Se hoje uma parte da imprensa está dedicada a perseguir detalhes íntimos da vida de famosos e candidatos a celebridades, uma grande parcela de culpa vem de Generoso “Gene” Pope Jr., a mente por trás do National Enquirer, um tabloide semanal que fez história ao ultrapassar todas as barreiras com a intenção de divulgar antes o que ninguém se atreveria. Quando a publicação conseguiu, em 1977, a foto de Elvis Presley no caixão, atingiu a incrível marca de sete milhões de exemplares vendidos a 35 centavos de dólar cada. Para se ter uma ideia, mais do que a circulação conjunta dos principais jornais “sérios” do país na época.
Lançado no final do ano passado, com 98 minutos de duração e dirigido pelo premiado Ric Burns, o documentário Enquiring Minds: The Untold Story of the Man Behind the National Enquirer, entrou no cardápio do Netflix brasileiro há poucos dias e é excelente material para quem se interessa ou critica abertamente o jornalismo popular e seus derivados, como blogs de fofocas e programas de TV com seus realities, pegadinhas e flagrantes armados. Fundada inicialmente em 1925 como The New York Enquirer, a publicação só começou a ganhar força em 1952 com a entrada de “Gene” Pope, 25 anos de idade, em cena. Dizem as más línguas que o novo proprietário contou com uma ajudinha financeira da máfia para quitar os US$ 75 mil da compra.
Com o lema “as mentes curiosas querem saber”, Pope começou a explorar o lado negro do jornalismo, orientando as equipes a usar todos os meios para conseguir os furos, incluindo subornos e escutas não autorizadas. Ao mesmo tempo em que acompanhava cada história que seria publicada, demitindo equipes inteiras de supetão, o novo dono fazia história também na área administrativa. Transferiu a sede da empresa para a Flórida, aproveitando a logística e impostos menores, e conseguiu convencer os supermercados a expor as edições em locais estratégicos. A publicação era antes barrada por causa dos cadáveres e pessoas com deformações físicas expostos nas capas. A aposta no submundo das celebridades facilitou tudo.
Quando Pope morreu de ataque cardíaco aos 61 anos de idade, em 1988, a publicação foi leiloada como determinado em testamento, sendo vendida por US$ 412 milhões. Em 2001, na onda dos ataques de 11 de Setembro, um editor de fotografia morreu ao entrar em contato com anthrax dentro de um envelope enviado para a sede da empresa. Todo o complexo foi interditado e o material no seu interior – a coleção das edições publicadas, fotos, vídeos e outros documentos – foi destruído. Seria um triste fim se a publicação não continuasse vendendo semanalmente cerca de um milhão de exemplares, novamente com sede em Nova York, enfrentando processos judiciais de celebridades e sendo responsável direta por um mercado que movimenta, apenas nos Estados Unidos, cerca de US$ 7 bilhões por semana. Ainda há mentes curiosas querendo saber. E pagando barato por isso.