22.07

 

Abin eleva risco de ataque nos Jogos Olímpicos, enquanto Polícia Federal se desdobra para tentar evitar.

Luce Pereira (texto)
Samuca (arte)

Os últimos acontecimentos levam a crer que o estado de espírito dos cariocas com a proximidade da abertura dos Jogos Olímpicos se assemelha a um caldeirão onde fervilham orgulho, emoção e, claro, muito medo. A onda de calafrios vem de uma ameaça chamada terrorismo internacional, que tem, durante o evento, chances reais de deixar uma de suas mais profundas marcas de crueldade, como se já não fossem inesquecíveis aquelas feitas em cidades da França, recentemente. Sem ilusões, o que se imagina é que o Estado Islâmico deve seguir cumprindo a ameaça de não parar de mirar alvos civis mundo afora enquanto muitos dos países com delegações nestas Olimpíadas se mostrarem disposto a continuar intervindo no Iraque e na Síria.
Impossível não lembrar que em novembro último, logo após os atentados de Paris, um francês chamado Maxime Hauchard, que mudou o nome de batismo para Abou Abdallah al-Faransi e tornou-se membro do alto escalão do Estado Islâmico, postou mensagem no Twitter afirmando “Brasil, vocês são nosso próximo alvo”. Quem não levou a ameaça a sério deve tê-la reconsiderado desde ontem, a partir da prisão de um grupo suspeito de planejar ataques terroristas durante a Rio 2016. A Polícia Federal acredita tratar-se de uma célula do EI no país e investiga, através da Operação Hashtag, a participação de brasileiros em atos de intolerância racial, de gênero e religiosa, além do uso de armas e táticas de guerrilha.
Para piorar um pouco mais o clima de apreensão em terras brasileiras, um grupo extremista que se autodenomia Ansar al-Khilafah Brazil declarou lealdade ao temido Estado Islâmico,nesta semana, passando a criar um canal no aplicativo russo Telegram, concorrente do WhatsApp. É o primeiro no continente sul-americano a fazer este tipo de aliança com o terror comandado por Abu-Bakr al-Baghdadi, de cuja região vêm tantos recados sombrios. Quando, em maio, era lançada em português a plataforma virtual Nashir, de comunicação e propaganda do Jihadismo, para aliciamento de brasileiros à causa, a comissão parlamentar de luta contra o terrorismo na França ouvia o chefe da Direção de Inteligência Militar, general Christophe Gomart, dizer que o Estado Islâmico vinha planejando atacar a delegação do país durante as competições olímpicas no Rio e que um brasileiro estaria envolvido.
Enquanto a PF afirma ter negado a entrada no país de ao menos quatro pessoas suspeitas de envolvimento com práticas terroristas, que estariam tentando credenciamento para os jogos, também garante que sua Divisão Antiterrorismo monitora, dia e noite, os passos de 42 outros suspeitos pelo território nacional. Os olhos dos agentes estão fixos no libanês Ibrahim Chaiboun Darwiche, proprietário de um restaurante na cidade catarinense de Chapecó. Usando tornozeleira eletrônica, o homem é acusado por três crimes -incitação à violência, preconceito religioso e desrespeito à lei de segurança nacional. Teria feito um vídeo defendendo o ataque ao jornal francês Charlie Hebdo (2013) e ficado 87 dias numa parte do território Sírio dominado pelo grupo terrorista.
Ao contrário do que se poderia imaginar, as ramificações do terror também encontram abrigo em ambientes acadêmicos. Preso por quase três anos na França, desde 2009, sob suspeita de envolvimento com a rede Al Qaeda, o físico franco-argelino Adlène Hicheur, acabou dando aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi extraditado, semana passada, pelo governo brasileiro, que até agora já empregou cerca de R$ 1,5 bilhão em esquemas de segurança para o evento. Mas, diante do tamanho da ameaça, cada centavo gasto parece ser absolutamente imprescindível – basta apenas lembrar que numa escala que vai até cinco, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) já colocou o Brasil no nível de risco 4, como potencial alvo do terrorismo durante os Jogos Olímpicos.
O governo bem que tenta acalmar a população e os cerca de 300 mil aguardados turistas, declarando, inclusive, dispor de um efetivo de 85 mil profissionais trabalhando na segurança, além de manter contato com os serviços de inteligência de outras nações. Porém, se os fundamentalistas já deram mostras significativas de que nenhum país parece suficientemente seguro para detê-los, nem mesmo os Estados Unidos, o lógico é acreditar que estamos todos sujeitos a viver, de 5 a 21 de agosto, com o coração apertado.