Em Foco 23.07

Em um ranking de 133 países, Brasil aparece em 123º lugar no quesito segurança, mostra pesquisa.

Vandeck Santiago (texto)
STR/AFP (foto)

Uma cena em particular chamou atenção ontem após os ataques em Munique (Alemanha): a das pessoas deixando a área com as mãos para cima. O gesto era uma medida de segurança, para não criar problemas à identificação de possíveis terroristas entre eles. Mas carrega o peso simbólico de que, em situações onde a segurança do cidadão está vulnerabilizada, quem se rende é a população.
Uma medida tomada logo após os ataques reforça esta compreensão: as autoridades policiais alemãs recomendaram aos moradores que evitassem locais públicos e não pegassem táxi. O transporte de ônibus, bondes e trens foi suspenso. Nas redes sociais foi criada a hashtag ‪#‎Offenetuer‬ (“porta aberta”, em alemão), pela qual moradores disponibilizavam suas residências para abrigar aqueles que não puderam retornar para casa. A polícia também pediu à população que não postasse imagens do ataque nas redes sociais: “Não apoiem os criminosos”.
A sensação de que, neste momento, ninguém está completamente a salvo naquele lugar gera uma sensação de insegurança que em alguns casos e para algumas pessoas pode até ser de pânico. E vejam que não estamos falando de um local sem estrutura, com um sistema de segurança deficiente. É nada mais nada menos que a Alemanha, uma das 10 principais potências do Mundo. E Munique é a terceira cidade mais populosa do país, com mais de 1,3 milhão de habitantes.
Agora, por um momento, nos transportemos para os países mais pobres, para a América Latina, para o Brasil. A edição 2016 do Índice de Progresso Social (IPS), que acaba de ser divulgada, mostra o Brasil nas últimas posições no quesito “segurança pessoal”. Entre 133 países, o Brasil ocupa a 123ª posição do ranking nesse item. O IPS é produzido pela organização global sem fins lucrativos Social Progress Imperative. O ranking classifica os países não pelo PIB, mas pelo seu desenvolvimento social e ambiental. Tem como um dos seus principais criadores o professor Michael E. Porter, da Harvard Business School. O índice não é uma daquelas catalogações exóticas, que dão manchetes mas não têm reputação. Ao contrário: trata-se de uma classificação já levada em conta por autoridades e instituições.
Nossa posição em segurança se destaca porque no ranking global do IPS o Brasil está bem na fita: estamos entre os 50 melhores colocados, ocupando a 46ª posição, acima dos integrantes do chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O primeiro colocado da lista é a Finlândia.
A posição do Brasil o situa na faixa dos que têm médio-alto progresso social. Mas quando a área utilizada é a segurança, caímos para o 123º lugar – permitam-me a ênfase: nos 10 últimos lugares. É o nosso pior indicador (em acesso à moradia, por exemplo, também temos problemas, mas a colocação é menos ruim: 96ª).
Todos nós brasileiros temos em nosso cotidiano a tradução desse número, que espelha a nossa insegurança. Em nosso caso, não é o terrorismo, mas a violência pontual. Que se manifesta numa intensidade tal que ninguém se sente completamente a salvo, independentemente de onde esteja ou do horário. Aquela coisa de estar sempre sujeito a um assalto, a uma agressão com arma, a uma violência letal. Basta projetar isso para cada um de nós e para nossos familiares e pessoas queridas e temos aí uma sensação de insegurança entranhada em todos nós, que só se reduz quando estamos todos em casa.
O resultado do Índice de Progresso Social 2016 sugere que o Brasil e países da América Latina deveriam ter como prioridade neste momento o progresso social, destacando as questões de segurança e acesso ao ensino superior. Ressalta que as dificuldades econômicas não podem ser obstáculos irremovíveis para a melhoria de vida dos seus habitantes.
O que fez aquelas pessoas levantarem as mãos após o trágico acontecimento de Munique, ontem, foi a violência do terrorismo. O que nos faz também andarmos simbolicamente com as mãos para cima é a violência nossa de cada dia. Não é que uma seja superior à outra. São ambas faces de uma realidade que mostram a precariedade da vida em momentos e ambientes onde o perigo pode aparecer a qualquer instante.