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O beco do sarapatel era o ponto de encontro dos fumadores da erva que entorpece. Há 80 anos, o Diario de Pernambuco mapeou os locais onde estava crescendo o consumo de maconha, que começava a ganhar espaço da cocaína pela facilidade de compra. Os “viciados” flagrados eram encaminhados pela polícia para o hospital de doenças nervosas para “as devidas observações”.

Na verdade, o beco do sarapatel era o apelido da Travessa do Carmo, no bairro de São José, segundo o jornal um lugar frequentado por “vagabundos e meretrizes da pior espécie”. A reportagem “Maconha, a herva que entorpece” figurou na capa do Diario em 3 de abril de 1936, com direito a foto de homens e mulheres ao longo da via suspeita. As ruas da Trincheira e do Fogo também constavam como locais onde ocorriam “cenas de sangue, desordem e suicídios”.

A maconha vinha de Alagoas escondida dentro dos trens da Great Western e também servia para rituais de magia. Dois dias depois, em 5 de abril, um domingo, o Diario voltou a tratar da maconha com a reportagem “A herva que envenena”. Desta vez, o tom era mais científico. O diretor da Assistência a Psicopatas e catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina, Alcides Codeceira, alertava para o risco de alteração da consciência.

Desde 1933, a Secretaria de Segurança Pública, em entendimento com a Assistência a Psicopatas encaminhava para o hospital de alienados quem fosse flagrado fumando maconha. Segundo Codeceira, o estado não era produtor da erva. “É o ópio das classes pobres, porque firmou seu domínio nos párias da sociedade”.

Oitenta anos depois, a discussão pela liberação do consumo da maconha ganha força. O excitante orgânico deixou de ser um causador de loucura para ter seu uso atestado na medicina. Mas a polêmica continua.