Pernambuco enfrenta, nos últimos dias, quase um colapso do seu sistema prisional. A crua realidade atrás das grades transbordou e expôs a necessidade de uma discussão sobre o tratamento dado a quem cometeu crimes, para o bem de quem está cansado de ser vítima da violência. Na verdade, uma preocupação que vem de longe, mas sem este atual quadro crítico de falta de vagas. Em 10 de março de 1882, o Diario reproduziu na sua primeira página a apresentação feita dez dias antes pelo vice-presidente da província, Epaminondas de Barros Correia, na Assembleia Legislativa, sobre o balanço das ações de segurança pública no ano anterior. Naquela época, os deputados tinham acesso às informações sobre o combate à criminalidade e as principais ocorrências registradas, apesar da precariedade na coleta de informações.
De acordo com o relatório, Pernambuco teve 32 réus capturados, sendo 13 por furto, doze por homicídio, seis por ferimentos e ofensas físicas e um por tomada de presos do poder das respectivas escoltas. Também foram capturados 14 desertores, sendo 12 do Exército e dois da Armada Nacional. O documento informa que ocorreram duas mortes por suicídio e foram registradas outras nove tentativas. Em relação às “mortes casuaes”, foram 29 casos, além de um falecimento por imprudência. Como fatos notáveis, foram relatados três incêndios e um acidente na estrada de ferro. Os portugueses eram os estrangeiros que chegavam em maior número a Pernambuco. Dos 340 que aportaram na província, 327 eram de Portugal, mas havia também ingleses, espanhóis e franceses. A preocupação do momento era com a existência de um grupo de malfeitores que agia no interior da província. De acordo com o relato do chefe de polícia, com a volta das chuvas, muitos abandonaram o bando.
A força de polícia era composta por 850 homens, distribuídos em 53 delegacias. No Recife, a vigilância das 373 ruas, becos e travessas da capital era feita por 150 praças. Epaminondas reforça a necessidade de contratação de mais gente para combater a criminalidade. O jornal trouxe um quadro (uma tentativa jurássica de infográfico) contendo o diagnóstico das cadeias públicas, a maioria com a rubrica “sofrível” e “regular”. Em Goiana, Brejo e Triunfo, as mulheres tinham uma estrutura à parte. Na época, a iniciativa privada também era valorizada. Em Águas Belas, um particular disponibilizou uma casa de taipa para este propósito. Ao todo, sem contar com o Recife, Pernambuco tinha reservadas 770 vagas para seus detentos. Número muito menor do que as 3.900 vagas em oito estabelecimentos que acomodam 30 mil detentos.