Elas dividem a vida, a terra e o marido

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A vida na aldeia dos Munguende, área rural de Dombe, em Moçambique, parece distante da realidade do resto do mundo. As quatro mulheres convivem harmoniosamente com um só marido. Felipe Munguende tem 53 anos e é pai de 19 filhos. A primeira sorte, como chamam o primogênito, já tem 25 anos. O caçula estava com apenas 15 dias de vida quando o Diario visitou o lugar, no mês passado. Isolados, falam apenas o dialeto Tindau. Vivem sem luz elétrica, água encanada e saneamento básico.

A família Munguende é o retrato da poligamia existente na África subsaariana. Situação que coloca Moçambique entre os dez países de maior proporção de pobreza extrema no mundo. São 15 milhões de pessoas, segundo levantamento realizado pelo Banco Mundial. Felipe, as quatro mulheres e os filhos sobrevivem basicamente da agricultura. Ao redor do terreno, plantam milho, banana e cultivam tomate, cebola, mandioca, batata doce, além de abóbora. Mas dependem exclusivamente da chuva para sucesso na colheita e consequentemente ter o alimento.

Todos ajudam na “Machamba”, como nomeiam o trabalho na roça, segundo dialeto. Mas quem pega no pesado mesmo são as mulheres. Raina Chirimba, a primeira esposa e mãe dos sete dos 19 filhos de Felipe, inclusive do caçula, já estava na labuta no dia em que a reportagem foi à aldeia. Sem saber dizer a própria idade, a mulher sorriu e contou que trabalha com o bebê nas costas para ter as mãos livres. A criança é amarrada com a Kapulana, pano colorido usado pelas africanas.

Samalito Felipe, 25, o filho mais velho, também já está casado e é pai de três meninos, mas todos de uma mesma mulher. Conheceu a esposa a caminho da escola. Pagou aos pais dela 15 mil Meticais (R$ 1 mil). “Estamos juntos há seis anos. Maria é uma boa mulher”, disse o rapaz, único na aldeia que fala Português. Samalito contou, que além dos 19 irmãos, o pai teve outros 14 filhos, que morreram. “Foi a malária. A gente tem muito medo da febre”, desabafou.

Na aldeia, quando o filho homem completa 12 anos, passa a viver sozinho e numa casa no mesmo terreno. As moradias são simples. Têm formato arredondado, semelhante a uma oca, com paredes de barro socado e telhado feito com um mato seco, típico da região. O piso também é de barro. Em seu interior, não há móveis. Todos dormem em esteiras no chão.

No dia a dia, cada uma das mulheres se responsabiliza pelo cultivo da sua própria roça. Mas existe um espírito colaborativo, e quando alguém adoece, todas ajudam. Mesmo juntas, as companheiras de Felipe Mundengue não se desentendem. Vivem tão primitivamente que não têm qualquer sentimento negativo em relação às outras. Dividem a terra, os filhos, o marido, que a cada três dias dorme com uma delas. E assim, vão vivendo.

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