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Um piauiense com alma de mineiro, que conheceu como poucos os meandros do poder, primeiro no Rio de Janeiro e depois em Brasília, a capital federal plantada no meio do nada por Juscelino Kubitscheck. Carlos Castello Branco (1920-1993), o Castelinho, foi leitura obrigatória das autoridades e oposicionistas principalmente entre 1963 e 1993, no Jornal do Brasil. Foram mais de oito mil colunas políticas em três décadas, material esmiuçado pelo escritor e também jornalista Carlos Marchi na biografia “Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade”, lançado em março pela editora Record (R$ 60).

Castelinho foi um observador atento da democracia brasileira intercalada por duas ditaduras. Conviveu com presidentes eleitos direta e indiretamente e suas análises – cifradas, na época da censura – são incorporadas hoje à história política nacional. Marchi conta a odisseia de Castelinho em 560 páginas, em texto que precisa de uma revisão um pouco mais criteriosa nas próximas edições.

Castelinho foi secretário de imprensa do presidente Jânio Quadros. Embarcou naquela aventura que acabou precipitando a ascensão dos militares. Depois, apesar das pressões e das censuras interna e externa, o jornalista seguiu em frente com suas convicções. Só tinha uma dúvida, que lhe perseguiu até a morte. O seu filho Rodrigo, que morreu de um acidente automobilístico em 1975, teria sido vítima, na verdade, de um atentado dos militares em represália às suas críticas?

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Referência dos jornalistas de várias gerações, Castelinho era cheio de fraquezas, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Aceitou nomeações para ele e para a esposa. Passou a beber sem conta depois da perda do filho, não era afeito a novos contatos e sonhava mesmo era ser escritor, feito que seu amigo Fernando Sabino conseguiu. Mesmo sendo eleito para a Academia Brasileira de Letras, sabia que sua obra de ficção não era lá essas coisas.

Reza a lenda que Castelinho era capaz de fazer toda a sua coluna sem ter anotado uma linha da conversa frente a frente com as suas fontes. O modo de falar, comendo as palavras num linguajar próprio, era um prato cheio para os amigos quando ele conversava com Miguel Arraes. Ao seu modo, era um sedutor.

A biografia “Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade” preenche uma lacuna na biblioteca do jornalista. Retrata o modus operandi de uma imprensa que se viu às voltas com o apertar do parafuso da repressão. Da máquina de escrever ao computador, Castelinho contou o que viu e ouviu. Histórias que são a história do Brasil.

Confira abaixo uma parte da obra, disponibilizada pela própria editora Record.