19.06

 

Em Barreiros, ele já teve um grupo de resgate independente e hoje é da Comissão de Defesa Civil.

Marcionila Teixeira (texto)
Roberto Ramos/DP (foto)

Existe um homem cuja maior satisfação na vida é salvar as pessoas. Tirá-las dos apuros das enchentes, dos incêndios, dos afogamentos, dos desabamentos. Sempre fez isso sem desejar receber qualquer dinheiro em troca. Desde 2000 tem sido dessa forma. Tanto que Amaro Joaquim Galdino é mais conhecido como Mário do Resgate. Esse homem de natureza especial mora no município de Barreiros, mesmo lugar onde nasceu há 49 anos, na Zona da Mata Sul pernambucana.
Pergunte a qualquer pessoa se ela prefere ficar milionária ou salvar seus semelhantes e a resposta tem grandes chances de ser a primeira opção. Não para Mário do Resgate. Assim garante ele. A história desse homem, ex-militar da Aeronáutica, tem tanto de heroísmo quanto de altruísmo. Nas quatro grandes enchentes ocorridas em Barreiros (2000, 2010, 2011, 2017) ele salvou idosos, bebês e um sem número de pessoas desesperadas diante do perigo de perderem a vida e os bens materiais.
Na primeira vez, há 17 anos, Mário juntou-se a oito amigos para prestar socorro aos seus conterrâneos. Diante da calamidade ocorrida depois do temporal na Mata Sul, os bombeiros estavam mobilizados nas cidades vizinhas e a demora na chegada da equipe exigia uma solução rápida dos moradores. A mobilização do grupo de voluntários foi tamanha que Mário esqueceu a própria casa. Na época, perdeu tudo, inclusive um salão de beleza, e precisou ficar abrigado junto com a mulher e os filhos.
Dali em diante, todas as vezes que a chuva mais forte atingia a região ou outros episódios do tipo davam o sinal de alerta, a população chamava Mário do Resgate e sua equipe de voluntários. “Compramos uma roupa vermelha, começamos a fazer educação física todos os dias e muitas pessoas se interessaram em participar de forma voluntária. Chegamos a 68 integrantes, entre homens e mulheres, todos maiores de 18 anos, e passamos a ser chamados de Grupo de Resgate de Barreiros”, lembra.
A iniciativa tornou-se poderosa a ponto de ser registrada como ONG e ganhar uma sede. A fama dos voluntários chegou à Alemanha, de onde vieram doações e mantimentos para fazer a engrenagem daquela rede de solidariedade funcionar. Até que em 2010, uma nova grande enchente acabou com tudo que o grupo tinha conquistado. Daquela data em diante, o sonho de Mário é retomar o GRB. A tarefa não é fácil. Eles precisam, entre outras coisas, de fardamento, roupa de mergulho, colete, material de resgate, barco inflável. “Chegamos a perder oito voluntários, um deles em um desabamento de barreiras e outros por doenças. A gente corria muito risco, mergulhava em água suja sem equipamento mesmo, na tora, pegava corpo em decomposição. A gente resgatava corpo no rio com pedaço de isopor. Eu próprio quase morri preso em galhos debaixo da água, em 2008”, lembra.
A história de luta voluntária de Mário lhe rendeu o cargo de coordenador da Defesa Civil de Barreiros, posição que ocupa desde o início deste ano. Nas últimas chuvas de maio, ele soube da enchente com oito horas de antecedência, através da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). Rapidamente, às 6h, procurou a rádio local para avisar do risco para os moradores das áreas ribeirinhas. Cerca de cinco horas depois, voltou ao mesmo meio de comunicação para avisar do risco para os comerciantes do centro da cidade. Quem seguiu a orientação conseguiu salvar grande parte dos bens materiais.
Outra iniciativa importante foi avisar dos riscos de enchente para o padre, que logo partiu para tocar o sino sucessivas vezes, um sinal de alerta já conhecido entre os quase 50 mil moradores de Barreiros. Segundo Mário, 17.200 pessoas terminaram desalojadas e outras 169 ficaram desabrigadas. Hoje, 42 famílias ainda estão em abrigo improvisado pela prefeitura na quadra do IFPE. Sem o trabalho de Mário do Resgate, a situação poderia estar ainda mais grave. Um salve ao grande Mário.