Em Foco 2708

O fator emocional instalou-se na campanha eleitoral, tanto para presidente quanto para governador de Pernambuco. O resultado da pesquisa Ibope mostrou os efeitos da tragédia que vitimou Eduardo Campos em forma de índices positivos para Marina Silva e Paulo Câmara, candidatos do PSB. Mas é preciso esperar mais. É o que ressalta Vandeck Santiago, autor do Em Foco do Diario de Pernambuco desta quarta-feira.

O efeito Eduardo

Marina sobe, Paulo Câmara  reverte desvantagem e campanha eleitoral entra em fase de indefinição com cenário ruim para PT e PSDB

Vandeck Santiago

Duas semanas depois da tragédia que vitimou Eduardo Campos, as disputas para presidente da República e para o governo de Pernambuco apresentam sua primeira reviravolta – pesquisa Ibope divulgada ontem mostra vertiginosa escalada de Marina Silva, no Brasil, e de Paulo Câmara em Pernambuco (este, com os números mais surpreendentes).
Antes de tudo, porém, há que se levar em conta o fato de que os resultados são de uma pesquisa, de um determinado instituto. É prudente esperar por novos levantamentos, de outros institutos. Nas margens de erro de uns e outros às vezes cabem um abismo inteiro.
Mesmo feita esta ressalva, porém, a pesquisa Ibope impacta pelo que ela sinaliza – na disputa presidencial: avanço de Marina para o segundo lugar (com 10 pontos percentuais à frente de Aécio Neves, PSDB) e criação de um ambiente onde se vislumbra a perspectiva de vitória. Na disputa estadual: coloca Paulo Câmara no páreo, eliminando as dúvidas sobre sua competitividade; injeta na campanha algo de que ela estava carente ao extremo, otimismo; e aponta para uma possibilidade real de “virada” (a diferença dele para o primeiro lugar, Armando Monteiro Neto, do PTB, caiu surpreendentes 23 pontos percentuais em comparação com a pesquisa anterior, de 30 de julho). A partir de agora tudo na campanha dele vai ser “da virada”: Caminhada da virada, mobilização da virada, porta a porta da virada…
E ainda tem o impacto reverso desse cenário: empurra o sentimento da desconfiança para as campanhas adversárias e obriga suas coordenações a montar estratégias para o novo cenário, saindo da zona de conforto em que estavam. Na eleição presidencial, a mudança se faz necessária para deter a escalada de Marina, procurando desconstruir sua imagem. Ela tem por enquanto a menor rejeição, segundo a pesquisa Ibope, 10% (contra 18% de Aécio Neves e 36% de Dilma).
Se fosse certo que a ascensão de Marina e Paulo Câmara se manteria nos índices apontados pela pesquisa, os dois já podiam começar a escrever o discurso de posse. Mas não é assim tão simples. Não há dúvidas que o crescimento de um e outro é motivado pelo efeito Eduardo – o clima de comoção que se estabeleceu com a morte do ex-governador pernambucano, unindo a emoção do fato com a exposição maciça dos candidatos. É plausível supor que, com Eduardo em vida, a campanha de Paulo Câmara também teria crescimento à medida que o eleitorado o identificasse como o candidato dele. Nunca na proporção em que se deu, porém.
Neste momento ainda estamos sob o efeito da comoção. Daqui até o dia 5 de outubro, data do primeiro turno, haverá muitos debates, questionamentos, campanha, propaganda eleitoral no rádio e na TV. Será que a emoção pelo luto de Eduardo se manterá tão intensa como está hoje? Não creio. De todo modo, como dissemos em artigo no Diario do último dia 18 (“Terra em transe”, no caderno Poder), o fator emocional instalou-se na campanha. Em termos percentuais, a pesquisa de ontem mostra Dilma onde sempre esteve, na faixa dos 35% e 40%. Raciocínio idêntico para Aécio, na faixa dos 20%. A novidade mesmo foi a subida de Marina. Por enquanto a emoção está apenas no palanque dela. A reviravolta detectada pelo Ibope vem desse cenário – por mais sinalizações que ele aponte, no entanto, e por mais fortes que elas sejam (e são), é um cenário ainda em formação, sujeito a modificações.