Em Foco 2204

De militante do clandestino PCBR a deputado federal pelo PT, Pedro Eugênio teve uma trajetória que no sucesso e insucesso se confunde com a da geração de 1968. Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco desta quarta-feira, por Vandeck Santiago. A foto que ilustra a página é de Teresa Maia.

O que fica depois da vida

Vandeck Santiago (texto)
Teresa Maia (foto)

A trajetória do ex-deputado federal petista Pedro Eugênio, falecido anteontem em São Paulo aos 66 anos, por complicações em uma cirurgia no coração, é uma espécie de retrato das venturas e desventuras da geração de 1968 – aquela geração que queria mudar o mundo e que se engajou nesse propósito como quem atende a um chamado do destino. Filho de um coronel reformado do Exército, ele estudou numa escola militar e durante um ano participou de um intercâmbio nos EUA. Fez vestibular em 1968, foi aprovado e em 1969 entrou na universidade – em duas, para dois cursos diferentes: economia, na Universidade Católica, e engenharia, na UFPE. Passou a atuar no PCBR, Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, uma das organizações de esquerda empenhadas na luta armada para derrubar a ditadura. Foi preso em 1972, torturado, libertado após um ano na prisão, e absolvido.
Os militantes dessa geração puseram a vida em risco em prol do sonho que julgavam ser o melhor para o Brasil – muitos acabaram por isso passando os anos da sua juventude na cadeia, depois de uma inevitável escala nos porões da tortura; outros tiveram destino ainda pior: foram mortos, e alguns nunca tiveram sequer direito à sepultura, porque seus corpos permanecem desaparecidos.
Mas a história não para aí. Com o fim da ditadura, os integrantes de 68 ajustaram-se às regras do jogo democrático (se não todos, pelo menos a grande maioria…) e engajaram-se na disputa pelo voto como forma de chegar ao poder. Nesse processo, foram deixando muitas ilusões pelo meio do caminho. Mas muitos mantiveram o eixo de suas convicções: a melhoria do Brasil passa pela melhoria de vida dos seus pobres. Pedro Eugênio estava nesse grupo. Foi secretário de três pastas nos governos de Miguel Arraes: da Fazenda, em 1996; do planejamento, em 1988, e da agricultura, em 1987 – neste, coordenou o Chapéu de Palha, programa que destinava renda aos canavieiros no período da entressafra, quando eles ficam sem emprego.
Elegeu-se deputado estadual (1994) e federal (1998) pelo PSB, filiando-se depois ao PT, partido pelo qual foi deputado federal por dois mandatos (2007-2014). Concorreu à reeleição ano passado e perdeu. Morreu em um ano difícil para os seus companheiros de geração e militância. O ícone da geração 68, José Dirceu, foi condenado e preso, acusado de envolvimento em um escândalo de corrupção política. A presidente, Dilma Rousseff, ex-militante da luta armada, sofre com uma desaprovação inédita, superior a 60%.
A gangorra da história alterna períodos em que ora você está no topo, ora em baixa. Não há surpresas nisso. Mas o importante é que, esteja onde estiver, todos possam ver o exemplo que você dá. Como disseram aliados e adversários, Pedro Eugênio deixa o exemplo de político honesto, conciliador, coerente com sua opção ideológica, competente na ação e gentil no trato. Os cargos passam. As vitórias e as derrotas passam. A própria vida passa. O que fica é o que você fez em vida.