Em Foco 0910

Feriadão e episódios como a morte do cantor Cristiano Araújo servem de alerta para uso do equipamento de segurança nos bancos de trás do veículo.

Silvia Bessa (texto)
Roberto Ramos (foto)

Nem trinta anos tinha. Cristiano era famoso. Sedutor, provocava gritos e choros histéricos nas jovens. A namorada era lindíssima. Os dois estavam apaixonados. Ele morreu ao lado da moça numa tragédia de automóvel na rodovia que liga Goiatuba a Morrinhos, estado de Goiás, há pouco mais de três meses. “Eu ainda não sei o que posso fazer para voltar a ser eu. Estou morto por dentro”, disse o pai João Reis de Araújo, em seu luto. A cobertura jornalística do acidente parou o país, fez desconhecidos chorarem com seu João. No sofá ou diante de computadores, comoção e discussão entre fãs e em quem nunca ouviu falar do cantor sertanejo. Desde 24 de junho, guardo a informação que, no momento do capotamento, Cristiano Araújo e Alanna Moraes estavam sem cinto de segurança, sentados no banco traseiro da Range Rover.
Nesse caso, sei bem, teve o fator velocidade. O motorista estava a 179 km/h antes da batida, indica laudo preliminar da caixa preta. Mas há de se ponderar que o não uso do cinto pode ter contribuído para a fatalidade ter se encerrado de forma tão dura. Sempre se cogita. Assim como Cristiano, no início de julho deste ano um rapaz de 26 anos, de nome Victor Pereira, morreu após acidente de carro no bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife. “A vítima estava no banco de trás e não usava cinto de segurança”, li no noticiário local, conforme informações imediatas dadas na ocasião à Imprensa. Os dois entraram para tristes estatísticas que servem de alerta importante.
Estamos às vésperas de um feriadão, quando as famílias juntam malas, filhos e o desejo de viajar. A gente se preocupa com a roupa para o banho de mar, o lanche das crianças, a cerveja, com a gasolina, hotel ou cama para dormir na casa do parente e acaba por negligenciar a segurança do transporte de nós mesmos, parentes e amigos. Pesquisas comprovam esse nosso – digo, do brasileiro – mau hábito.
Metade da população ignora o uso do cinto de segurança no banco traseiro. Para ser precisa, 50% dos brasileiros não fazem uso do equipamento quando estão na parte de trás do veículo, de acordo com pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A última versão do Código Nacional de Trânsito tem 18 anos. O levantamento revela que avançamos quanto ao uso do cinto dianteiro. O traseiro é problema e dos grandes. O IBGE diz que 79% dos brasileiros assegura utilizar o cinto em automóveis de passeio, vans ou táxis. Quando se trata de banco traseiros, o número despenca para 50%.
Na prática, passamos a ter mais cuidado com aplicação de multas e no banco traseiro a fiscalização é precária. Continuamos longe da maturidade educacional, da consciência da necessidade do equipamento. Uma lástima porque o cinto é funcional: o cinto no banco de trás reduz em 75% o risco de morte do passageiro em colisões, afirmam estudos da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Afora o perigo de morte, os relatos apontam para lesões comuns no tórax, face, ossos.
O cinto traseiro é obrigatório. O Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo nº 105 e uma resolução do Contran (nº 14/98 e alterada pela nº 137/13) exigem cinto de segurança para condutor e passageiro em todas as vias do território nacional. A única exceção é para veículos que transportam passageiros em pé, a exemplo dos ônibus coletivos urbanos. Para reforçar, razões científicas explicam que a força de uma batida faz com que o corpo de um indivíduo pese 50 vezes mais se projetado para frente ou para fora.
Pode ser até estranho no começo para quem não tem esse costume, mas lendo todas as estatísticas começo a achar que certo mesmo é aquele motorista (o marido, mulher ou taxista, que seja) que só liga o motor depois que olha pelo retrovisor e vê adultos e crianças atados pelo cinto de segurança. Porque, como disse o presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, José Aurélio Ramalho, o uso do cinto é muito mais que multas ou lei: “É questão de amor próprio. De sobrevivência.”