estação terminal capa

É, assim, uma história muito triste a que aqui se conta. Mas, como em todo retrato sobre os males de uma sociedade, vemos aqui também o lado bom: a solidariedade entre os desamparados, os laços nascidos da dor, as façanhas dos heróis solitários que não se deixam vencer pelo cinismo.
Nisso, também, este livro contra uma história universal.

O texto acima encerra a introdução à edição brasileira do livro Estação terminal – Viajar e morrer como animais, da jornalista argentina Graciela Mochkofsky. A partir da investigação do desastre na estação de trens Once (no centro de Buenos Aires), que deixou 51 mortos e 795 feridos no dia 22 de fevereiro de 2012, ela revela o sucateamento do transporte público do país, principalmente o sistema de ferrovias, que já foi um dos melhores do mundo.

Autora de outros livros como Timerman – El periodista que quiso ser parte del poder (2003) e Pecado original – Clarín, los Kirchner y la lucha por el poder (2011), Graciela descreve, em 220 páginas, o drama dos passageiros, a precariedade denunciada pelos funcionários e a corrupção de um poder que mantinha em funcionamento trens e vagões que já deveriam estar há décadas em um museu.

Em uma Buenos Aires que passou a investir em BRTs e ciclovias em avenidas estratégicas, de olho nos votos dos mais endinheirados, o transporte ferroviário virou uma loteria macabra. Quando seria o próximo acidente? Foi em Buenos Aires, mas poderia ter sido em qualquer capital brasileira, inclusive o Recife, se não tivéssemos já destruído os trilhos que ligavam o Centro aos subúrbios.

Graciela leu recentemente trechos do seu livro na Flip, em Paraty. Dividiu a mesa Narradores do Poder com o jornalista norte-americano David Carr, do The New York Times, já tema de um post aqui no blog (Quer ler? Clique aqui). O livro foi disponibilizado inicialmente somente no formato digital. Custa R$ 9,90, por exemplo, na Amazon. Recomendável para quem acredita que o bom jornalismo nunca vai sair dos trilhos.

Só por curiosidade: no dia 23 de fevereiro de 2012, o Diario divulgou assim a tragédia:

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