No dia 8 de maio de 1873, o Diario de Pernambuco publicou a sua primeira notícia recebida pelo telégrafo elétrico. Os primeiros telegramas provinham de Maceió, porém com notícias da Corte, como então se costumava designar a capital do Império do Brasil. Era mais uma faceta do progresso que alcançava a metrópole regional do Brasil.
Até então, as notícias chegavam ao Recife através do Correio, quer por via terrestre, quer pelo mar. Uma navegação vagarosa, porém intensa e já mantida por embarcações a vapor, permitia que esta capital recebesse da Europa e do Norte e Sul do país informações um tanto atrasadas, mas cuja chegada condicionava mesmo o aparecimento dos jornais. Era muito comum, a esse tempo, o Diario de Pernambuco avisar os leitores de que as notícias de outras partes do Brasil e da Europa estavam atrasadas, por motivos de retardamento dos navios.
IMPLANTAÇÃO DA LINHA TELEGRÁFICA
A linha telegráfica de Maceió ao Recife atingiu a extensão de 264 km. Inicialmente, a estação do telégrafo na capital pernambucana foi localizada no antigo Colégio dos Jesuítas (na atual Praça 17), onde funcionava a Repartição dos Correios. No dia 12 de abril de 1873 – um sábado de Aleluia – a estação do Recife comunicou-se com a de Maceió pela primeira vez. Não houve inauguração oficial do novo serviço, que foi saudado pelos recifenses como verdadeira maravilha da ciência e da técnica.
Ainda em sua primeira semana de funcionamento, a linha foi danificada e as comunicações ficaram interrompidas. Atos de sabotagem foram praticados contra o telégrafo elétrico, danificando-se alguns isoladores da linha, atingidos por projéteis de armas de fogo.
As primeiras notícias telegráficas do Diario foram publicadas em sua edição de 8 de maio de 1873, porém incluídas na seção Revista Diária. Sob o título Notícias da Corte, este jornal escreveu: “Por telegramas de Maceió, chegados ontem durante o dia, consta o seguinte: O Pará fundeou aqui hoje às seis horas e meia da manhã, vindo do Rio”. Seguiram-se algumas notícias do Sul, encabeçadas por esta informação financeira: “Câmbio sobre Londres fazia-se a 25 3/4 d, por 1$000 firme”.
CABO SUBMARINO
Se bem que esta capital já estivesse ligada ao Sul do Império pelos fios do telégrafo terrestre, o noticiário telegráfico dos jornais recifenses só se tornou possível depois que começou a funcionar o cabo submarino da empresa Western and Brazilian Telegraph Limited. Inicialmente, o cabo foi lançado entre o Recife e Belém do Pará, obtendo-se a primeira comunicação telegráfica no dia 4 de setembro de 1873. O vapor Hooper, que fizera a imersão do cabo na direção do Norte, veio estendê-lo do Recife a Salvador, permitindo a comunicação telegráfica entre as duas capitais a partir de 13 de dezembro.
Três dias após, o Hooper começou a imersão do cabo entre a Bahia e o Rio, concluindo seu trabalho na véspera de Natal. E no dia 1º de janeiro de 1874, procedeu-se à inauguração oficial do telégrafo submarino em terras do Brasil. O imperador Dom Pedro II esteve presente à solenidade, fazendo transmitir o seguinte cabograma aos presidentes das províncias: “Saúdo da capital do Império as províncias de Pernambuco, Bahia e Pará, pela inauguração que hoje se realiza, do telégrafo eletro submarino, que já se estende ao longo da maior parte da costa do Brasil, e espero felicitá-las pela inauguração de outros importantes melhoramentos morais e materiais para nossa Pátria.
NOTICIÁRIO TELEGRÁFICO
A seção de notícias telegráficas foi iniciada com uma edição extraordinária em dia de domingo, cuja santificação o Diario respeitava, deixando de circular. Em 5 de julho de 1874, o jornal apareceu em caráter excepcional, justamente para lançar o seu novo e moderno noticiário. A edição constou de uma página, pois somente foi impresso o anverso da folha, com os telegramas recebidos e algumas outras seções do jornal. Ao fim da segunda quinzena do mês, foi acrescido o noticiário do exterior, a cargo da Agência Havas. Em seguida, os telegramas do país passaram a ser enviados por correspondentes especiais. O jornal passava a beneficiar-se da “maravilha do século”.
OBS: A página do Diario reproduzida acima foi publicada no dia 10 de maio de 1973, por ocasião do centenário do início da operação do telégrafo. A pesquisa e o texto foram de Tadeu Rocha.