Em Foco 2403

Governadores do Nordeste têm encontro com Dilma e buscam evitar que as  necessidades da região sejam contaminadas pela agenda negativa que monopoliza o ambiente político do país. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta terça-feira, por Vandeck Santiago. A foto é de Annaclarice Almeida.

O NE quer entrar na conversa

Vandeck Santiago (texto)
Annaclarice Almeida (foto)

Se você quiser dar uma manchete sobre o Brasil que não fale de crise, para onde olha? Não quero puxar brasa para minha sardinha não, mas a resposta é óbvia: para o Nordeste. A revista IstoÉ Dinheiro (que é de São Paulo) percebeu isso e na sua edição que está nas bancas, a manchete é Os leões do Nordeste, com fotos de cinco grandes empresários da região (um com atividade-sede no Ceará, outro no Maranhão e três em Pernambuco) e os dizeres: “A região que mais cresce no Brasil virou um celeiro de empresas gigantes e bem-sucedidas. Apesar da crise econômica, continua atraindo investimentos bilionários”. Escrevi sobre isso aqui no Em Foco, em textos de 19 de fevereiro (Nem tudo é crise) e 21 de fevereiro passados (Por uma agenda regional), mas é sempre bom quando outros entoam a mesma cantoria.
Não é que o Nordeste esteja imune à crise do país, ou que aqui estejamos vivendo em um paraíso. Mas temos uma realidade diferente e é um erro se nós, aqui no próprio Nordeste, ficarmos entregues a uma agenda negativa como se ela fosse a única existente, abrindo brechas que podem vulnerabilizar – ou mesmo levar ao fracasso – importantes conquistas obtidas na última década. Uma boa notícia que se pode tirar daí é que os governadores da Região estão cientes disso. Está marcada para amanhã uma audiência deles com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília. Pelas articulações que têm desenvolvido até agora, dá pra dizer que não vão apenas para comer o tradicional pão de queijo do Palácio; já construíram suas reivindicações em um encontro realizado em 9 de dezembro do ano passado, quando como “governadores eleitos” recriaram o fórum de governadores. Daquele encontro saiu uma “Carta da Paraíba”, que defendia em seu parágrafo inicial:
Renovar “o compromisso de buscar políticas sociais que distribuam renda e estabeleçam mobilidade social ascendente para milhões de pessoas, produzindo dignidade. Vamos trabalhar pela melhoria dos indicadores sociais e econômicos da Região, na busca pela redução das desigualdades existentes. Na construção dessa agenda positiva e convergente a todos os estados do Nordeste, algumas questões se sobressaem e precisam ser vistas de modo prioritário e urgente pelo governo federal”.
Esse trecho destaca um ponto que é imprescindível para nós: a redução das desigualdades (tanto a da pobreza, porque a maioria dos pobres é nordestina, quanto a desigualdade entre as regiões, hoje apesar de ter um PIB significativo, R$ 104 bilhões, ele representa apenas cerca de 14% do PIB do Brasil). E, profeticamente, porque a crise ainda não tinha as feições de hoje, fala da necessidade da construção de uma “agenda positiva e convergente a todos os estados do Nordeste”.
É importante que os governadores do Nordeste tenham um fórum (o que lhes dá unidade em suas reivindicações) e abram enquanto grupo interlocução com a presidente. Em termos eleitorais, o Nordeste foi fiel da balança para Dilma nas duas eleições que ela ganhou, mas no exercício do governo a presidente não tem demonstrado para o Nordeste a mesma sensibilidade demonstrada por Lula.
Na Carta em João Pessoa, os governadores expuseram suas necessidades mais urgentes, como a criação de uma linha de crédito especial, “Proinveste Nordeste”, para investimentos em infraestrutura dos estados, nos moldes do Proinveste atualmente em execução; investimentos na infraestrutura e logística de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos; uma política nacional de segurança; construção de novas universidades e escolas técnicas e a criação de um novo ciclo de industrialização, com a manutenção de incentivos fiscais para as empresas instaladas na região.
A construção de agendas regionais como parte da agenda nacional é uma forma de evitar que o país torne-se dependente de uma agenda única (que nesse momento é a da crise).