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Quando em viagem ao estrangeiro, hoje é muito fácil registrar os locais e as pessoas em fotografias e vídeos, informando os familiares e amigos de forma instantânea. Há 180 anos, a preocupação era documentar para a posteridade, em forma de relatos e ilustrações. Tesouros para serem descobertos e valorizados pelas futuras gerações.

Entre 1836 e 1839, um francês percorreu o Brasil, país que há pouco mais de uma década havia se libertado de Portugal. O que ele viu transformou em imagens que, compiladas, resultaram no álbum “Vistas, usos e costumes do Brasil (Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro) e da Ilha de Tenerife”. São 95 desenhos a nanquim que integram o acervo da Biblioteca Nacional.

O francês não foi identificado. De forma anônima, contribuiu para o registro visual de um país escravista. A maioria das imagens retrata o Rio de Janeiro e Salvador, com seu casario e paisagens. De Pernambuco, o farol do Porto do Recife e uma jangada, exótico tipo de embarcação para o olhar europeu. Teria ele não atracado no Recife?

No álbum, no intervalo entre Pernambuco e Bahia, o autor compilou uma série de desenhos de escravos. Pode ser que tenha aproveitado a permanência a bordo no Recife para documentar os afazeres destinados aos negros. Ou que tenha desembarcado e preferido, em vez de prédios, eternizar os escravos. Vale lembrar que, de acordo com levantamento de 1823, a população de Pernambuco era formada por 330 mil  pessoas e 150 mil cativas.

Entre vendedores, carregadores de água e uma cozinheira com um caranguejo na mão, ele teve o cuidado de mostrar um escravo inválido e uma negra livre, com olhar altivo. Seriam todos gente do Recife?

O álbum pode ser visto na íntegra clicando aqui.