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Hoje nome de rua no Recife, há 150 anos morria uma mulher que cortou os cabelos, vestiu-se em trajes de primeiro sargento e se apresentou ao alistamento dos Voluntários da Pátria do Piauí para lutar na Guerra do Paraguai. A cearense Jovita Alves Feitosa, aos 17 anos de idade, de família humilde, tornou-se um símbolo contra a sociedade brasileira da época, que reservava ao feminino apenas funções domésticas.  Em 1865, Jovita tornou-se uma espécie de celebridade, tendo sua foto publicada nos jornais e dividindo opiniões: uma mulher pode lutar ao lado dos homens? No Diario de Pernambuco de 30 de setembro daquele ano, ela era citada como “uma jovem que trocou o dedal e agulha por farda e espada”. Na véspera deste Dia Internacional da Mulher, teve o seu nome aprovado para ser incluído no Livro dos Heróis da Pátria.

Apesar da polêmica, Jovita foi destinada a um hospital militar, usando farda com saiote. Sua imagem transformou-se em propaganda de guerra, com seu retrato sendo vendido como uma espécie de cartão-postal. Em 1867, assim como surgiu de forma repentina, Jovita desapareceu. Uma versão aponta que ela teria se suicidado em 9 de outubro daquele ano, ao ver-se esquecida depois de tanta atenção e presentes. Outra história é de teria realmente embarcado para o Paraguai, a bordo do vapor Jaguaribe, tendo morrido na batalha de Acosta Ñu.

Jovita não foi a única brasileira a querer pegar em armas na Guerra do Paraguai. A participação feminina no maior confronto armado na América do Sul aos poucos vem sendo destacada pelos historiadores. Surgem então nomes como a pernambucana Maria Francisca da Conceição, que ficou conhecida pelo apelido de “Maria Curupaiti”. Natural de Pajeú das Flores, seguiu para o Paraguai acompanhando o marido, um cabo de esquadra do Corpo de Pantaneiros do Exército.

Como havia a proibição da presença feminina nas tropas, no dia de embarque, na madrugada de 1º de setembro de 1866, Maria cortou os cabelos, vestiu um uniforme do esposo, arranjou um boné e conseguiu acompanhar o pelotão. No ataque ao forte Curuzu, tomou as armas, cinturão e cartucheira de um soldado morto e avançou com a artilharia. Mesmo vendo o seu marido ser morto, Maria invadiu a fortaleza e travou combate corpo a corpo usando a baioneta. Só depois da vitória deu sepultura ao companheiro de vida e de armas.

Ferida no avanço a Curupaiti, a sua condição de mulher teria sido finalmente descoberta no hospital de campanha. Admirados com a sua bravura, os companheiros do 42º Corpo de Voluntários da Pátria dão-lhe o apelido. Depois da guerra, ela não retorna a Pernambuco. Fica no Rio de Janeiro, onde teria falecido na década de 1930, à míngua. Tornou-se nome de rua em São Paulo.