Em Foco 1009

Um piloto foi responsável pelo fato de milhões de brasileiros acordarem mais cedo para acompanhar uma corrida de Fórmula 1. Em 1972, Emerson Fittipaldi entrava para a história ao se consagrar numa categoria que quase era monopólio dos europeus. Depois dele vieram Nelson Piquet e Ayrton Senna, igualmente campeões. Agora temos Felipe Massa lutando para terminar uma prova e chegar a um pódio. Uma história abordada pelo editor assistente de Superesportes, Filipe Assis, para o Em Foco do Diario desta quarta-feira.

O Brasil primeiro

Há 42 anos, Emerson Fittipaldi conquistava um título inédito da Fórmula 1 para o país.  Hoje em dia, ter de comemorar um terceiro lugar de Felipe Massa como vitória é frustrante

Filipe Assis

Dez de setembro de 1972. O dia em que a Fórmula 1 reverenciou um “intruso”, no bom sentido. Ao vencer o Grande Prêmio de Monza, Emerson Fittipaldi colocou o Brasil na galeria de campeões da categoria. Aos 25 anos, oito meses e 29 dias de idade, se tornou o mais jovem piloto a conquistar um título – marca que só foi batida por Fernando Alonso, em 2005, aos 24 anos, um mês e 27 dias de idade. Hoje, 42 anos depois, o país torce pela chegada de um novo Fittipaldi. Para que a tradição nas pistas não seja apenas um resgate do passado, como hoje.
Bicampeão em 1974, Emerson poderia ter ido mais longe, não fosse o projeto mal-sucedido de correr por uma equipe brasileira, a Fittipaldi – conhecida como Copersucar. Em cinco temporadas, o brasileiro não venceu nenhuma corrida e viu o sonho do terceiro título acabar em 1980, quando disputou sua última temporada. Enquanto isso, James Junt, que o substituiu na McLaren, ficou com o título de 1976.
Fittipaldi poderia ter sido, pelo menos, tricampeão. Como não foi, atualmente é lembrado como um piloto que está um patamar abaixo de Senna e Piquet, o que não é nenhum demérito. Talvez seja até injusto, se levarmos em consideração que ele correu apenas seis temporadas em equipes competitivas, de 1970 a 1975, e foi campeão duas vezes.
O legado deixado por Emerson, entretanto, é indiscutível. E ele não demorou para tomar forma. Nove anos após a conquista do primeiro título do Brasil, Nelson Piquet se sagrou campeão pela primeira vez, em 1981. Era o início da era de ouro do país no automobilismo. Ser representado nas pistas por Ayrton Senna e Nelson Piquet, ambos conquistando títulos, foi um privilégio. Pena que durou pouco. Hoje em dia, ter de comemorar um pódio de Felipe Massa é frustrante.
Pior ainda é estarmos vivendo o segundo maior jejum de vitórias do Brasil na Fórmula 1 desde que Fittipaldi (sempre ele) ganhou a primeira corrida para o Brasil, no GP dos Estados Unidos, em 4 de outubro de 1970. Já são 95 provas sem receber a bandeirada quadriculada desde o triunfo de Rubens Barrichello em 13 de setembro de 2009. A “seca” se aproxima da que o país viveu após a última vitória de Senna, em 7 de novembro de 1993. Naquela época, foram 108 corridas “em branco” até que Barrichello vencesse pela primeira vez, em 30 de julho de 2000.
Sem vitória nas pistas, o interesse pela Fórmula 1 vem caindo ano após ano. O Brasil ainda é o maior mercado da categoria no mundo, mas o número de espectadores caiu, de 2012 para 2013, de 85,6 milhões para 77,2 milhões – somando todas as 19 provas. Não por acaso, surgiram rumores de que a TV Globo não iria mais transmitir as corridas ao vivo, o que acabou sendo desmentido pela emissora. Os treinos oficiais, entretanto, que são disputados aos sábados, não são mais transmitidos na íntegra – apenas os dez últimos minutos.
Assim, enquanto torcemos para que um piloto brasileiro dê continuidade à história de glórias do país na Fórmula 1 – com títulos, não apenas vitórias -, temos a real dimensão do que Emerson fez em 1972. Por isso, celebrar o primeiro título do Brasil na categoria é mais do que saudosismo: é também uma questão de justiça com Fittipaldi.