Crédito: Fundação Joaquim Nabuco/ Coleção Josebias Barbosa

Crédito: Fundação Joaquim Nabuco/ Coleção Josebias Bandeira

Há 90 anos, os recifenses podiam se orgulhar de suas praças e parques, tanto que eles figuravam em cartões-postais para serem conhecidos alhures por amigos e parentes. Com 240 mil habitantes, a capital pernambucana iniciava a segunda década do século 20 com um rápido processo de urbanização. O cotidiano mudava com os serviços de coleta de lixo e de saúde pública, novas ruas e avenidas eram abertas e casas populares ganhavam espaço no que antes era mangue. A reforma urbana visava acabar com os traços coloniais do Recife. No lugar do sobrado de herança portuguesa, o edifício parecido com os de outras metrópoles do mundo.

O processo de “embelezamento” do Recife passava pela melhoria dos seus logradouros. Em 1925, o Parque do Derby começava a ganhar forma. Seria mais um local para os passeios das pessoas bem vestidas. É neste período que começaram a ser vendidos os ditos cartões-postais, reproduções de fotografias em preto e branco, com as áreas verdes recifenses. A “Praça” do Derby já estava presente, com muitas árvores e equipamentos de ginástica. Outra imagem destacava a Ilha dos Amores, um pequeno pedaço de terra cercado por um laguinho, espaço romântico por excelência.

Nos postais, hoje pertencentes ao acervo da Fundação Joaquim Nabuco, integrando a coleção Josebias Bandeira, pode-se ver ainda duas imagens do Parque Amorim e seus eucaliptos, a Praça 13 de Maio, a Praça da Independência, a Praça da República, a Praça Oswaldo Cruz e a área em frente à Sétima Região Militar, na Rua do Hospício. Lugares que se mantêm até hoje, mas com muitas modificações em sua estrutura.

No dia 1 de fevereiro de 1920, o Diario de Pernambuco trouxe uma crítica feita por Anibal Fernandes – que depois se tornaria diretor do jornal – na seção “De uns e de outros” a respeito do processo de modernização do Recife. Para ele, a cidade, além de mais áreas verdes, também precisaria de boas maneiras.

“A civilização obriga a certos hábitos de que se não pode prescindir. Recife tem de se civilizar porque o progresso é fatal como o crescimento e não é possível que uma cidade como esta, de quase 300 mil habitantes, primeiro porto em que tocam os navios vindos da Europa, não vá para diante. Tem de ir. Pode custar ainda um pouco, mas tudo indica que lhe está reservado um belo futuro. Ora, uma coisa de que precisamos, como de árvores, de jardins, de parques, de hotéis, de automóveis baratos, de calçamento e de construções, é de ‘maneiras’. O Recife é uma cidade sem ‘maneiras'”, criticou Anibal. Quase 100 anos depois, ele ainda tem razão?