Parto complicado na floresta

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Era mais um dia normal na missão de Dombe, em Moçambique. Pouco depois das 6h do dia 30 de setembro deste ano, a enfermeira Fernanda Silva, que é responsável pela casa da Obra de Maria, recebeu um chamado urgente. Socorrer uma adolescente que tentava parir. Fernanda, que formou-se em 2003 e teve experiências com partos, conseguiu no meio do mato, sem auxílio de instrumentos cirúrgicos algum, trazer o bebê ao mundo. A criança foi batizada carinhosamente de Gilberto, em homenagem ao fundador da obra.

Gilbertinho nasceu na localidade de Nhakutondora, em meio à savana africana, assim que a missionária chegou. Ela encontrou a mãe do bebê, Amélia João, 14, deitada sobre as folhas secas. O marido Pita Mateus, 22, desesperado ao seu lado. Com as pernas abertas, a adolescente chorava com contrações, minuto a minuto, cada vez mais forte. Fernanda não titubeou. Criou coragem e ajudou a puxar cabeça da criança, que já coroava entre as pernas da jovem mãe. O bebê chorou no mesmo instante. Um choro forte, de quem veio ao mundo já mostrando resistência.
“Foi muito emocionante. Deus quem me ajudou porque nem sequer tinha água para lavar o recém-nascido nem um pano para protegê-lo. Tinha feito outros partos, mas sempre com tesoura”, lembrou Fernanda, que cortou o o cordão umbilical com uma lâmina de barbear usada.

Logo após o nascimento, a missionária colocou a adolescente e seu filho no carro e foi até o centro de saúde para uma consulta médica. “Fizeram o cartão de saúde dobebê. pensei que fossem refazer o corte do cordão, mas só realizaram uma assepsia”, falou.

No último dia 15 de novembro, o Diario esteve na aldeia, onde a criança vive com a famíia. O acesso é por uma estrada de mata fechada, a cinco quilômetros da missão. O menino engordou e cresceu bastante. Apesar da pouca idade, Amélia já teve um filho, que morreuum mês após o nascimento. A razão do óbito, eles desconhecem.

Em Moçambique, cerca de 13 mulheres morrem por dia, devido a complicações na gravidez, no parto e pós-parto. O baixo nível de escolaridade e o analfabetismo são as principais causas da gravidez de risco no país. Segundo o governo moçambicano, a percentagem de mulheres grávidas que completam quatro consultas de pré-natal é cerca de duas vezes maior do que aquelas que têm o nível secundário, quando compado àquelas sem escolaridade.

No Brasil, conforme o Ministério da Saúde, quase cinco mulheres morrem por dia devido a complicações durante e pós-parto. O cálculo é feito do período do início da gestação até 42 dias após o nascimento do bebê. Entre as causas obstétricas diretas e indiretas estão a hipertensão, hemorragia, doenças cardiovasculares e infecções puerpurais. O último balanço anual foi publicado em 2015, quando foram registradas 1.737 mortes maternas.

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