25.02

Pesquisa nacional mostra que brasileiro não vê os governos (municipal, estadual e federal) como responsáveis pela proliferação do Aedes aegypti.

Vandeck Santiago (texto)
Ricardo Fernandes (foto)

Para a maioria da população o principal responsável pela proliferação do mosquito Aedes aegypti é… a própria população. O surpreendente dado consta de pesquisa divulgada ontem, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT/MDA). Na opinião de 74,7% dos entrevistados, é o próprio povo que não toma as medidas preventivas que deveria tomar e por isso favorece a ação do mosquito. Para 7,4%, os culpados são as prefeituras. Os que atribuem a culpa ao governo federal somam 6,2%, enquanto para 1% o responsável são os governos estaduais.
Dê-se o prudente desconto que sempre damos às pesquisas, mas mesmo assim estamos diante de um significativo resultado. Na prática, é como se as pessoas estivessem tirando a responsabilidade dos governos no problema e atribuindo aos outros e a si próprias a culpa pelo drama que ela, população, está passando.
O resultado ecoa uma queixa que há anos vem sendo feita tanto por autoridades  quanto pelo povo: a de que as pessoas não tomam as precauções adequadas contra o mosquito e até contribuem para criar um ambiente propício à proliferação dele. Joga lixo em vias públicas, deixa recipientes com água parada etc.
Mas mesmo considerando tudo isso, mesmo considerando que – segundo a pesquisa – é o povo julgando a si próprio, mesmo assim é uma tremenda injustiça atribuir a responsabilidade do problema à população. Cabe aos governos, em suas diferentes instâncias, a responsabilidade pela coleta de lixo (limpeza urbana), pelo saneamento básico (rede de esgotos) e por fazer chegar água encanada às moradias (oferta regular de água) – um trio de ações em cujas deficiências pode proliferar não só o Aedes aegypti, mas diversas doenças. É sabido que onde não há saneamento adequado, as doenças se multiplicam. Sem água encanada, as famílias têm de “estocar” água, prática de consequências conhecidas. Acrescente-se que tudo isso acontece em meio a cidades com urbanização precária e a um clima tropical favorável ao mosquito.
É certo que os governos têm investido nessas áreas. A presidente Dilma Rousseff disse que em seu governo o investimento em saneamento básico passou a ser de R$ 20,5 bilhões por ano, contra R$ 2,5 bi do período em que ela assumiu a presidência. De acordo com os próprios dados elencados pela presidente, era muito pouco o que se investia antes dela. E de acordo com a realidade que a gente vê no país, o que se investe agora ainda não é suficiente. “Nós estamos correndo atrás de décadas de abandono da questão do saneamento”, afirmou Dilma em 13 de fevereiro passado, no Rio, durante o Dia Nacional de Mobilização Zika Zero. Citamos aqui a presidente por que ao governo federal cabe a maior parcela de responsabilidade, mas neste bolo há fatias também pertencentes às prefeituras e governos estaduais. Segundo especialistas, antes da tríplice epidemia (dengue, chikungunya e zika) deveria ter havido uma ação unificada entre municípios, estados e União, programas de informação preventiva e ações enérgicas contra o problema (como se está fazendo agora, até com a participação do Exército).
Não há dúvida que as ações negligentes de parte da população contribuíram para a proliferação do Aedes aegypti. Mas essa contribuição é irrisória quando comparada com a responsabilidade dos governos no problema.