A fila gigantesca incorporou-se à paisagem do Centro do Recife. Saía do Cine Veneza, na Rua do Hospício, e serpenteava em direção à Conde da Boa Vista. Antes da espera, um lanche comprado nas Lojas Americanas ou um cachorro-quente no Cascatinha ou uma lasanha na Karblen. Ou uma pipoca ou uma pastilha Valda ou uma bala Soft ou um pirulito Zorro do tabuleiro do baleiro já depois de ter se posicionado na calçada. Longe do conforto dos “multiplexes”, assistir a um filme em 1991 era uma aventura. O preço do ingresso era mais acessível, mas não havia a garantia de assento, porque ninguém era obrigado a se retirar quando o “the end” aparecesse e as luzes acendessem. Tinha gente que poderia entrar na metade do filme e ficar para ver o início. E tinha gente que ficava para ver duas ou três vezes seguidas, incomodando quem estava ao lado por revelar em voz alta detalhes da história.

Mas no final de 1990 e início de 1991, nunca o Recife se mobilizou tanto por um filme. A trama era de outro mundo. Um casal separado por causa de um assassinato voltava a se encontrar graças a uma médium trambiqueira. Ghost, o outro lado da vida, com Patrick Swayze, Demi Moore e Whoopie Goldberg eram sucesso de bilheteria. Em cinco meses em cartaz já havia sido visto por 340 mil pernambucanos e sete milhões de brasileiros. Era o que registrava o Diario de Pernambuco em 30 de abril de 1991, na capa do caderno Viver.

“Decididamente, Ghost resume-se apenas em uma história de amor bem contada ao som de uma bela música”, resumia o texto sem assinatura, que recolhia depoimentos de quem enfrentou as quilométricas filas por mais de uma vez. Gente como Ubiratã Martiniano da Silva, na época com 19 anos, que viu o filme cinco vezes. Ou Adriana Maia Torquato, que iria assistir pela segunda vez porque “o enredo era lindo”. Fenômeno semelhante só voltaria a ocorrer com Titanic, que entrou em cartaz em 1998, quando a capital pernambucana foi a pioneira no Nordeste na implantação de um complexo de cinemas, com o Multiplex Recife ao lado do Shopping Recife. Mas aí já é outra história.