As discussões para a elaboração da Primeira Página do Diario de Pernambuco de 28 de março de 2014 começaram às 18 horas, no centro da Redação, entre os editores-executivos Humberto Santos, Paula Losada e Lydia Barros. A preocupação era única: como apresentar para o leitor o resultado da pesquisa chocante do Ipea? A editora-assistente de Política Glauce Gouveia sugeriu mostrar cinco mulheres jornalistas de vestido ou saia exibindo cartazes com frases que se contrapusessem ao resultado do levantamento. Não pudemos executar a ideia por dois motivos. Não havia tempo hábil para produzir os cartazes, nem a quantidade de jornalistas usando saias/vestidos acima dos joelhos naquele momento na Redação. A solução foi resumir a indignação com uma palavra – absurdo – e fazer uma foto com a única jornalista que estava com vestido acima dos joelhos e construir uma manchete em quatro linhas resumindo o resultado da pesquisa.

A capa teve 3.318 compartilhamentos e foi vista por 409.856 pessoas no Facebook.

A capa teve 3.318 compartilhamentos e foi vista por 409.856 pessoas no Facebook.

À meia-noite, a jornalista Érica de Paula, da Editoria de Redes Sociais, que acompanhou a nossa preocupação de colocar o assunto na manchete de uma forma que não chocasse mais os leitores que o resultado da pesquisa, me telefonou sugerindo as possibilidades de levar a ideia inicial de Glauce Gouveia para as redes sociais, através de fotos isoladas de jornalistas ou de grupos, segurando os cartazes com frases em repúdio à violência. Dei o aval e fui procurar Glauce e Kauê Diniz para saber quais eram as frases. Voltei para a Redação, comentei a proposta com os editores Dioguinho Carvalho e Raquel Areia, do Viver. A jornalista Luiza Maia, que estava no fechamento, acrescentou que os homens também deveriam segurar os cartazes, para mostrar que aquele percentual (65%) não representava o pensamento deles.

quarteto

Glauce, Kauê, Marcela e Érica trocaram ideias no Whatsaap até as 5h

A partir de então, Érica de Paula (recém-formada) e Marcela Cintra (a estagiária mascote) começaram a conversar pelo Facebook e a pensar nas frases e nos cartazes que seriam usados tanto pelos homens quanto pelas mulheres da Redação. Falei com Glauce e Kauê e eles, via Whatsapp, se integraram à conversa com Érica e discutiram as frases que poderiam ser usadas tanto pelos homens quanto pelas mulheres. Além disso, definiram qual seria a hashtag que deveria ser usada (#VAITERQUERESPEITAR), quais as cores que seriam aplicadas na arte da fanpage do Facebook e Twitter.

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A conversa entre os quatro via Whatsapp, no grupo chamado Corujas, foi até as 5h da manhã. Ficou acertado o horário de postagem da capa, os textos que seriam usados nas redes sociais, como deveriam ser produzidas as fotos no estúdio fotográfico e como poderiam ser mobilizadas as mulheres jornalistas. Érica criou um grupo Assembleia Geral convocando as mulheres para aderir à campanha e trabalhar usando saias. Acionou Thiago Neres (Redes Sociais) para iniciar a manhã colocando em prática toda a estratégica com o time de redes sociais (Robson Gomes, Carlos Segundo, Luiza Alencar, Felipe de Brito).

O resultado do trabalho da equipe comandada pela Editoria de Redes Sociais e pela produção dos fotógrafos Paulo Paiva e Teresa Maia, em conjunto com o editor de estilo e moda Phelipe Rodrigues, foi fantástico. A campanha em nome dos jornalistas mobilizou os internautas desde cedo. Foi além dos homens e mulheres da Redação e teve repercussão nacional.

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A campanha #VAITERQUERESPEITAR teve na Fanpage do Diario um alcance de 1.289.145 pessoas. Foram 34.914 compartilhamentos, 37.861 curtidas e 3.220 comentários, números divididos em 15 postagens ao longo da sexta-feira. No Instagram, foram 1.535 curtidas e 74 comentários nas oito postagens. Uma das reproduções da capa no Instagram, feita pelo blogueiro Hugo Gloss, teve 14.200 curtidas e mais de mil comentários. No Twitter, a hashtag #VAITERQUERESPEITAR foi retuitada por dezenas de internautas e chegou à terceira posição do TrendsMap Recife, que mede os assuntos mais comentados. Parabéns a todos que idealizaram, executaram e aderiram, vestindo a camisa contra o absurdo que é não aceitar a forma como as mulheres se vestem e correlacionar o uso de uma roupa a qualquer ato de violência.