Em Foco 2710

Não é segredo para ninguém que há setores propensos a manter o clima de conflagração, como quem está disposto a viver num interminável terceiro turno entre Dilma e Aécio. O objetivo é curar as feridas da campanha e apaziguar os ânimos não só entre os partidos em disputa mas também entre os eleitores. Tema do Em Foco desta segunda-feira, por Vandeck Santiago

A última onda

Reconciliação não é consenso, nem significa que adversários devam abrir mão de suas convicções. Mas, neste momento, é o que o país mais precisa para sair do clima agressivo da campanha

Vandeck Santiago

A última onda desta eleição não leva o nome de nenhum dos candidatos. É a onda da reconciliação. Ou da união. Ou do diálogo. Dê-se o nome que se quiser dar, mas qualquer que seja ele o objetivo é curar as feridas da campanha e apaziguar os ânimos não só entre os partidos em disputa mas também entre os eleitores. Se o objetivo será alcançado, veremos depois. Mas depois de uma campanha marcada por uma desmedida agressividade, é positivo que pelo menos no discurso os incendiários deem lugar aos bombeiros.
O momento seguinte ao pleito é aquele em que a maioria do eleitorado passa a torcer para que tudo dê certo para o eleito – até porque, se der errado, a conta acaba indo para o próprio “torcedor”. Por isso é de se esperar que a onda da reconciliação encontre nas próximas semanas caminho aberto para trafegar. Isso acontecerá principalmente se o discurso passar por sua prova dos noves, que são os gestos.
Isso em um primeiro momento. Em relação ao que acontecerá logo depois, há dúvidas. O governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel, prometeu investigar denúncias de supostas irregularidades nos governos tucanos no estado, da mesma forma que ontem o vice na chapa de Aécio, Aloysio Nunes, prometera “abrir a caixa preta” do governo Dilma. Não é segredo para ninguém que nas duas campanhas há setores propensos a manter o clima de conflagração, como quem está disposto a viver num interminável terceiro turno. Nas próximas semanas talvez estes setores sejam temporariamente anulados pela onda da reconciliação, mas isso não significa que vão desaparecer. Até porque a situação tem elementos que, vistos na condição de hoje, favorecem à retomada da agressividade da campanha. Um deles, não o único porém o mais explosivo, é o caso Petrobras e suas doses homeopáticas de vazamento da delação premiada. A julgar pelo número de pessoas denunciadas na delação, e dada a necessidade de investigação de cada denúncia, podemos prever que o caso irá arrastar-se por muito tempo ainda – e com um acentuado potencial de crise.
O segundo mandato de Dilma terá uma oposição mais forte do que tiveram os três últimos governos petistas. Fortalecido pelos 51 milhões de votos recebidos, Aécio sai da eleição credenciado a ocupar o papel de líder dessa oposição. Tem ainda Marina Silva, que deve finalmente criar o seu próprio partido e buscar um caminho em faixa própria, no campo oposicionsita.
Dilma terá de manter sua base de apoio e procurar ampliá-la a fim de fazer frente ao novo quadro. Chamou atenção, por exemplo, a forma enfática com que ela por mais de uma vez citou o vice Michel Temer, do PMDB.
Como toda onda, a da reconciliação não será de longo prazo. Mas se no período de sua vigência conseguir dar um freio de arrumação nos exageros que vimos na campanha e no clima de conflagração que estamos vivendo, já terá servido pelo menos como exemplo de que política é algo mais do que a troca de ataques.