25.08

 

Jogo japonês que virou febre mundial já provocou mortes, violência e notícias estranhas.

Silvia Bessa (texto)
Ricardo Fernandes (foto)

Qualquer dia pai e mãe chegarão em casa no final da noite, sentarão à mesa para jantar e haverá pokémons esperando um queijo bem passado com ovos mexidos. Estarão apressados porque o novo episódio da série preferida está para começar. Os filhos estarão caçando rua afora. Esses seres invisíveis que habitam muito além dos celulares e se infiltram na vida real estão impossíveis e não sei se quero ver quais serão as consequências da presença deles entre nós. O problema é que optar por não baixar o aplicativo de origem japonesa que cria realidades ampliadas parece não ser suficiente. Somos todos parte de um cenário ou espectadores. Se duvida, acompanhe as últimas de uma semana de notícias estranhas misturando dois mundos:
Ontem foi divulgada a nova edição do programa Olha! Recife a pé, que busca sensibilização para atrações turísticas da capital pernambucana. O tema deste domingo, dia 28: Painéis, bustos, esculturas e Pokémons. O roteiro, anunciado para começar às 9h30, prevê passeios aos bairros do Recife, Boa Vista e Santo Antônio, onde serão visitados monumentos, praças, locais considerados lendários ou históricos. Nesse caso, Frei Caneca dividirá atenção com os bichinhos do game (www.olharecife.com.br). Mais surreal só os relatos trágicos.
O Japão registrou nesta quinta-feira a primeira morte vinculada ao aplicativo que virou febre mundial – e brasileira, no caso, desde o dia 3 de agosto deste ano quando foi liberado no país. O como da morte: o japonês Kenju Goo, de 39 anos, estava dirigindo pela estrada na cidade de Tokushima, sudoeste do país ao mesmo tempo procurava as animações. Atropelou duas mulheres, uma de 71 anos e outra de 60 anos. Uma delas morreu e outra está hospitalizada com uma lesão no quadril. Diz a Agência Nacional de Polícia que se somam 79 registros de acidentes de automóveis e bicicleta ligados ao Pokémon Go – jogo que usa a geolocalização de GPS para buscar uma das 250 criaturas espalhadas pelo mundo real.
Dentro de mais algum tempo os incidentes começarão a surgir em Caruaru e em toda cidade em que haja internet. É bom que se diga que se usa aqui como exemplo Caruaru, município agrestino, porque ontem surgiram informações de que se somam quatro assaltos em virtude do uso do celular e do Pokémon. Poderia ser Solidão, no Sertão, Ribeirão, na Zona da Mata pernambucana, ou qualquer outra.
Aqui no Recife, viu-se na última terça-feira um morto e um ferido em uma tentativa de assalto a grupo que jogava Pokémon no entorno da Praça do Arsenal, que fica no Bairro do Recife. Era 20h45 e o caso ficou no boletim policial. Um militar estava à paisana integrava o grupo. Reagiu e atirou nos dois suspeitos. De acordo com informações iniciais, os dois levavam consigo uma imitação de pistola.
Daqui a um tempo haverá assalto monitorado pelo sistema de geolocalização do jogo, onde serão escolhidos locais com mais vítimas. Não seria novidade. Lá nos EUA, precisamente em O’Fallon, no Mussouri (EUA), quatro homens tiveram essa ideia e foram presos.
Isso para não falar do impacto não mensurado ou contado. Ouvi com certo lamento uma família hesitando em ir ou não domingo passado para um passeio tradicional no meio da tarde no Parque da Jaqueira. Uma senhora, de 81 anos, ponderava: se há muito jovem jogando Pokémon, não haverá mais perigo de assalto? Ninguém ousou dar respostas.