No início da década de 1960, os leitores do Diario sabiam que, aos domingos, poderiam aproveitar uma página inteira de humor, um sopro de inteligência em meio a futuras notícias de chumbo. Redigida inicialmente pelo humorista cearense A.G. Melo Júnior – daí o trocadilho que dava origem à seção – a página poderia tratar de assuntos quase tabus na época, como a guerra fria e críticas diretas à administração pública. O pernambucano Luís Queiroga entrou depois para reforçar a equipe, com uma verve mais local. Vale lembrar que Queiroga, criador do personagem Coronel Ludugero, era também compositor, função exercida atualmente pelo seu filho mais velho, Lula Queiroga. A Melokisses era uma herdeira direta de outra página de humor publicada pelo Diario alguns anos antes. Batizada como Demogracinhas, a seção era pilotada por feras que brilharam no rádio pernambucano da época, como Aldemar Paiva, colega de Chico Anysio quando este atuava na Rádio Clube. A Demogracinhas será objeto de outro post no futuro.

Cabia de tudo na Melokisses. A página fugia visualmente daquele visual entulhado da época, já “respirava” no jargão dos designers de hoje. Valia falar de qualquer assunto, desde que a tirada funcionasse em poucas palavras. Claro que algumas piadas iriam esbarrar no politicamente incorreto. Mas censura por censura, vivíamos coisa pior. Leia alguns exemplos abaixo e veja se não concorda com as Melokisses.

* Para o repórter policial, cada ladrão representa duas manchetes:

Hoje: “O monstro assassino continua em liberdade e assaltando a população”

Amanhã: “O pobre coitado foi preso e barbaramente espancado pelos monstros da polícia”

* Nos EEUU,  se você tem a pele negra, o dono do colégio não deixa entrar. No Brasil, o dono do colégio deixa, mas não antes de tirar a sua pele…

* Além da fortuna que ela me tira da carteira para deixar no cabeleireiro, ela ainda me obriga a ouvir as “histórias” de lá…

* Kennedy esrá muito preocupado com a pequena exportação de Cuba. – De açúcar? – Não! De russos!

* Como dizia aquele guarda: – O nosso salário é um caso de polícia!

* O mais engraçado é que quando chove, o trânsito do Recife se desafoga: sim, três mil táxis ficam parados.

* Estão chamando o relógio dos Correios de prefeito: figura decorativa!