Em Foco 0407
Governantes dão pouca atenção a este combate – até o momento em que a situação se deteriora a tal ponto que precisam agir em situação de emergência, quando talvez seja tarde demais.

Vandeck Santiago (texto)
Silvino (arte)

Tem um ensinamento para a política o que aconteceu ontem com Maria Júlia Coutinho, a “moça do tempo” do Jornal Nacional da TV Globo. Uma foto da jornalista foi postada na página do noticiário no Facebook e logo surgiram diversos comentários racistas contra ela, que é negra. A equipe do JN – incluindo os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos – reagiu de imediato. Gravou um vídeo de apoio e deflagrou a campanha #somostodosmajucoutinho. O caso terá também desdobramentos na Justiça.
Qual o ensinamento para a política? Este: as agressões têm de ter pronta resposta. No caso de governantes, as agressões não necessariamente trazem vantagem para quem as faz, mas quando não convenientemente respondidas corroem o respeito que, em tese, toda autoridade deve ter. Não é um ato isolado que faz ruir o respeito, porém uma sequência deles – a questão é que um vai abrindo caminho para o outro, e assim sucessivamente. A situação piora quando o governante faz uma administração impopular.
A dúvida nesses casos é se o fato de respondê-los não vai acabar reverberando os ataques, e aí em vez de estancá-los a reação acabaria fazendo-os prosperar. Numa disputa eleitoral, é compreensível a hesitação. Mas no exercício do governo, não. Porque aí não se trata mais de um candidato em busca da aprovação de eleitores, e sim de uma autoridade investida do poder do cargo. Até hoje, por exemplo, acho que a falta de uma resposta convincente aos xingamentos com palavrões contra a presidente Dilma Rousseff, durante a abertura da Copa do Mundo em 2014, abriu a porta para os novos ataques que se tornaram cada vez mais radicalizados (sim, óbvio, se ela estivesse fazendo um governo popular, a situação seria diferente. Mas como não é o caso…). Naquele momento os partidos e as forças que apoiam a presidente deveriam ter reagido energicamente.
Quando não há resposta, sobra o vácuo – e aí pode vicejar a impressão de que a vítima dos ataques não responde porque não tem o que dizer, ou que é fraca para uma resposta à altura, ou que é tão ruim que não tem ninguém para defendê-la, ou que é mole. A partir daí está criado o ambiente propício para o crescimento acelerado dos ataques – desde que não há reação, qualquer um se dispõe a partir pra cima. Um caso emblemático disso foi a administração de João da Costa na Prefeitura do Recife em seus dois últimos anos (de 2010 a 2012).
As respostas devem ser em todas as áreas possíveis: na jurídica, quando for o caso; na política e na comunicação (aí incluídas as redes sociais, cujo monitoramento é imprescindível nos dias de hoje). Se o governo tem força na sociedade civil, deve valer-se disso também. As respostas capazes de ter mais eficácia são aquelas feitas no momento certo, consistentes (sem deixar margem a pontos não explicados) e com a máxima transparência possível. Minha impressão é que os governantes dão pouco valor a este combate – até o momento em que a situação se deteriora a tal ponto que precisam agir em situação de emergência, quando talvez seja tarde demais.