O aparecimento de quatro esqueletos humanos retirados do mar, no trecho de Piedade, entre junho e novembro de 1966, fez o Diario de Pernambuco soltar um alerta: o litoral do estado estava sob a ameaça de ataques de tubarão? Havia algum perigo para os banhistas?

Há 51 anos, o médico e esportista Ziul de Moura Soares afirmava ao jornal, na edição de 17 de novembro de 1966, que já havia risco de alguém ser mordido se ousasse ir além da segurança dos arrecifes. “O cação poderá vir à praia numa maré alta, não devendo, por isso, o banhista arriscar-se em tomar banho com o mar violento”, disse ele, citando o diretor do Instituto Oceanográfico da Universidade Federal de Pernambuco, Lourinaldo Barreto Cavalcanti.

A polêmica havia começado um mês antes. Em 8 de de outubro, o Diario tentava esclarecer que as zonas próximas a Boa Viagem e Piedade não estavam povoadas de “grande e velhos tubarões”. Além do especialista da UFPE, mergulhadores garantiam que a informação de mortos por este tipo de animal era infundada.

Mas o medo era maior do que a razão, principalmente depois das declarações de Ziul de Moura Soares. No dia 24 de novembro, o Diario procurou encerrar a questão trazendo reportagem com o título: “Pura balela denúncia da existência de tubarões em Boa Viagem e Piedade”.

A garantia era dada pelo comissário da Delegacia de Boa Viagem, Lourival Paz, que afirmava ao jornal não ter registro nos livros oficiais de nenhum banhista atacado pelos “peixes ferozes”. As ossadas que apareceram eram de pessoas vítimas de afogamentos que foram devoradas depois por pequenos peixes e crustáceos”.

Para o comissário, citado em uma nota do jornal do dia 27 de novembro de 1966, “o que mata gente nas praias é cachaça. Afogados de cana também acabam afogados no mar”.

O medo de ataques de tubarões em Pernambuco tornou-se uma triste verdade a partir de 1992, quanto tiveram início os registros de surfistas e banhistas mordidos no litoral do estado, com 63 ocorrências até 2016 em um trecho de 32 quilômetros entre Olinda e Jaboatão, com um total de 24 mortes. Até Fernando de Noronha entrou no mapa.

Na verdade, o medo da presença de tubarões na Praia de Piedade vem de longe. Os “predadores dos mares” já haviam feito uma vítima há quase 70 anos. No dia 11 de outubro de 1947, o Diario trouxe a história de um frade carmelita arrastado para o fundo do mar por um tubarão.

O corpo foi devorado do tórax para baixo. Frei Serafim estava com um grupo de religiosos quando foi atacado. Alarmados, os outros frades tentaram socorrê-lo, mas ele desapareceu. Pescadores viram o animal aparecer na superfície com tal ímpeto que arrombou a rede. Frei Serafim tinha 27 anos de idade. Esta história já foi contada em detalhes no blog. Ficou curioso? Leia aqui.