Em Foco 2408

A retomada do cinema pernambucano teve início em 1996, com o filme O baile perfumado, dos diretores Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Quase vinte anos depois, podemos falar que uma verdadeira indústria da imagem e do som está a todo vapor no estado, atraindo até talentos de outros lugares. O resultado do trabalho vem em forma de prêmios e aumento de público. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco do domingo, escrito por Luce Pereira.

Cinema do bom

A partir da década de 1990, a produção pernambucana só cresceu e conquista espaço importante. Desde então, já são mais de 30 filmes a receber prêmios e boa crítica

Luce Pereira

A frase “luz, câmera, ação!” encontrou terreno fértil em Pernambuco e desde a década de 1990, especialmente, as estantes de diretores de cinema da terra acumulam prêmios, o nome deles ganha o mundo. Para quem tem a memória curtinha, não custa lembrar que O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, quase foi indicado ao Oscar, depois de receber inúmeros prêmios em alguns dos festivais mais importantes do planeta e de arrancar rasgados elogios da crítica especializada nacional e internacional.
“Tem gente de fora vindo morar aqui, por causa deste momento do cinema pernambucano”, quem diz é o também diretor Júlio Cavani, depois de dar por encerradas as tarefas do dia, no caderno Viver do Diario de Pernambuco e se sentar ao meu lado, na bancada de frente, para uma breve conversa sobre o tema. Desde que se conhece por gente, o jornalista, filho do artista plástico Cavani Rosas, gosta de cinema, mas, como tanta gente talentosa, aguardava uma oportunidade para sair da plateia e ir para os bastidores, dar vida às suas histórias.
Cavani já havia feito um curta de animação, Deixem Diana em paz, que foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cinema de Brasília, em 2013, contudo, recentemente, subiu mais um degrau: voltou do Festival de Gramado com um Kikito na mão (o curta de animação História natural venceu na categoria Melhor desenho de som) e mais vontade de fazer cinema.
Embora ainda distantes do tamanho ideal, são os financiamentos públicos, via fundos de cultura e prêmios destinados a fomentar a produção de cinema no estado, que fazem os loucos pela chamada sétima arte acreditar que têm, hoje, mais do que uma ideia na cabeça e uma câmera na mão – têm também onde buscar recursos para as produções, governos mais conscientes de que investir em cinema é colocar holofotes sobre o estado/país onde a obra é concebida ou realizada e tecnologias cada vez mais acessíveis, muitas inclusive no ambiente doméstico.
Para passar a borracha na tristeza pelo fechamento dos cinemas no interior e nos grandes centros, além de esquecer o vácuo na produção registrado nos anos 1980, nada como colocar em números o “pulo do gato”, que começou na década seguinte com o enorme sucesso de O baile perfumado (Paulo Caldas e Lírio Ferreira, 1996), seguido de Amarelo manga (Cláudio Assis, 2002) e Cinema, aspirina e urubus (Marcelo Gomes, 2005), outro que atraiu para a produção de cineastas pernambucanos os olhos do mundo. Entre os mais de 30 filmes selecionados ou premiados desde 1996 até o recente Kikito trazido por Cavani, foi o de maior bilheteria.
Ainda falta uma política cultural que enxergue o cinema como um instrumento transformador e torne possível o contato permanente de crianças e jovens com a arte, nas escolas, para que Pernambuco seja cada vez mais referência na área. Entretanto, é animador ver que, apesar das dificuldades para produzir filmes, geralmente feitos com orçamentos muito magros, vão sendo revelados novos nomes na boa safra e os cineastas com obra já reconhecida não param.
Agora mesmo, o diretor de Amarelo manga, Baixio das bestas e Febre do rato, Cláudio Assis, está encerrando, em Pesqueira (Agreste), as filmagens de Big jato, baseado numa semibiografia do jornalista e escritor Xico Sá, que tem o excelente Matheus Nachtergaele no papel principal. Terminam o trabalho terça-feira. E enquanto mais este não sai do forno, com a promessa de ser outro da safra pernambucana a se mostrar bem-vindo entre as plateias, é bom já ir pensando na pipoca.