Em Foco 2210

Uma “alça” de 77 quilômetros de extensão deveria ligar Goiana ao Complexo Industrial Portuário de Suape. Deveria, mas os carros que sairão da montadora da Jeep no município da Mata Norte para exportação via porto no Litoral Sul de Pernambuco não poderão usar o Arco Metropolitano como previsto. Governos federal e estadual dividem entre si as justificativas pelo atraso da obra. Tema do Em Foco do Diario desta quarta-feira, por Glauce Gouveia.

Fiat à espera de mais agilidade

Sete anos se passaram desde a ideia do projeto do Arco Metropolitano, que ligará, por novas rodovias, Goiana a Suape mas que ainda não saiu do papel

Glauce Gouveia

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Mas às vésperas de iniciar a produção, a Jeep, fábrica controlada pela Fiat Chrysler construída no município de Goiana, na Zona da Mata Norte pernambucana, não tem outra opção: vai ter que ficar e vai ter que deixar correr o fruto de sua produção – prevista para começar já no primeiro trimestre de 2015. Mas isso sem utilizar as novas rodovias previstas no projeto do Arco Metropolitano, esperadas inicialmente para dezembro e com um atraso, pelo menos até agora, de três anos.
Os ritmos desproporcionais entre as obras que pertencem à iniciativa privada e as do setor público ficam claras. Mostram que a fábrica cumpriu o cronograma apresentado, entrará na fase de produção em breve, mas espera até hoje a aprovação dos relatórios que medem o impacto ambiental do Arco – uma “alça” de 77 quilômetros de extensão que já deveria estar ligando Goiana ao Complexo Industrial Portuário de Suape. É do Porto de Suape que os veículos fabricados no estado seguirão seus destinos.
As justificativas para o atraso na largada da obra vêm de dois lados: do governo federal, responsável pela execução dos trabalhos, e do governo do estado, idealizador do projeto. Enquanto o primeiro diz que aguarda as licenças ambientais para dar início à abertura do processo licitatório – que permitirá a contratação das empresas construtoras -, o segundo, por meio da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), informa que o projeto enviado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) não atendeu até hoje às exigências legais nos Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais (EIA/Rima).
De acordo com a CPRH, o Dnit, já com atraso, protocolou duas vezes este ano o processo de licenciamento ambiental do lote 2 do empreendimento (que ligará a BR-101 Sul à BR-232 e à BR-408): uma em abril e outra em agosto. Nas duas, o EIA/Rima não teria atendido ao Termo de Referência emitido pela agência estadual, que exigiu ajustes.
Inicialmente agendado para esta sexta, a terceira entrega do documento pelo Dnit à CPRH foi remarcado para o dia 30. Otimista, a direção do órgão federal acredita que ainda este ano abre a licitação para encerrar o imbróglio e tirar o peso que recai sobre seus gestores. Mas o prazo legal para a entrega de um parecer final pela CPRH é de 60 dias a partir da chegada deste novo EIA/Rima.
A verdade é que, em meio a esse vaivém e ao disse-me-disse sobre responsabilidades e culpas, tanto CPRH quanto Dnit devem estar torcendo para que desta vez tudo esteja dentro do exigido pela legislação. O atraso virou assunto eleitoral e não está pegando bem para ninguém.
Os pernambucanos também estão na mesma torcida. Muitos empregos dependem disso. Mas é a direção da Fiat quem cruza os dedos para que tudo dê certo agora. Até porque, se a licitação fosse aberta hoje, todas as vias do Arco só seriam entregues em 2017. Vale salientar que o lote 1, que ligará a BR-408 à BR-101 Norte, ainda está em fase de planejamento pelo Dnit.
Até 2017, portanto, a Jeep vai ter que se utilizar das onze alternativas apresentadas pelo governo do estado diante do atraso do início das obras: as rodovias PE-50, PE-62, PE-49, PE-75, PE-04, PE-41, PE-52, PE-40, PE-44, existentes, e as rodovias PE-48 e PE-56, em processo de construção e licitação, respectivamente. As existentes são “trafegáveis”, mas segundo interlocutores do próprio governo estadual, são incapazes de suportar o peso que certamente terão os 250 mil veículos que serão fabricados por ano em Pernambuco. Inevitavelmente fabricados! Afinal, os R$ 4 bilhões investidos pela Fiat na unidade industrial de Pernambuco e os outros R$ 3 bilhões colocados no estado pelas empresas sistemistas (fornecedores) só não poderão ter um destino: os bueiros e buracos que porventura existam no meio do caminho.