Em Foco 1710

A disputa presidencial tornou-se o assunto quase monotemático das redes sociais desde o dia 6 de outubro. Substituiu o futebol, as fotos de viagens, os belos pratos de comida, os vídeos fofinhos de cachorros e todas aquelas coisas que nos acostumamos a “curtir” quase que no piloto automático. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta sexta-feira, por Fred Figueiroa.

Para não curtir

A “invasão” da política mudou a forma com que os brasileiros se relacionam com a rede social mais popular do país

Fred Figueiroa

Primeiro clique no nome da pessoa. Quando abrir a página pessoal, basta clicar no botão “seguindo”. Pronto. Em poucos segundos, você deixará de receber no Facebook as mensagens, imagens e bobagens que aquele seu amigo ou amiga não cansa de postar sobre Dilma Rousseff ou Aécio Neves. Talvez seja necessário fazer isso algumas vezes, já que a disputa presidencial tornou-se o assunto quase monotemático das redes sociais desde o dia 6 de outubro. Substituiu o futebol, as fotos de viagens, os belos pratos de comida, os vídeos fofinhos de cachorros e todas aquelas coisas que nos acostumamos a “curtir” quase que no piloto automático.
Deixar de seguir alguns amigos ou amigas até o próximo dia 27 é a alternativa mais simples, eficaz, educada e discreta para os que não suportam mais o “toma lá, dá cá” eleitoral “apitando” o tempo inteiro em seu computador ou telefone – evitando assim o impulso às vezes incontrolável de entrar em discussões que raramente têm fim e que nunca convencerão quem está doutro lado. Cada vez mais pessoas têm optado por essa espécie de faxina entre os amigos – ainda que, na maioria dos casos, essa decisão passe diretamente pelo posicionamento político de cada um.
Certo ou errado? Liberdade ou censura? São questionamentos e (julgamentos) desnecessários, afinal filtrar a timeline de acordo com os seus interesses é ponto de partida de qualquer rede social. Sim, este é um universo particular e peculiar com alguns conceitos e regras de convivência próprias, que nem sempre se aplicam às convenções sociais. Claro que nem todos conseguem separar facilmente os dois campos – atualmente minados – da vida cada vez mais (sur)real.
A “invasão” da política – com análises pseudo imparciais e/ou baixarias declaradas – mudou a forma com que os brasileiros se relacionam com a rede social mais popular do país. Até o fim do 1º turno, o Facebook era quase um porto seguro virtual da felicidade. O próprio site utiliza sistemas algoritmos que priorizam palavras positivas no filtro que a rede faz das postagens para cada usuário. No Facebook, cada um de nós recebe em média apenas 20% do que a nossa rede de amigos e páginas que seguimos escreve (imagine se fosse 100%!). A sensação de felicidade coletiva é friamente calculada por um sistema que “faz o possível” para que você não se sinta incomodado pelo que encontra em sua timeline. Mas neste momento em que o país atravessa, não teve algoritmo que desse jeito de conter a enxurrada de postagens eleitorais (nem sempre) espontâneas. O refúgio virtual virou campo de batalha real. A opção “não  curti” nunca fez tanta falta.
Talvez até para este texto que está na página do jornal e, ao mesmo tempo, circula por milhares de timelines – despertando todo tipo de interpretação e, possivelmente, comentários com argumentações para votar em Aécio ou Dilma. Tem sido assim na fan page do Diario. Notícia sobre futebol, comentários sobre eleições. Notícia sobre o ebola, comentários sobre eleições. Notícia sobre teatro, comentários sobre eleições…
Mas até que ponto essa mudança na forma da sociedade se relacionar com a rede social não é um avanço? Não seria ainda mais perturbador e incômodo se, neste cenário de extremos, todos continuassem apenas postando os tijolinhos da sensação de felicidade e harmonia coletiva? Eu, pelo menos, não curtiria.