Em Foco 2103Para marcar o Dia Internacional da Síndrome de Down, que começou a ser celebrado em 2006, contamos a história de Caleb, menino que virou motivação de vida para um casal pobre de Pernambuco. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco do sábado, por Silvia Bessa. A fotografia da página é de João Velozo.

Caleb, o presente surpresa

Silvia Bessa  (texto)
João Velozo  (foto)

O cimento que constrói o futuro de uma criança especial é o amor. É um colo aconchegante, compreensivo, paciente. Uma mão firme que puxe sempre para frente. A disposição para lidar com o inesperado…O amor, sobretudo esse especial, faz o adulto superar uma dose extra de medos e angústias. Buscar respostas. Ir além da fadiga comum a qualquer pai, mãe, cuidador dedicado de tempo integral, acordar sem dormir por completo para, enfim, levantar-se e erguer o outro e vibrar a qualquer avanço.
Caleb Souza, 3 anos, teve a sorte de se aninhar no amor oferecido por Aurineide e André. Eles não gestaram o garotinho de cabelos louros e lisos, da pele branquinha como um coelhinho desses que ilustram o período de Páscoa. Eles nunca fizeram planos de ir ao parque com o menino, nem prepararam o enxoval mimoso para Caleb. Tios, acompanharam a chegada do pequeno como espectadores. Quando Caleb nasceu em agosto de 2011, Aurineide e André estavam lá para guardá-lo. Até que vieram os médicos com o anúncio: ele tem Down. “Foi assim que ganhamos essa surpresa”, conta Aurineide, olhando para o menino levado que não fala ainda mas entende tudo – sobretudo se a autoridade do pai ou da mãe lhe disser: “Caleb, pode comer o bolo”. Um bolinho de chocolate com merengue suíço pomposo.
“Ganhamos ele”, ouvi de Aurineide na quinta-feira, tratando Caleb como um belo presente. Dela e do marido André, Caleb recebeu dengos nos primeiros dias. O garotinho tinha mãe biológica (a irmã de André) e iria para a casa que o aguardava. Foi. Quatro meses depois, Caleb mudou de residência, de caminho, de família. Somou mais dois irmãos – Larissa e Lucas, já adolescentes, além de Gabriela (irmã de sangue). “Se você me perguntar o que ele é hoje para mim, eu te digo que Caleb é minha motivação de viver. Tudo que eu e André fazemos hoje é em torno dele”, conta Aurineide, uma dona de casa prendada na cozinha que virou mestre em administrar a agenda intensa e funcional do filho que adotou.
Caleb pratica fonoaudiologia, terapia ocupacional, capoeira, psicomotricidade e tem aulas de culinárias. Tudo na Associação Novo Rumo – uma entidade, comandada pela geneticista Paula Arruda, que virou referência no estado quando se fala em apoio a crianças e adolescentes com necessidades especiais. Na agenda de Caleb, cabe ainda a equoterapia e a natação. Aurineide e André, pais de Caleb por opção, são voluntários e ajudam no funcionamento da Associação Novo Rumo. Nesses dias, por exemplo, estão dedicados à produção de ovos trufados, cujas encomendas estão sendo feitas pelo fone 81 3267-0163 e que servirão para aumentar a renda de cinco famílias integradas no projeto de culinária promovido pela Associação.
Como sabem, hoje é comemorado o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data será marcada por atividades que buscam sensibilizar a sociedade para o fim do preconceito e a inserção das pessoas com síndrome de Down. Histórias ocuparão todo o noticiário do Brasil e do exterior. Eu fui em busca de uma, para mim, emblemática: a de um menino com Down acolhido por uma família pobre, que batalha dia e noite pelo desenvolvimento pleno do filho especial. Casos como o dele nem sempre estão na imprensa, mas têm sido vistos cada vez mais nas associações de apoio mundo afora.