Em 1846, iniciando o seu 21º ano de circulação, o Diario de Pernambuco registrou no dia 18 de fevereiro um anúncio que seria como tantos outros espalhados nas três das quatro páginas de sua edição, não fossem uma rara imagem e o próprio assunto em si. Não se negociavam ali escravos, roupas, móveis ou alimentos. Não se comunicava a partida e a chegada de navios. Não era a reclamação de um leitor ao poder público ou uma denúncia anônima contra barulho ou sujeira de uma cidade que já ultrapassava a marca de 30 mil habitantes nas suas quatro principais freguesias. Era um comunicado sobre um baile de carnaval que seria realizado na casa-grande do sítio do Sr. Brito, em Cajueiro. Um dos primeiros reclames relativos ao tema impresso no que hoje é o jornal mais antigo em circulação na América Latina.
A publicação era uma convocação do mestre-sala às famílias convidadas. O traje poderia ser o mais simples possível, para mais comodidade nas danças. Quem fosse mascarado que comunicasse com antecedência. E os agregados não seriam permitidos. O acesso só se daria mediante a apresentação do cartão de convite devidamente pago ao tesoureiro. Além do anúncio em si, o que mais chama a atenção é a ilustração que acompanha o texto. Na época, o jornal era montado letra por letra de chumbo. Qualquer imagem publicada era, na verdade, um clichê – uma chapa metálica em relevo – difícil de encontrar naquela época. Aquela figura humana poderia depois ser reutilizada em outro assunto no futuro. Antes da fotografia, um auxílio luxuoso naquele oceano de palavras. Motivo para uma festa. Como a de carnaval.