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Jornalista trabalha mesmo quando no bar. No caso do argentino Rodolfo Walsh, num café de La Plata, no segundo semestre de 1956, quando entre um copo de cerveja e uma partida de xadrez recebe a informação de um estranho, sussurrada em tempos de ditadura de direita: “hay un fusilado que vive”. O tal fuzilamento teria ocorrido em 9 de junho, quando doze civis foram detidos por militares depois do fracasso de uma rebelião que tentava derrubar a junta que governava o país desde o afastamento à força de Juan Domingo Perón, em setembro do ano anterior. Os doze homens estavam ouvindo uma luta de boxe pelo rádio. Nem mesmo eram amigos. Não tiveram participação nenhuma no levante. Levados para um lixão, foram alvejados, mas nem todos morreram. Sete sobreviveram.

Entre 15 de janeiro e 30 de março de 1957, Rodolfo Walsh conseguiu publicar no pequeno jornal Revolución Nacional a primeira versão de Operação massacre, que depois se tornou um livro que foi sendo ampliado a cada nova edição, com novas informações, correções e contextualizações. Lançada pela Companhia das Letras em 2010, a versão nacional tem 288 páginas e é uma excelente introdução à obra de Walsh, que se notabilizou com seu jornalismo investigativo policial. Nos últimos anos ele vem tendo sua obra ficcional revisitada, inclusive com lançamentos no Brasil.

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Quem for a Buenos Aires pode perder alguns pesos na carteira e ganhar outros na mala, trazendo livros de Walsh. A editora Ediciones de la Flor é responsável por manter Operación masacre sempre nas livrarias, em edições populares. A capa portenha mantém-se igual à primeira de 1957, utilizando como imagem o quadro El tres de mayo de 1808, de Francisco Goya. Um fuzilamento no México para lembrar o ocorrido na Argentina. Vale lembrar que Walsh utilizou elementos narrativos que depois integraram o livro A sangue frio, de Truman Capote, considerado um marco inicial do “novo jornalismo”. Quase uma década separa os dois títulos.

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Publicado em 1968, ¿Quién mató a Rosendo? relata o assassinato do dirigente sindical argentino Rosendo García em maio de 1966, em um tiroteio ocorrido em uma confeitaria em Avellaneda. Como Operação massacre, o livro foi publicado em forma de notas no semanário da central sindical dos trabalhadores argentinos. Investigando os fatos e entrevistando os sobreviventes, Walsh acusa como assassino o dirigente metalúrgico Augusto Timoteo Vandor.

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O livro Caso Satanowsky, publicado primeiro na revista Mayoría entre junho e dezembro de 1958, recupera as investigações sobre o assassinato do advogado vinculado à comunidade judaica argentina, ocorrido no dia 13 de junho de 1957, em Buenos Aires. Em paralelo ao julgamento do caso, Walsh fazia investigações e pedia colaborações dos leitores em forma de cartas.

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Publicado em 1995, este livro biográfico reúne apontamentos, esboços de relatos e textos publicados na imprensa, desde entrevistas a um perfil do jornalista por ele mesmo. Material que permite acompanhar a formação de Walsh e seu engajamento político. Ele se tornou um dos 30 mil desaparecidos do regime militar argentino. Sua Carta aberta de um escritor à Junta Militar, assinada
em 24 de março de 1977 – exatamente um ano do início da ditadura – revelava os horrores da perseguição e tortura no país. As dez páginas podem ser acessadas a partir deste link. No dia seguinte, ele foi preso e o paradeiro do seu corpo nunca foi revelado, mas sua obra permanece. Como deve ser.

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