Em Foco 2602

Indicação do estudante de engenharia elétrica da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (UPE), Caio Moreira, pela revista Forbes como um dos 30 jovens com menos de 30 anos mais influentes do país fortalece o Ciência Sem Fronteira, um dos programas brasileiros mais bem-sucedidos. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta quinta-feira, por Silvia Bessa. A foto é de Ricardo Fernandes.

Além do que a vista alcança

Silvia Bessa  (texto)
Ricardo Fernandes  (foto)

Ficou perdida entre os parágrafos das matérias jornalísticas de veículos de todo o Brasil a principal e mais valiosa informação sobre o estudante de engenharia elétrica da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (UPE) Caio Moreira Guimarães, que foi eleito pela revista Forbes um dos 30 jovens com menos de 30 anos mais influentes do país. Nada tem a ver com a mãe dele, Mariza, que continua confinada na casa do Big Brother Brasil, virou estrela midiática e até ontem, sem saber do feito do filho, apelava para ser mantida pelos telespectadores porque sonha em ter o dinheiro do prêmio para custear as pesquisas dele.
Se não o resumo, mas uma parte significativa do sucesso desse jovem de 24 anos está aqui: Caio iniciou nos Estados Unidos a badalada pesquisa que o levou para a lista dos melhores. Esteve lá durante um ano porque foi financiado pelo governo enquanto bolsista de graduação-sanduíche do Ciência sem Fronteira (CsF). Foi graças às facilidades oferecidas pelo programa que ele desenvolveu os estudos em parceria com a prestigiada Universidade de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts para tratar infecções bacterianas resistentes a antibióticos. Caio Moreira foi excepcional nas suas descobertas ao desenvolver uma matriz de agulhas óticas adaptável a cada ferimento e com capacidade de acessar o tecido do doente por onde passará o medicamento. Disse-me ele que a família nunca teria condições de financiar tal viagem: “Até então não tinha ido sequer à Argentina, que é aqui pertinho. Foi graças ao Sem Fronteiras e divulgá-lo é um favor que você faz ao programa”.
Caio é de uma típica família de classe média sacrificada. Trabalha desde os 17 anos; se banca, paga pequenas contas da casa, como telefone e internet, e pensou duas vezes para largar o único rendimento que tinha. Tinha inglês precário, conta ele, até resolver se preparar para concorrer a uma uma bolsa. Ficou de 25 de agosto de 2013 até 25 de agosto de 2014 nos Estados Unidos. Até chegar lá não nutria o sonho de ir a Nova York, muito menos a Orlando. Queria mesmo era ir para a Europa, até que professores o convenceram que as melhores oportunidades acadêmicas estariam nos EUA e que a Europa deveria ser destino para passeio.  “Tive medo, dúvidas e acho que é normal, afinal de contas somos jovens e inseguros”, reconheceu, relembrando incertezas sobre o aporte do programa.
Pagaram-lhe viagem de ida e volta, o enxoval para suportar o frio (casacos e mantas, entre tantas novidades), cuidaram da moradia dentro da universidade, deram-lhe cartão de alimentação e garantiram apoio para episódios que envolvessem emergência de saúde. Por fora, U$$ 300 para gastos extras. “Não é muito, considerando o custo de lá, mas economizava e deu para conhecer os Estados Unidos. Conheci Las Vegas, Los Angeles e muito do Estados Unidos com o dinheiro da bolsa do Ciência Sem Fronteiras”, lembra, falando como todo turista diante do novo. “O programa abriu minha cabeça”, conta ele, que era aluno da UFPE e transferiu o curso para a UPE.
Não sei se o Ciências Sem Fronteiras é divulgado como deveria. Sabia pouco dele até notar que tem atraído ou mobilizado um tanto de estudantes cujos pais não têm condições de bancar intercâmbio ou facilitar chances para bons estágios no exterior. Caio foi um. Até 2015 serão 101 mil bolsas para intercâmbios como forma de graduação e pós com estágios em outros países, contemplando alunos de áreas como engenharias (é o caso de Caio, aluno de engenharia elétrica e lá nos EUA acabou em estágios da área de bioelétrica), biologias, tecnologias e outras tantas. O dinheiro é do governo federal e seu objetivo é a internacionalização de ciência.
Já tinha admiração pelo programa. A conquista de Caio fez com que a admiração aumentasse. Caio Moreira, um dos 30 jovens abaixo de 30 anos mais influentes do Brasil, contou-me que optou pelos EUA como uma de suas primeiras opções quando disputou vaga no Sem Fronteiras porque queria que a viagem fosse um divisor de águas vida. Pela indicação da revista Forbes e pela pesquisa dele na medicina, já se sabe que foi. Imagina-se quantos Caios estão por aí comemorando o sonho de vivenciar oportunidades em invernos, primaveras, verões e outonos norte-americanos, irlandeses, franceses, canadenses, ingleses…