A cada setembro, os jornalistas do Diario sabiam que não escapariam de uma pauta que garantia fotos para a capa e era um desafio para a objetividade: a tal da abertura do verão, apesar de oficialmente a estação entrar em vigor somente no dia 21 de dezembro. Era só chegar perto do dia 7 de setembro que os repórteres da editoria responsável pelo cotidiano do Recife se dividiam entre duas possibilidades no feriado: o asfalto dos desfiles militares e a areia de quem encarava o dia livre entre o mar e guarda-sol. Em 1974, no dia 9 de setembro, uma segunda-feira, o jornal trazia o relato do domingo na praia, onde o repórter – que não assinou o texto – relatava que as recifenses continuavam ostentando tangas e minibiquínis, não aderindo à nova moda, que era o maiô inteiro. Em Boa Viagem, um tarado havia sido preso ao tentar arrancar as duas peças de um “brotinho”. Para ilustrar, nove fotos com beldades em várias poses.
Em 1989, o Brasil estava perto de eleger seu primeiro presidente de forma direta após a queda da ditadura, e a edição do Diario do dia 8 de setembro mostrava que uma pauta de abertura do verão poderia ser transformada em um manifesto político. O repórter que não assinou o texto ressaltou que “em meio a bumbuns empinados, corpos molhados e bronzeados e tudo que chama a atenção na praia, há também que possua visões mais críticas da realidade brasileira”. Entre depoimentos de frequentadores, números de inflação e analfabetismo. O valor gasto para se montar um palanque onde se julgaria um campeonato de surfe – ainda não havia os tubarões – daria para manter uma família de cinco pessoas por um ano. Para compor a página, closes de um biquíni asa-delta e até uma demonstração de aeróbica em Olinda, a partir de um ângulo estratégico.
Em 1994, já com o jornal totalmente colorido, a estratégia de mostrar mulheres bonitas na praia ganhou a forma de um concurso. No dia 8 de setembro, o Diario estampava na capa do caderno de Vida Urbana o resultado do concurso Garota Verão. Uma estudante de contabilidade de 17 anos foi a vencedora, desfilando para uma multidão. Ao longo das décadas seguintes, a pauta de “abertura do verão” foi perdendo espaço no jornal. Quem viveu, viu. Quem não, verão.