05.09

Cientista pernambucano Frederico Simões Barbosa formou diversas gerações de pesquisadores.

Sinval Pinto Brandão Filho* (texto)
Arquivo Fiocruz (foto)

Este ano a comunidade científica brasileira celebra o centenário de Frederico Simões Barbosa, um grande cientista brasileiro. Pernambucano nascido no Recife em 27 de julho de 1916, filho e neto de médicos, Frederico graduou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina do Recife (atual Universidade Federal de Pernambuco) em 1938, tornando-se doutor em medicina por essa escola em 1943. Vocacionado para a pesquisa, fez estudos de pós-graduação na Universidade de São Paulo em 1939. Em 1945 realiza um Master in Public Health pela Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, estagiando ainda no Museu de História Natural de Washington e na Universidade de Michigan, nas áreas de entomologia e malacologia. Em 1966, tornou-se professor titular concursado de Higiene e Medicina Preventiva. Em sua extensa e brilhante carreira no país, foi também professor titular de Medicina Comunitária da Universidade de Brasília, 1972-1981, de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Carlos, 1982, e professor titular concursado de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1983, onde lecionou e liderou diversos programas e iniciativas inéditas, entre elas a criação dos Cadernos de Saúde Publica. Com sua liderança de Scholar, formou diversas gerações de pesquisadores, orientando várias teses e atraindo com sua liderança pesquisadores de diversas origens e formação.
Principal artífice da criação do Instituto Aggeu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, foi seu primeiro diretor e fez da esquistossomose o principal objeto de suas investigações, considerando a importância da doença para todo o Nordeste, por seus elevados índices de prevalência, morbidade, mortalidade e impacto socioeconômico para a região. Estudos pioneiros sobre ensaios com diferentes moluscicidas para controle do caramujo transmissor da esquistossomose e hospedeiro natural do Schistosoma mansoni, estudos sobre diferentes aspectos da patologia experimental e humana e suas relações com a desnutrição, além de alguns trabalhos iniciais sobre filariose linfática, projetaram o Instituto Aggeu Magalhaes no cenário científico do Brasil e do exterior. Sob sua liderança, a comunidade cientifica passou a reconhecer a importância do Instituto Aggeu Magalhães, intensificando-se, ano após ano, as visitas e os estágios de outros pesquisadores do Brasil e do exterior. Após deixar a direção do IAM, período que coincidiu com a promulgação do AI5, trabalhou entre 1969-1971 como perito em Doenças Parasitárias da OMS em Genebra (Suíça), coordenando o programa de esquistossomose e avaliando programas e projetos de pesquisa em vários países, sobretudo da África.
Durante sua fecunda trajetória publicou centenas de artigos científicos, além de livros e capítulos de livros. Com sua liderança, foi um dos principais artífices e sócio fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical em 1962 e da Associação Brasileira em Saúde Coletiva (Abrasco), em 1979, além da Associação Brasileira de Educação Medica (ABEM) nos anos 80. Como sanitarista, deixou importante contribuição, coordenando projetos memoráveis e pioneiros de integração docente-assistencial realizados em Pernambuco, Brasília e Espírito Santo. Sua bela e brilhante trajetória pode ser bem sintetizada quando, a propósito de estudos epidemiológicos a serem realizados em situações de limitações de vários tipos, dizia ser necessário, muitas vezes, “trocar a complexidade pela simplicidade, a extensão pela profundidade, a rígida e cega padronização técnica pela criatividade, a alienação por uma visão comprometida com melhores condições de vida para a população”.

* Pesquisador o Diretor do IAM/Fiocruz