O primeiro presidente da República eleito por voto direto após a ditadura tomou posse em 15 de março de 1990. Um dia depois, já sacudia o país com um plano econômico que entrou para a história como um verdadeiro confisco. Fernando Collor de Mello, que durante a campanha de 1989 ficou conhecido como o “caçador de marajás”, apontava agora para a inflação. Já no seu primeiro dia em Brasília, ainda sem esquentar a cadeira, assinou cinco medidas provisórias e quatro decretos que extinguiam órgãos federais e vendiam imóveis funcionais, além de cortar incentivos para as regiões Norte e Nordeste. Em 16 de março, era hora dos brasileiros serem surpreendidos com medidas extremas no plano de emergência que levaria o nome do mandatário, anunciado à noite em cadeia nacional.
O Diario de Pernambuco dedicou praticamente todas as suas capas da segunda quinzena de março de 1990 para os efeitos do Plano Collor. O jornal do dia 17, um sábado, abria sua manchete com uma frase do presidente: “O Brasil não aceita mais derrota. Agora é vencer ou vencer”. “Collor de Mello congelou, temporariamente, preços e salários, limitou os saques em conta corrente, contas remuneradas, poupança e overnight. Também fez uma reforma que recria o cruzeiro para entrar no lugar do cruzado, mas sem cortar nenhum zero, e extingue subsídios e incentivos fiscais”, descrevia o texto. Quem cometesse abuso econômico poderia pegar até cinco anos de cadeia. No dia 17, o jornal estampava que pesquisa Datafolha mostrava o apoio da maioria dos brasileiros às medidas, sendo que no Recife 51% acreditavam no sucesso do Plano Collor. No dia 23, outra pesquisa Datafolha revelava que a população ainda considerava as medidas mais benéficas do que prejudiciais.
Entre prisões de gerentes de lojas e gerentes de bancos, o Plano Collor não demorou a fazer água. Pequenos e médios empresários foram atingidos com a restrição ao crédito e as demissões aumentaram. A inflação não foi controlada e chegou a 84,32% naquele mês e a acumulada do ano era de inacreditáveis – para os padrões de hoje – 4.853,90%. A convocação da população ao sacrifício não surtiu efeito. O “caçador” começou a virar caça. Denunciado por corrupção pelo próprio irmão, acabou renunciando ao mandato ao sofrer processo de impeachment. Oito anos depois de suas cassação, voltou a Brasília em 2006 como senador. Até hoje.