Em Foco 0909

A denúncia do diretor da Petrobras terá força suficiente para impactar a eleição presidencial, polarizada neste momento entre Marina Silva e Dilma Rousseff? Atingirá os eleitores de todas as classes sociais ou ficará restrito aos integrantes de uma ou outra? São questões que Vandeck Santiago levanta no Em Foco do Diario desta terça-feira, a partir do tema que se tornou frequente no noticiário nacional nos últimos dias.

Um delator entra na campanha

Denúncia não é sinônimo de culpa, mas apuração de esquema de desvio de dinheiro na Petrobras pode provocar nova reviravolta na eleição

Vandeck Santiago

A mais atípica das eleições presidenciais do Brasil entra agora em sua quarta fase. A primeira começou com Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva na disputa. Na segunda fase, Marina saiu do pleito, por não ter conseguido registro para o seu partido (Rede Sustentabilidade), e depois entrou novamente, como vice na chapa da Eduardo e filiada ao PSB. A terceira fase foi a morte trágica de Eduardo e sua substituição por Marina. E a quarta fase, agora, chega com a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, acusando 35 políticos de participarem de um esquema de corrupção na estatal. O eleitor, eu não sei; mas os analistas estão atordoados com tantas reviravoltas em uma eleição que se encaminhava para mais um capítulo de “mais do mesmo”: PT x PSDB.
Hoje saem mais duas pesquisas, do Datafolha e da CNT/MDA. Até sexta-feira passada a dúvida principal sobre estas pesquisas era da “terceira fase”: a onda Marina estancou de fato ou fora retomada? Agora esta dúvida se mantém e entra outra, da “quarta fase”: a repercussão da delação do Paulo Roberto Costa atingiu alguma candidatura, modificou o cenário? Isso porque entre os 35 nomes citados por ele estão o do ex-governador Eduardo Campos, falecido em 13 de agosto passado; do ministro do governo Dilma, Edison Lobão; da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).
Já o PSDB de Aécio Neves escapou da lista: não há nenhum nome deste partido entre os supostos beneficiários do suposto esquema. A prudência recomenda colocar um “suposto” antes dos nomes e dos fatos porque, primeiro, denúncia não é sinônimo de culpa, e segundo, tudo que temos até aqui são trechos do depoimento do ex-diretor da Petrobras à PF, em Curitiba, onde está preso, por envolvimento na Operação Lava-Jato. A íntegra do depoimento não foi divulgada; parte dele foi vazada para a revista Veja, e é esta parte que vem municiando o noticiário nos últimos dias. Por enquanto temos os nomes e a denúncia de desvio de dinheiro público na Petrobras, mas sem fatos concretos. Ou seja, apenas ilações. Destaque-se, porém, dois fatos: o primeiro é que no acordo feito pelo Paulo para fazer a delação premiada, sua pena só será reduzida se os fatos ilícitos que ele denunciou forem comprovados; o segundo é que ontem Dilma deu entrevistas ao Estado de S. Paulo e afirmou: “Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve, eu posso te garantir que todas, vamos dizer assim, as sangrias que eventualmente pudessem existir estão estancadas”. Prestem atenção para o aposto da presidente: “…e tudo indica que houve…”.
Alguns analistas viram no episódio uma chance de ouro para Aécio Neves tentar recobrar seus votos: como o PSDB não está citado na lista da delação, ele é o único dos três principais candidatos que pode explorar o caso, sobretudo na propaganda de rádio e TV (duvido que isso lhe renda frutos, mas para efeito de hipóteses, deixemos esta aí).
A denúncia contra Eduardo Campos é uma esquisitice – acusa-se alguém que não pode mais se defender. Mas obriga Marina a defendê-lo (o que ela fez) e drena a força dos seus ataques contra o escândalo. Já Dilma tem pela frente um escândalo cujos desdobramentos serão associados pelos adversários ao Mensalão (denunciado por Roberto Jefferson em 6 de junho de 2008, em entrevista à Folha de S. Paulo).
Terá este caso força suficiente para impactar a eleição? Atingirá os eleitores de todas as classes sociais ou ficará restrito aos integrantes de uma ou outra? Vai embaralhar ainda mais o cenário, passando a imagem de que “todos são iguais”? Difícil responder com certeza agora. É provável que se torne motivo para o eleitor aguardar um pouco mais antes de definir o seu voto (ou migrar de um candidato para outro). De todo modo, a delação premiada do Paulo Roberto Costa vai perpassar todos os dias que faltam até a eleição do primeiro turno, em 5 de outubro, e também do segundo, em 26 de outubro. A investigação desse caso vai prolongar-se ainda durante muito tempo, e só deve ter seu desenlace no próximo governo. Ficará como foco de uma tensão permanente, uma caixa de onde a qualquer momento pode sair algo devastador.