Há oito regras para ser um bom repórter, Jake:
Primeira: Nunca queime suas fontes. Se não conseguir preservar suas fontes, ninguém vai confiar em você. Todos os furos se baseiam na suposição de que você vai preservar a informação. Esse é o princípio e o fim da reportagem. Sua fonte pe sua amiga, sua amante, sua mulher e sua alma. Se trair sua fonte, vai trair a si próprio. Se não preservar sua fonte, você não é um jornalista. Não é sequer um homem.
Segunda: Termine uma matéria o mais cedo possível. A vida das notícias é breve. Se perder a chance, a matéria cai ou você perde o furo.
Terceira: Não acredite em ninguém. As pessoas mentem, a polícia mente, até seus colegas repórteres mentem. Admita que mentem e aja com cautela.
Quarta: Obtenha toda informação que puder. As pessoas são boas ou más, a informação não. A informação é o que é, não importa quem a trouxe até você, ou de onde a roubou. O importante é a qualidade, a veracidade da informação.
Quinta: Memorize e persista. Matérias esquecidas voltam para assombrar as pessoas. O que parece um caso insignificante pode se transformar mais tarde numa grande matéria. Continue atento a uma investigação em curso e verifique onde ela vai dar. Não permita que o fluxo constante de novas notícias o faça esquecer casos inconclusos.
Sexta: Use a triangulação em suas matérias, principalmente se não forem baseadas em declarações oficiais de autoridades. Se uma informação puder ser confirmada junto a três fontes diferentes, é mais provável que seja quente.
Sétima: Escreva tudo em pirâmide invertida. Os editores cortam pelo pé. A coisa importante vai no início, os detalhes banais, no fim. Se quiser que sua matéria chegue a ser publicada, escreva um texto fácil de cortar.
Oitava: Nunca ponha suas opiniões pessoais numa matéria, deixe que alguém faça isso em seu lugar. É para isso que existem especialistas e comentaristas. A objetividade é uma coisa subjetiva.
E isso é tudo.
Ansei Inoue, jornalista famoso e autor de Trinta e três anos como repórter policial, em 1992 era o chefe da equipe policial do Youmiuri Shimbun, o mais prestigiado jornal do Japão, com tiragem diária de dez milhões de exemplares. Os mandamentos acima foram repassados por ele a Jake Adelstein, norte-americano – e judeu – que conseguiu a proeza de se tornar o primeiro repórter estrangeiro contratado para escrever no idioma local. A vivência profissional de Adelstein na redação e, principalmente, nas delegacias e inferninhos do país do sol nascente foi transformada em um livro interessante para quem gosta e vive de jornalismo, Tóquio proibida – Uma viagem perigosa pelo submundo japonês foi lançado originalmente em 2009, com versão no Brasil em 2011 pela Companhia das Letras.
Adelstein trabalhou no Youmiri por 12 anos. No livro, relata seus casos mais interessantes e descortina um Japão proibido para gaijins. Um país onde manual para suicídios é best seller e a exploração de boates com propósito sexual é consentida de todas as formas impossíveis, desde que não haja penetração vaginal. Ele abandonou o jornal depois que passou a ser ameaçado por um chefão da Yakuza que teria feito um transplante de fígado nos Estados Unidos, mesmo estando na lista negra do FBI. De posse da informação, Adelstein viu a vida se tornar um inferno. Deu a volta por cima, virou escritor e agora ainda abastece regularmente o site Japan Subculture, com textos em inglês e japonês.
Os mandamentos de Inoue serviram para manter Adelstein na estrada e garantiram sua sobrevivência também. Nada impede de usarmos por aqui também.
Confira o início do livro em PDF disponibilizado pela própria Companhia das Letras.