intelectual e cultural”.

Entre as melhorias realizadas, Vanessa destaca a reforma das duas unidades (Caxangá e Boa Vista), a implantação de clínicas de fisioterapia, estética e laboratórios de saúde e cursos de engenharias. “O lançamento da unidade da Boa Vista, em 2016, instalada no prédio do antigo Colégio Nossa Senhora do Carmo, foi outro marco importante da expensão do grupo. O núcleo de práticas jurídicas foi ampliado, passando a contar com uma câmara de conciliação e arbitragem, que é ligada ao Tribunal de Justiça do Estado”, diz, acrescentando que o prédio abriga também uma unidade do Procon e da Defensoria Pública.

O grupo norte-americano DeVry (que recentemente mudou de nome, passando a se chamar Wyden Educacional) também atua no estado. Em 2012, a empresa comprou a então Faculdade Boa Viagem, no Recife, e a antiga Faculdade Vale do Ipojuca (Favip). Atualmente, ambas são consideradas centros universitários e passaram a se chamar UniFBV e UniFavip, respectivamente. O grupo Wyden foi procurado pelo Diario, mas preferiu não se posicionar.

Grupo pernambucano expande para fora do Nordeste

Jânyo Diniz afirma que o setor ainda está em consolidação

O grupo pernambucano Ser Educacional é outro que se destaca no cenário brasileiro. Além de apostar em marcas próprias – a empresa fundou as faculdades Maurício de Nassau e Joaquim Nabuco -, a estratégia de expansão passa também pela compra de outras instituições, principalmente fora do Nordeste. O grupo já detém marcas de centros universitários no Norte e Sudeste, ampliando o número de alunos matriculados sob gestão da marca pernambucana. Em operação desde 2003, a empresa atingiu 128,2 mil alunos, entre presenciais e a distância, o que representava 2,08% do total do país naquele ano. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Dentro do plano de ação, o Ser Educacional adquiriu a UNG Universidade (SP) e a Univeritas (RJ), no Sudeste; além das Faculdades Integradas do Tapajós (PA) e Universidade da Amazônia (PA), no Norte. “O setor de educação superior privada continua em processo de consolidação. Tivemos mudanças radicais em razão de mudanças no Fies em 2014 e 2015”, diz Jânyo Diniz, presidente do grupo. Além de aquisições, o grupo focou na implantação de outras unidades das marcas Maurício de Nassau e Joaquim Nabuco em outros estados do Nordeste.

Uma das estratégias adotadas pelo Ser Educacional, segundo Jânyo, é a melhoria da infraestrutura e a constante atualização do modelo acadêmico. Ele dá o exemplo da Uninassau, que atualmente está passando por uma consultoria para implantar novos modelos digitais. “Somos pioneiros na América Latina nesse projeto. A ideia é que o aluno, no futuro, possa fazer a matrícula via plataformas como o whatsapp. O aplicativo também teria outras funcionalidades”.

Melhorar estrutura está entre as estratégias do grupo Ser Educacional

 

Marcas utilizadas no plano de expansão

Unama- Universidade da Amazônia (Pará)

Fundada em 1993, passou a fazer parte do grupo Ser Educacional em novembro de 2014
A instituição compreende quatro campi na região metropolitana de Belém e Ananindeua
Oferece 52 cursos de graduação, 20 de pós-graduação, 4 cursos de mestrado e 1 curso de doutorado

UNG – Universidade (São Paulo)

Fundada em 1969, passou a integrar o grupo Ser Educacional em fevereiro de 2015
A UNG possui cinco campi, sendo três em Guarulhos, um campus na cidade de São Paulo e outro em Itaquaquecetuba, no interior de São Paulo.

Faculdades Integradas do Tapajós – FIT (Pará)

Fundada em 1977, passou a fazer parte do grupo Ser Educacional a partir de novembro de 2014
A instituição é localizada na cidade de Santarém e oferece 13 opções de cursos do Ensino Superior

Univeritas – Centro Universitário Universus Veritas (Rio de Janeiro)

Fundada em 2017, o Centro Universitário funciona no bairro do Flamengo e oferece 30 cursos de graduação e graduação tecnológica

Faculdade/Centro Universitário Maurício de Nassau (Pernambuco)

Fundada em 2003, a Instituição de Ensino Superior nasceu no Recife. Atualmente, dispõe de unidades em 15 cidades, de dez estados brasileiros.
A Faculdade Maurício de Nassau oferece mais de 200 opções de cursos de graduação, pós-graduação e MBA nas áreas de humanas, saúde e exatas.
Nas cidades do Recife e Maceió, a instituição foi credenciada pelo MEC como centro universitário

Faculdade/Centro Universitário Joaquim Nabuco (Pernambuco)

Fundada em agosto de 2007, a primeira unidade foi aberta na cidade do Paulista
Atualmente, possui unidades no Recife, ampliou a presença no Paulista e inaugurou faculdades em São Lourenço da Mata e em Olinda
Fora de Pernambuco, a instituição está presente nos estados da Paraíba, do Ceará e de Alagoas

Fonte: Grupo Ser Educacional

Expediente

Editor: Kauê Diniz | Repórteres: André Clemente, Rochelli Dantas, Sávio Gabriel e Thatiana Pimentel | Fotografia: Gabriel Melo, Nando Chiappetta, Thalyta Tavares | Vídeo: Roberta Cardoso (edição) | Web: Bosco