Uma redação de jornal é um mundo à parte. Além dos fatos registrados nas páginas em papel e agora na internet, circulam nas salas e corredores as histórias que ficam apenas para consumo interno. Episódios curiosos e engraçados da apuração que entram para o folclore da profissão. E tem também seus personagens. Zadock Castelo Branco figurava neste time. No Diario de Pernambuco reinou por décadas, sempre recepcionando os novatos espantados com aquela figura careca que às vezes – muitas, na verdade – incorporava um tocador de jazz com seus solos de boca.

Mestre dos apelidos para os outros, Zadock representava o espírito da velha guarda em uma profissão cada vez mais pressionada pelos horários e pelas postagens do tudo em tempo real. O tempo de Zada era outro. Acreditava que só podia acessar a internet do seu computador. Nem adiantava explicar que a máquina do lado funcionava da mesma forma. Era freguês do suporte técnico, mas sempre tinha alguém para quebrar o galho neste admirável mundo novo, que também já era o dele.

Cheio de histórias, orgulhava-se de não precisar pesquisar nada para escrever seus textos. Era só dar o mote que ele desenvolvia. Reza a lenda que ele inclusive escrevia falas de políticos já sabendo o que eles iam responder. Depois consultava os próprios para referendar o que já havia ele próprio pensado. Zadock era um animal político. Tanto que circulava na Assembleia Legislativa como um deputado. Atribuem a suas manobras – como impedir um parlamentar de se pronunciar em plena votação – a criação de um cercadinho para os jornalistas. Depois de Zadock, nada seria como antes.

Não importava a conversa, Zadock tinha sempre o que falar. Só era previsível quando falava do Sport. Por outro lado, era enciclopédico quando o assunto era música, principalmente o jazz. Neste vídeo de 2011 dá para perceber quem era Zadock na redação. Entrava na dança quando solicitado. Ou não.

Na tarde de quinta-feira, já aposentado e morando em Bonito, jogando seu dominó, Zadock encerrou sua participação aos 74 anos de idade. Não havia se desligado completamente do jornal. Toda semana alguém na redação atendia um telefonema de alguém querendo saber notícias do Sport ou de política. Era Zadock. Sempre ele.