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O atleta Edson Arantes do Nascimento conquistou todos os títulos possíveis na sua carreira. Camisa dez do Santos e da Seleção Brasileira, Pelé só não contava com a rasteira que levou dos vereadores do Recife em 1970, ano em que levantaria o tricampeonato mundial no México.

No dia 6 de fevereiro de 1970, o Diario de Pernambuco anunciava que os edis da capital decidiram, por dez votos a nove, que o jogador não receberia o título de cidadão recifense, proposto por Augusto Lucena. A alegação era de que ele não prestou nenhum relevante serviço à cidade.

O autor do projeto não escondeu a sua decepção. “Não solicitei a outorga para nenhum cafajeste”. o sociólogo Gilberto Freyre também sentiu-se envergonhado, como recifense, pela recusa da Câmara de conceder o título de cidadão recifense a Pelé.

O Diario reproduziu, na sua capa de 7 de fevereiro de 1970, o telegrama que Gilberto Freyre enviou ao editor José Olímpio, no Rio de Janeiro, responsável pela publicação de sua obra, incluindo Casa-grande & Senzala. “Peço ao querido amigo dizer a Pelé que, como recifense, estou envergonhado com a atitude da maioria da Câmara do Recife contra o admirável brasileiro que não somente por sua extraordinária perícia na arte do futebol como por sua nobre personalidade merece todo o apreço de seus compatriotas, inclusive como já foi sugerido à Embaixada de Paris”.’

A ideia de homenagear Pelé como cidadão pernambucano também não progrediu na Assembleia Legislativa. Qual seria o motivo da rejeição dos deputados estaduais e vereadores recifenses ao homem que seria depois considerado o atleta do século 20?

Uma resposta pode ser encontrada no jornal carioca Correio da Manhã de 3 de julho de 1970. O título de uma das matérias da página de Esporte era este: “Pelé é viciado sim: vive enfiando bolinhas no gol”. Era uma resposta a uma afirmação de que Pelé estaria, na época, viciado em estimulantes.

O radialista Luiz Mendes criticou o jornalista Francisco José por ter usado o termo “toxicômano” em uma reportagem sobre Pelé publicada no extinto Diário da Noite, do Recife. “É um perfeito absurdo afirmar que eu revelei uma conversa do Saldanha (João) comigo de que Pelé tomava Dexamil para viver e deu um trabalho enorme aos médicos da seleção para ser desintoxicado. Estou mandando uma carta ao Diário da Noite, desmentindo tudo”, disse Luiz Mendes.

Duas semanas antes desta polêmica, Pelé era abraçado por torcedores que invadiram o estádio Azteca após a vitória sobre a Itália por 4 a 1. Atuou por 540 minutos e marcou quatro gols, inclusive o primeiro da final. Os vereadores que lhe negaram o título de cidadão recifense devem ter se arrependido. Jornalistas também.

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