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Em Olinda, um projeto de yoga e meditação transforma meninos e meninas da comunidade V8.

Marcionila Teixeira (texto)
Igo Bione (foto)

Um assalto mudou o destino de Aura Maximiliano, 27 anos. Aconteceu em Olinda. Roubaram dela e do companheiro, o dançarino e coreógrafo Otávio Bastos, um notebook repleto de informações sobre projetos profissionais do casal. Nascida em São Paulo, Aura pensou em dois caminhos. Mudar-se da cidade ou permanecer para ajudar a mudar o cenário de violência em Olinda. Optou pela segunda alternativa. Criou a ONG Inova aí e colocou em prática sua ideia. Escolheu um bairro pobre da Cidade Patrimônio da Humanidade e começou a repassar para crianças técnicas de meditação e yoga. Os resultados da iniciativa ela percebe há um ano e meio, quando iniciou os trabalhos no Centro de Assistência Social Sandra Moraes, na comunidade V-8, no bairro do Varadouro.
Segundo Aura, que é publicitária e arte-educadora, a meditação e a yoga são as maneiras mais efetivas de diminuir a violência, segundo pesquisas realizadas em todo o mundo. Ela própria pratica desde os 16 anos. Com muita calma, repassa todas as terças-feiras, das 8h30 às 10h, posturas e técnicas de relaxamento da yoga. Cerca de 25 crianças participam da aula. “Começamos a buscar sobre essa cultura de paz e de valores humanos que tanto falamos, mas que vemos pouca prática, e como isso poderia ser inserido num ambiente tão violento. Estudamos e vimos os incríveis resultados de pesquisas realizadas no exterior”, ressaltou a publicitária.
A sala é quente e pequena, mas os meninos e meninas, com idades variando entre 7 e 11 anos, parecem bem atentos às orientações de Aura. Logo no início, ela pede para as crianças, sentadas em colchonetes, esticarem os braços para o alto como se quisessem tocar o céu. Em seguida, pede para cada um massagear o próprio rosto, uma técnica para acordar. As orientações continuam durante uma hora e meia até que as crianças surpreendem ao terminar mais um dia de yoga bem mais relaxados.
Um dos momentos mais bonitos da prática é exatamente o final. Deitadas, algumas crianças fecham os olhos e entoam baixinho e em coro o moola mantra, tradicionalmente cantado por crianças indianas. Para José, a experiência deixa ele de bem com a vida. “Às vezes, chego aqui triste e termino ficando feliz”, confessa o menino. Rayssa, 8, diz levar a cantoria para casa. Daise, 10, afirma que suas dores no corpo passam. “Às vezes a gente joga queimado e se machuca. Depois da yoga, minhas dores acabam”.
Para Aura, os resultados são claros. “Tem crianças que chegavam caladas e tristes. Com o tempo, começaram a se soltar e participar dos movimentos. Uma das crianças certa vez perguntou se não tinha como ensinar tudo aquilo para a mãe dela também se acalmar. Também temos familiares que nos procuram para comentar sobre a mudança de comportamento das crianças. Os meninos e meninas estão mais carinhosos entre eles. As notas na escola também melhoram”.
A ONG Inova aí não tem sede. Hoje conta com a ajuda de cinco voluntários e pretende estender suas ações para o bairro do Coque, no Recife. A ideia, diz Aura, é contar com ajuda financeira de parceiros para investir em lanches para as crianças, além de passagens e outros custos. “Acreditamos que a infância é um dos estágios mais importantes para formação de um adulto consciente e amoroso”.
Como o instituto sobrevive apenas de doações, as pessoas podem contribuir para a continuidade do trabalho através do apadrinhamento de crianças, de financiamento coletivo ou mesmo através de depósitos no Banco do Brasil, agência: 2365-5, conta: 75955-4, CNPJ: 22.554.665/0001-80, razão social: Instituto Inova Aí!. Quem desejar participar da ação, pode obter mais informações no www.inovaai.org ou no www.facebook.com/institutoinovaai.