Em 1909, dois norte-americanos anunciaram ao mundo que haviam chegado onde nenhum homem havia posto os pés antes: o Polo Norte, joia cobiçada entre os exploradores geográficos. O médico Frederick Cook alegava que atingira seu objetivo em abril de 1908. O engenheiro civil Robert Peary dizia que chegou na área em abril de 1909. Quem tinha razão? Neste livro de 347 páginas, publicado originalmente em 2006, o jornalista Bruce Henderson reconstitui a história desta rivalidade que resultou em perdas de vidas humanas, casamentos infelizes e campanhas de difamação. Com o apoio governamental e um marketing sem escrúpulos, Peary acabou ganhando as honras na época, apesar de não ter apresentado nenhuma prova de que realmente havia alcançado o Polo Norte. Cook, que perdeu seu material utilizado na conquista pelo boicote do próprio Peary, viu a glória imediata transformar-se em infâmia. Só no final do século 20 a situação se inverteu, com o reconhecimento tardio ao feito do médico. O degelo, enfim, havia começado.
TRECHO DO LIVRO
O alvorecer em 19 de fevereiro proporcionou a primeira visão do sol, e uma fileira de trenós logo se formou à porta do depósito de provisões. Levavam 1.800 quilos de víveres e equipamento, e certa quantidade de pele e gordura de leão-marinho para alimentar os cães, até que Cook encontrasse bois-almiscarados em grande número.
Às oito hora daquela manhã, a última corda foi amarrada e tudo estava pronto – oito trenós com carga total, puxados por 103 cães, conduzidos por Cook, Franke e nove esquimós, “escolhidos a dedo” entre um grande número de nativos que se ofereceram para acompanhá-los. Cook atribuía sua habilidade de “conquistar a amizade e a confiança dos nativos” ao fato de falar sua língua “o suficiente para discutir assuntos corriqueiros”. Também lhe fora útil, desde os primeiros dias no Ártico, ter se interessado por seus costumes e respeitado suas tradições.
As tribos esquimós do norte da Groenlândia não admitiam que a Terra fosse redonda. Em algum lugar da extremidade mais escura do mundo plano, um imenso prego fora cravado no gelo; por isso, “Grande Prego” era o nome que davam ao Polo. Acreditavam que, de algum modo, esse prego gigantesco tinha caído e desaparecido e, uma vez que ferro era mais importante para eles do que ouro, reconheciam seu valor. Através da tradição oral, sabiam que homens brancos, falando várias línguas diferentes, empenharam-se na busca – em face da constatação do valor do prego -, e também era de seu conhecimento de que muitos desses homens jamais retornaram. Os próprios esquimós jamais saíam à procura do Grande Prego, pois sabiam muito melhor do que qualquer povo dos perigos das longas viagens através do gelo que cobria o oceano mais ao norte do mundo. Preferiam permanecer em terra ou próximo à terra, perto dos campos onde seria possível caçar, obtendo desse modo alimento e roupa. Era de caçar o que entendiam, e quando Cook lhes falou sobre novas terras onde o boi-almiscarado, cuja carne apreciavam, andava à vontade, encantaram-se. Além das ferramentas, armas e outros utensílios que Cook lhes oferecera por seus serviços, eram motivados a tomar parte na expedição em virtude da chance de descobrir novos campos favoráveis à caça.
Ao supervisionar a fileira de trenós que aguardava o sinal de partida, Cook sentiu o “coração disparar”, sabendo que chegara o momento de dar início à sua busca ao Polo. Os caçadores também demonstravam entusiasmo pelo começo da jornada, e os cães meio selvagens, assimilando a energia dos homens reunidos, latiam, ansiosos por começar a puxar os trenós. Açoites estalaram no ar, e as equipes de cães avançaram.
páginas 211 e 212