ambrose bierce

O jornalista Ambrose Bierce foi um mestre da palavra amarga. Saiu de cena sem deixar rastros no México a partir de 26 de novembro de 1913. Aos 71 anos de idade, ele resolveu ver in loco a revolução provocada por um tal de Pancho Villa. Nunca mais foi encontrado. Dizem até que foi fuzilado. Contista dos bons, sua obra mais emblemática é O dicionário do diabo, uma série de definições sarcásticas sobre a natureza humana. No Brasil, este livro – publicado originalmente em 1906 nos Estados Unidos com o título O livro das palavras de um cínico e, em 1911, rebatizada como O dicionário – está difícil de ser encontrado até nos sebos. A última edição nacional data de 1999, pela editora Mercado Aberto. Nestes tempos de acirramentos provocados pela disputa eleitoral no país, preparei uma pequena compilação, quase de A a Z, com os termos cunhados por Ambrose Bierce referentes a política e assuntos afins. É para rir e pensar, não necessariamente nesta ordem

ACUSAR
Afirmar a culpa ou demérito de outra pessoa. Aplica-se, na maioria dos casos, como justificação por lhe termos feito mal.

ALEGRIA
Uma sensação agradável provocada da miséria dos outros.

ALIANÇA
Em política internacional, consiste na união de dois ladrões com as mãos tão enfiadas nos bolsos um do outro que já não conseguem roubar um terceiro separadamente.

ANTAGONISTA
O sacana miserável que não nos deixa em paz.

APLAUSO
O eco do lugar-comum.

ARENA
Em política, uma ratoeira imaginária na qual o estadista luta contra o seu passado.

COAÇÃO
A eloquência do poder.

CONFERENCISTA
Indivíduo que tem a mão no nosso bolso, a língua no nosso ouvido e a fé na nossa paciência.

CONSERVADOR
Um estadista que gosta das coisas más que existem, por oposição ao Liberal, que as quer substituir por outras.

CULPADO
O outro indivíduo.

DEMAGOGO
Um opositor político.

DIFAMAR
Mentir acerca de outra pessoa. Dizer a verdade acerca de outra pessoa.

ELOQUÊNCIA
A arte de persuadir oralmente os tolos de que o branco é a cor que aparenta ser. Inclui o dom de fazer qualquer cor parecer branca.

FANÁTICO
Alguém que sustenta de maneira diligente e intransigente uma opinião diferente da nossa.

FIDELIDADE
Virtude que caracteriza aos que estão para ser traídos.

FUTURO
Época em que nossos negócios prosperam, os nossos amigos são leais e nossa felicidade está garantida.

GENEROSIDADE
Liberalidade do que tem muito ao permitir que quem não tem nada tente tudo o que puder.

HIPÓCRITA
Aquele que, professando virtudes que não respeita, assegura-se a vantagem de parecer o que deprecia.

IMPOSTOR
Rival que também aspira a honras públicas.

IMPUNIDADE
Riqueza.

JUSTIÇA
Artigo mais ou menos adulterado que o Estado vende ao cidadão, em troca de sua lealdade, impostos e serviço pessoais.

LOQUACIDADE
Doença que faz com que o paciente seja incapaz de segurar a língua quando se quer falar.

MORAL
De acordo com uma lei padrão local e mutável. Confortável.

NEPOTISMO
Prática que consiste em designar a própria avó para un cargo público, pelo bem do partido.

ÓDIO
Sentimento cuja intensidade é proporcional à superioridade que o provoca.

OPOR
Ajudar com obstruções e objeções.

OPOSIÇÃO
Em política, o partido que impede que o governo pereça, paralisando-o.

PATRIOTA
Aquele que considera superiores os interesses da parte do que os interesse do todo. Joguete de políticos e instrumento de conquistadores.

POLÍTICO
Enguia na lama primordial sobre a qual a superestrutura da sociedade organizada é construída. Quando balança o rabo, ​​geralmente acredita que pode abalar o edifício. Em comparação com o estadista, sofre a desvantagem de estar vivo.

QUÓRUM
Em um corpo deliberativo, número de membros suficiente para fazer sua vontade.

RADICALISMO
O conservadorismo de amanhã injetado nos assuntos da atualidade.

REFERENDO
Lei que se submete a voto popular para estabelecer o consenso da insensatez pública.

SENADO
Corpo de anciãos que cumprem altas funções e crimes.

TURBA
Em uma república, aqueles que exercem uma autoridade suprema moderada por eleições fraudulentas.

ULTIMATO
Na diplomacia, exigência final antes de recorrer a concessões.

VOTO
Instrumento e símbolo do poder do homem livre de fazer de si mesmo papel de bobo e de seu país uma ruína.