Cagliostro

Nascido Giuseppe Balsamo, em 1743, na cidade italiana de Palermo, ele morreu solitário na fortaleza de Sant’Angelo, por ordem do Vaticano, sob acusação de heresia, em 1795. Neste pouco mais de meio século de vida, Balsamo aprontou muito. Adotou o nome de Conde de Cagliostro e viajou pela Europa, realizando sessões de magia, curando os pobres com remédios produzidos com seus conhecimentos de química e fundando ramificações de seu movimento Maçonaria Egípcia. Foi denunciado pela própria mulher, Seraphina, que também servia como isca sexual para os financiadores de seus projetos.

De alquimista, Balsamo ou Cagliostro teve muito pouco. Mas vale a pena conhecer mais sobre esta figura que despertou a fúria de Catarina, a Grande, imperatriz da Rússia, além do desejo de Maria Antonieta de vê-lo encarcerado por causa da fraude na venda de um colar. Cagliostro foi fonte da poesia de William Blake e inspirou personagens do Goethe verdadeiro (Fausto) e Mozart (A Flauta Mágica). Se queria tornar-se uma figura lendária, o falso conde conseguiu. E este livro de 288 página do historiador australiano Iain McCalman, publicado no Brasil em 2004, conta tudo isto, com direito a ilustrações da época. Um luxo.

Caliostro - A_Masonic_anecdote'_(Alessandro_Count_of_Cagliostro_(Giuseppe_Balsamo))_by_James_Gillray

Nascido só Deus sabe onde, mantido só Deus sabe como,
De quem descende – difícil saber;
Lorde Revolta adota-o como amigo do peito
E insanamente ousa defender seu caráter.
Esse autoproclamado conde tornou-se há alguns anos
Um irmão maçom com um nome falso;
Pois muitos nomes ostenta
E em cinquenta formas como Proteu se apresenta.
“Veja em mim (ele diz) um filho da Dama Natureza
de alma benevolente e maneiras gentis,
em mim veja o inocente Acharat,
que conhece o mistério de fazer ouro;
ostento um coração amoroso, uma consciência pura,
vanglorio-me de um bálsamo que cura qualquer mal,
minhas pastilhas e pós todas as doenças eliminam,
renovam seu vigor e melhoram sua saúde.”
Esse ladino papel o arqui-impostor representa
E assim atrai o fraco e o crédulo.
Mas agora que sua história foi revelada
Surge o descarado hipócrita e tratante;
Primeiro como Balsamo ele experimenta pintar,
Mas fazendo apenas borrões, ele desiste do ofício;
Em seguida, como médico charlatão partiu para o estrangeiro;
E muitos nomes arrolou na lista negra da Morte.
Três vezes visitou as costas britânicas
E toda vez usou um nome diferente;
Os corajosos alsacianos ele facilmente engabelou
Vangloriando-se de fórmulas egípcias da Antiguidade.
O mesmo truque praticou em Bordeaux,
Em Estrasburgo, Lyon e Paris também.
Mas o destino reservara para o irmão Mash a tarefa
De arrancar a máscara do vil impostor.
Que todos os verdadeiros maçons prestem atenção à sua história
Sincera!
E que a risada da sátira ponha um fim à fraude!
James Gillray (caricaturista britânico, 1757-1815)

“É um homem cujos simpatizantes consideram sábio porque, quando fala, parece ignorante. É um homem persuasivo porque não domina nenhuma língua. É um homem que as pessoas compreendem porque ele nunca se explica… É um homem que as pessoas acreditam ser nobre porque é rude em seu discurso e em seus modos. É homem que acreditam ser sincero porque tem toda a aparência de um mentiroso.”
Giacomo Casanova (escritor, aventureiro e conquistador italiano, 1725-1798)

“Charlatão dos charlatões! Uma face prodigiosa de canalhice: um rosto gordo, rude, abominável; úmido, de nariz achatado, gorduroso, pleno de avareza, sensualidade e obstinação bovina: uma fronte impudente, que se recusa a se envergonhar; depois dois olhos voltados para cima, lânguidos e angelicais, como em contemplação e adoração divinas; um toque de enigma, também: no todo, talvez o mais perfeito rosto de um charlatão produzido pelo século 18.”
Thomas Carlyle (escritor, historiador,ensaísta e professor escocês, 1795-1881)