graciliano

Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press

Decido que este blog terá patronos. O primeiro deles será o escritor alagoano Graciliano Ramos, falecido em um dia 20 de março, o de 1953, aos 60 anos de idade, vítima de câncer pulmonar. O velho Graça, para os íntimos, não gostava de desperdiçar nada, da vida às letras. Nestes tempos atuais em que os repórteres de jornais reclamam do pouco espaço para exercer sua nobre arte, vale a pena perder alguns segundos para sorver na tela do smartphone ou do computador as lições gracilianas. As frases abaixo, que podem servir como mandamentos da boa escrita para jornalistas deste século 21, foram retiradas de um texto de outro patrono deste blog, o sergipano Joel Silveira, repórter que foi à guerra e construiu uma carreira onde a excelência era fruto da observação. Do encontro entre eles, em 1938, Graciliano revelou as artes do seu ofício:

Escrever é uma coisa, escrevinhar é outra.

Quem escreve deve ter todo o cuidado para a coisa não sair molhada.

Da página que foi escrita não deve pingar nenhum palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal.

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Sabe como elas fazem? Elas começam com uma primeira lavada. Molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Depois colocam o anil, ensaboam, e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Depois batem o pano na laje ou na pedra limpa e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.

A obra de criação, para mim, é quase sempre imprevista. E espontânea. Refaço tudo, depois. Escrever dá muito trabalho

Gerúndio só quando absolutamente necessário. Dos supérfluos a gente deve fugir como o diabo da cruz.

Dez anos depois, em entrevista a Homero Senna, Graciliano soltou mais duas pérolas sobre o ofício de escrever:

Dicionário, para mim, nunca foi apenas obra de consulta. Costumo ler e estudar dicionários. Como escritor, sou obrigado a jogar com palavras. Logo, preciso conhecer o seu valor exato.

Não há talento que resista à ignorância da língua.

Ficou interessado? Então confira o texto de Joel Silveira na íntegra clicando aqui