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Lançado originalmente pela editora Codecri em 1977, Barra pesada, do repórter policial Octávio Ribeiro, é um daqueles livros que pedem uma nova edição urgente. Enquanto isso, a primeira versão e a de 1985, da saudosa Círculo do Livro, estão disponíveis nos sebos virtuais por R$ 9, em média. Além de um bom investimento não só para os que gostam de jornalismo à moda antiga, é uma homenagem a um profissional que não precisou passar pela universidade para criar um estilo próprio que garantiu-lhe assento nas redações das principais publicações do país nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Sob a alcunha carinhosa de Pena Branca, por causa da mecha estranha que surgiu na sua cabeleira ainda jovem, o cara meteu o pé na lama subindo os morros para entrevistar bandidos que nem a polícia sabia onde estavam entocados, botou figurões contra a parede, fez das delegacias quase uma morada, com a mistura de cheiros de sangue, mofo e mijo. Por causa da sua escrita inconfundível, foi entrevistado pelo pessoal do Pasquim, que depois lhe convidou para escrever para o jornal e ainda editou seu precioso material no livro já citado. Pasquim, leia-se Henfil.

Pena Branca

O livro Barra pesada traz as principais reportagens de Pena Branca  – a entrevista com Mineirinho, o assalto no Trem Pagador, o mistério da Dama de Teffé, os primórdios do Esquadrão da Morte, a descoberta dos botos da Amazônia – em um linguajar que é mais do que um amontoado de gírias. Aliás, livro para ele era “retângulo de capa dura”. Como não se admirar com quem escreve desta forma quando conta como tudo começou na sua vida?

Em 1959 eu monologava com Pitágoras, era um ‘Pai Tomás’ numa cabana bancária. Na época, nunca havia curtido um cadáver gargalhando no IML. Um ano após, fui escalado para gravar as risadas da presuntada horizontal e as transas dos pêsames perfumados com formol. Depois cursei o vestibular dos mistérios, entrevistei maquiavélicos, oculei germes histéricos disputando os camarotes dos cemitérios, enfrentei os eruditos dos crimes, mergulhei nas calamidades públicas e prefaciei outras comédias da vida.

Um ano antes de morrer, Pena Branca ganhou o Prêmio Esso de jornalismo ao descobridor o paradeiro de Cabo Anselmo, reportagem publicada na revista IstoÉ. Em 1986, aos 54 anos, Octávio Ribeiro deixou de “dialetar” com seus leitores. Um câncer tirou do ar definitivamente o repórter policial de grande ficha corrida. Eu, que descobri o livro Barra pesada ainda quando estudava para ser jornalista na Unicap, rendo aqui minhas homenagens ao diplomado pela vida. Se sujei um dia meus sapatos nesta profissão, devo um pouco às “mumunhas” que aprendi lendo os “rounds” do velho Pena.

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Abaixo segue obituário catado na internet sem identificação de autor do texto, muito provavelmente da IstoÉ. Ou da revista Visão.

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