Por Wagner Oliveira*

Na metade do mês de março deste ano, ofereci uma pauta aos editores do jornal que, embora fosse muito distante da redação, foi aceita de imediato. Propus viajarmos para o sítio Macambira, em São José do Egito, no Sertão do estado, para contarmos a história de uma sertaneja de 30 anos, portadora de uma deficiência física que a condenaria a uma vida improdutiva e sedentária e que havia conseguido driblar as dificuldades e chegar à faculdade.

E não era só isso. Judite Ferreira da Silva aprendeu a ler muito tarde e quando começou a estudar descobriu-se apaixonada pela matemática. Participou de várias olimpíadas e ganhou medalhas e certificados.

Antes de seguir viagem, descobri mais uma coisa. Para chegar à faculdade, em Afogados da Ingazeira, Judite saía de casa com uma sobrinha numa moto até chegar à pista principal para esperar o ônibus que a levaria para a sala de aula. Esse é o roteiro dela todas as noites.

Valia ou não uma bela história? O jornal apostou todas as fichas na nossa personagem.

Por decisão da diretoria de redação, foi acertado que uma equipe da TV Clube, emissora dos Diários Associados, também iria fazer a matéria. Parti então para marcar a entrevista com Judite, que aceitou nos receber e contar sua trajetória.

Com a reserva da hospedagem feita em Afogados da Ingazeira seguimos eu, a fotógrafa Annaclarice Almeida e os colegas da TV Clube Ciro Guimarães (repórter), Anderson Morais (cinegrafista) e Marcos Aurélio (motorista).

Fomos num único carro, meio no aperto, mas felizes por podermos deixar a cobertura cotidiana e ir atrás de um personagem especial.

O dia da nossa ida ao Sertão foi 22 de março, data em que estava comemorando o meu aniversário. Esperei o grupo de colegas que havia saído da redação num posto de combustíveis na BR-232, em Jaboatão dos Guararapes. Ali estava apenas começando a comemoração do meu aniversário.

Depois de horas de estrada, chegamos no hotel que ficaríamos em Afogados da Ingazeira. Tomamos banho e deixamos as bagagens para procurar um lugar para almoçar. Decidi telefonar para Judite para dizer que já estávamos perto e que estaríamos na casa dela após o almoço.

Para surpresa minha e do resto da equipe, a universitária e sua família já haviam preparado um verdadeiro baquete para nós. Daquelas mesas que só as pessoas do interior sabem servir às suas visitas.

Seguimos para o sítio Macambira, onde almoçamos e passamos o resto do dia. Até o anoitecer. Fizemos várias fotos, entrevistas, muitas perguntas, respondemos a muitas perguntas também.

Em meio à conversa, descobri em Judite uma pessoa iluminada e sem maldades. Disse-lhe que a conhecer naquele dia tinha sido meu presente de aniversário. A resposta dela: “Vixe Maria… Quem sou eu pra ser presente de alguém?”. Talvez nem ela saiba o quanto é forte e respeitada por tanta gente.

No dia seguinte, voltamos ao sítio para terminar a matéria com Judite que teve grande destaque e repercussão no Diario de Pernambuco e na TV Clube. De volta à redação, não perdi mais o contato com a universitária. Nos falamos com frequência pelas redes sociais ou por mensagens no telefone celular. Essas últimas mais comumente.

Após a publicação das reportagens, Judite precisou vir ao Recife algumas vezes para tratamento médico. A acompanhei em quase todas as vindas à capital, fosse no Hospital Getúlio Vargas, na AACD e até mesmo numa gincana de matemática que ele veio participar na UFRPE.

Ficamos amigos. Conversamos sobre a seca que castiga o Sertão e sobre as chuvas e o caos do trânsito no Recife. Não tenho nenhuma dúvida em afirmar que conhecer Judite no dia 22 de março deste ano foi o meu melhor presente de aniversário. E mais que isso. Melhor ainda foi poder contar a história de vida e a luta dessa guerreira sertaneja. Obrigado e parabéns, Judite.

* Repórter de Vida Urbana e blogueiro [segurança pública]