06.02

 

Número de jovens hospitalizados com problemas relacionados ao álcool aumenta nessa época do ano.

Marcionila Teixeira (texto)
Samuca (arte)

Prévias carnavalescas em Olinda a todo vapor, música alta, multidão e, repentinamente, Priscila (nome fictício), 22 anos, desaba no chão, desacordada. O domingo terminou na cama de um hospital para a garota.
Ao longo da tarde, Priscila consumiu, sozinha, uma garrafa de axé – bebida produzida artesanalmente na Cidade Alta e com alto teor de álcool – e uma cerveja. A sorte da jovem foi ter por perto pelo menos uma amiga para lhe levar a uma unidade de saúde particular. As outras meninas decidiram voltar para casa. Na sala do médico, a amiga ainda temia o pior. Ser discriminada pelo profissional porque tentava ajudar uma pessoa embriagada. Após medicada e receber glicose na veia, a jovem voltou para casa, ainda com claros sinais de embriaguez.
Histórias como a de Priscila aumentam nessa época do ano e se multiplicam nos leitos dos hospitais. Esbarrar com um arrastão nas ladeiras não é o único risco das prévias carnavalescas. A bebida alcoólica, legalizada pela mesma sociedade que não aceita abertamente o uso de outras drogas, entorpece e coloca jovens em risco.
Quem costuma alertar sobre os perigos do uso descontrolado do álcool é o cardiologista Carlos Japhet. Experiente em atendimento nas emergências públicas do estado, ele confirma o aumento de casos de jovens desacordados por conta de bebida. E avisa: na verdade, a prática mais comum é misturar excesso de álcool com energéticos líquidos. Essa combinação não vale apenas para o uísque. Também tem sido usada na cerveja. E isso aumenta os riscos para a saúde. Principalmente para o coração.
Esqueça as complicações mais simples de uma bebedeira descontrolada e pouco frequente, como dor de cabeça, náuseas, vômito e diarreia. Os riscos maiores apontados pelos médicos são a fibrilação atrial, quando o coração bate acelerado ou irregular, e a oscilação da pressão arterial. A perda súbita da consciência e até uma crise hipertensiva seguida de um AVC são algumas consequências dessas situações. “Hoje em dia não vemos diferença nas emergências. Tanto homens quanto mulheres têm chegado para atendimento em quantidade parecida”, ressalta o médico.
Como proibição de pais e responsáveis muitas vezes não funciona, partir para a redução de danos pode ser o melhor caminho. A dica mais conhecida, porém útil, é alimentar-se bem antes de seu estômago sofrer a agressão do álcool. O ideal é comer algo sem gordura e optar por frutas, mais fáceis do organismo digerir. Evitar, então, batatas fritas e churrasquinho. E sempre tomar água, em meio ao consumo de álcool, para hidratar o corpo.
Pesquisas médicas apontam que o ideal para um consumo dito equilibrado são três doses de uísque, três latinhas de cerveja – não vale latões – e quanto ao vinho, meia garrafa. “E lógico, não é para misturar tudo para não se intoxicar. Outra coisa: o jovem adora vodka. Isso porque coloca suco ou mesmo laranjada para não sentir o gosto do álcool. Por isso que a maioria dos jovens inicia-se na bebida com a famosa caipirosca”, ressalta Carlos Japhet.
Partir para as prévias com pessoas de confiança, prontas para apoiar você no caso de um mal estar em virtude de excesso de bebida, é essencial. A turma pode até combinar de alguém ser o amigo da vez e beber menos ou mesmo não beber naquele dia. Priscila teve sorte. Mas poderia ter ficado no meio da rua. Com todos os riscos ofertados por essa situação. Sororidade, para as meninas, e pensamento na redução de danos, para todos, podem deixar as prévias bem mais saudáveis.